De onde surgiram algumas das características genéticas comuns nos europeus?

19/06/2015 às 04:213 min de leitura

Existe um consenso de que os nossos ancestrais mais antigos surgiram na África — possivelmente há 2,8 milhões de anos — e que os humanos modernos começaram a se espalhar pela a Europa e algumas regiões da Ásia há cerca de 40 mil anos. A grande maioria tinha olhos castanhos e pele morena, e praticamente todos eram intolerantes à lactose. Em outras palavras, ainda não havia muita variedade genética entre esses povos.

Entretanto, apesar disso, quando deixaram a África, alguns desses humanos modernos já traziam algumas mutações genéticas — que foram sendo disseminadas pelas populações que se estabeleceram na Europa e Ásia. E essa disseminação toda acabou dando origem a várias características comuns nos europeus atuais e seus descendentes, como é o caso da pele e os olhos claros, bem como da tolerância à lactose. Mas, como exatamente tudo isso aconteceu?

Evolução ininterrupta

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Quando pensamos a respeito da evolução humana, é importante lembrar que ela continuou acontecendo ao longo dos milênios — e continua até hoje! Sendo assim, muitas culturas que surgiram ao longo da história da civilização humana também foram sofrendo mutações, e contribuíram com sua variedade genética ajudando a “construir” os humanos atuais.

Segundo Daniel Zadik do portal The Conversation, existe um padrão de culturas que surgiram, evoluíram e se tornaram dominantes ao longo da História, como foi o caso dos antigos povos gregos, romanos e bizantinos, por exemplo. Mas, evidentemente, antes deles, muitas outras culturas passaram pela Terra e, conforme revelou um estudo recente, não é nada fácil determinar quais características genéticas presentes na população atual vieram de quem.

Distribuição genética

undefinedRepresentação de povos da Idade do Bronze

Segundo Daniel, a Idade do Bronze — período que teve início por volta do ano 3 mil a.C. — foi palco de muitos avanços. Na época, cada vez que alguém inventava algo novo, essa tecnologia permitia que uma maior parcela da população se beneficiasse e, por sua vez, que essa cultura acabasse dominando outra. Isso acabou influenciando o “mapa” das variações genéticas, resultando em uma população geneticamente mais uniforme ao final da Idade do Bronze.

Uma das culturas que foram particularmente importantes nesse processo — de disseminar novas tecnologias e variações genéticas — durante a Idade do Bronze foi a Yamnaya. Oriunda das estepes do que hoje corresponde à Rússia e a Ucrânia, essa cultura desenvolveu tecnologias como a roda e o uso de cavalos e, conforme foi migrando pela Europa, introduziu essas novidades aos povos europeus do neolítico que já estavam desenvolvendo a agricultura.

Influências

undefinedRepresentação de povos do neolítico

Curiosamente, de acordo com Daniel, quando os pesquisadores compararam o material genético de várias culturas europeias da Idade do Bronze com o dos povos Yamnaya e dos “fazendeiros” do neolítico, os resultados revelaram que a maioria dos fósseis trazia uma verdadeira salada genética com ingredientes de todas essas culturas.

Entretanto, as proporções eram variáveis, e as culturas do norte da Europa eram as que traziam mais traços dos Yamnaya em seu genoma. As análises também revelaram que os povos que habitaram a parte central da Ásia eram geneticamente muito semelhantes aos Yamnaya, indicando que, na região, provavelmente ocorreu pouca miscigenação com outras culturas.

Mas, como é que características que praticamente não existiam nos nossos ancestrais que vieram da África — como a pele clara e a tolerância à lactose — se tornaram tão prevalentes? Para saber, os pesquisadores voltaram ainda mais ao passado.

Retorno às origens

undefinedRepresentação de povos do mesolítico

Segundo explicamos em um artigo aqui do Mega Curioso, o primeiro indivíduo com olhos azuis da História nasceu na região do Mar Morto entre 7 e 10 mil anos atrás. Ele era portador de uma mutação e foi o único responsável por passar esse acidente genético adiante.

No entanto, de acordo com Daniel, nenhum dos fósseis dos Yamnaya que foram avaliados trazia essa mutação, portanto, os pesquisadores concluíram que ela deve ter sido disseminada ao resto da população pelos humanos modernos que chegaram à Europa e se espalharam pelo continente durante o mesolítico.

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Por outro lado, o estudo apontou que as mutações responsáveis pela cor da pele clara eram bem raras entre os povos do mesolítico, embora estivessem presentes na maioria dos povos que ocupavam a Europa e as estepes da Ásia durante a Idade do Bronze. Nesse caso, como esses territórios receberam um grande fluxo de pessoas vindas da região que corresponde ao Oriente Médio nessa época, é possível que essa variação genética tenha vindo com elas.

E as mutações provavelmente prevaleceram por conta da seleção natural, e segundo os pesquisadores, essas variações genéticas permitiam que a vitamina D fosse produzida em quantidades suficientes, apesar de os territórios localizados mais ao norte terem menos incidência de luz solar.

Fim da intolerância

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Com respeito à tolerância à lactose, em uma matéria anterior revelamos que ela possivelmente surgiu na região do Crescente Fértil por volta do ano 5.500 a.C., e graças ao consumo do queijo. O curioso, é que a mutação que permitia que os nossos ancestrais pudessem consumir leite sem morrer de dor de barriga só foi encontrada em 10% dos fósseis da Idade do Bronze.

Entretanto, a maioria dos fósseis que apresentavam a mutação eram os da cultura Yamnaya , sugerindo que essa variação genética se espalhou pela Europa a partir das estepes asiáticas graças a esses povos. O mais interessante desse estudo é que ele permitiu que os pesquisadores pudessem traçar um perfil muito mais detalhado a respeito dos humanos da Idade do Bronze.

Assim, de acordo com o estudo, esses povos já apresentavam a mesma pele clara e cor de olhos que os europeus atuais e seus descendentes e, apesar de ainda não poderem consumir o leite e seus derivados tranquilamente, já estavam começando a desenvolver a tolerância a esses alimentos.

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