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06/02/2017 às 07:46•3 min de leitura
Você deve se recordar do astronauta Scott Kelly, o cara que, recentemente, retornou de uma estadia de nada menos do que 340 dias na Estação Espacial Internacional. Ele permaneceu no espaço durante esse tempo todo — quase um ano trancafiado a 400 quilômetros de altitude! — como parte de uma série de experimentos da NASA para saber como o corpo humano reage a longos períodos longe do ambiente terrestre.
Scott e Mark Kelly, os gêmeos astronautas
E Kelly não foi escolhido ao acaso para passar por essa experiência. Ele tem um irmão gêmeo idêntico, o também astronauta Mark Kelly, o que significa que os dois — que, basicamente, são uma cópia genética um do outro — ofereceriam aos cientistas a oportunidade única de descobrir o que acontece com quem passa longas temporadas no espaço.
Mark permaneceu aqui na Terra, obviamente, e fez parte do mesmo estudo juntamente com Scott. De acordo com Michael D’Estries, do portal Mother Nature Network, ao longo da pesquisa, cientistas de 12 universidades analisaram amostras biológicas da dupla e os primeiros resultados estão sendo divulgados agora.
Vários dos resultados confirmaram o que os cientistas já sabiam sobre os efeitos de longas permanências no espaço, como a perda de densidade óssea, diminuição da massa muscular e o ligeiro incremento na estatura — consequências sobre as quais vamos falar logo mais. No entanto, a descoberta mais surpreendente até o momento foi que a permanência no espaço provoca alterações no DNA dos astronautas.
O encurtamento dos telômeros está associado com o envelhecimento
Mais especificamente, os pesquisadores identificaram mudanças nos telômeros de Scott — que são estruturas que formam as pontinhas dos cromossomos e estão relacionadas com a sua proteção. Os cientistas acreditam que os telômeros também estão associados com o envelhecimento, já que eles vão se tornando mais curtos conforme ficamos mais velhos, e podem ser impactados por fatores como a falta de exercício, estresse e dieta desequilibrada.
Entretanto, no caso de Scott, embora os pesquisadores achassem que essas estruturas sofreriam encolhimento por conta do estresse de viver no espaço por tanto tempo, os telômeros dos glóbulos brancos do astronauta aumentaram de tamanho. Curiosamente, depois que Scott voltou à Terra, essas pontinhas cromossômicas voltaram rapidamente às dimensões que elas tinham antes da viagem.
A NASA suspeita que o aumento dos telômeros pode estar relacionado com a dieta baixa em calorias e a estrita rotina de exercícios seguida por Scott durante a estadia no espaço. E além dos telômeros, o mapeamento genético dos gêmeos revelou mais de 200 mil moléculas de RNA que se expressaram de maneira diferente nos irmãos, possivelmente como resultado dos efeitos da microgravidade e da alimentação — baseada em produtos congelados.
Mark e Scott Kelly
De acordo com a NASA, os níveis de metilação — um processo que pode alterar a atividade de um segmento de DNA sem afetar sua sequência — também caíram em Scott, enquanto os níveis de Mark aumentaram no mesmo período, e os gêmeos também apresentaram variações nas bactérias presentes na flora intestinal, provavelmente devido às diferenças de dieta e ambientes.
Nos próximos meses, a NASA deve divulgar mais descobertas sobre o estudo com os gêmeos, incluindo os efeitos psicológicos das longas estadias no espaço. A seguir você pode conferir uma série de imagens animadas — criadas pelo pessoal do portal Business Insider — que ilustram algumas das consequências da aventura espacial de Scott Kelly:
1 – Como os fluidos corporais se distribuem de maneira mais equilibrada pelo organismo na falta de gravidade, o rosto se torna mais inchado
2 – Na falta de atividade física, a perda de densidade óssea pode ser de aproximadamente 12%
3 – Voltando à distribuição de fluidos, a quantidade que se desloca dos membros inferiores para a cabeça seria suficiente para encher uma garrafa de dois litros
4 – A visão pode ser prejudicada devido às variações de pressão no cérebro
5 – Como não precisamos usar os músculos em ambientes de microgravidade, eles atrofiam e acabam absorvendo tecidos extra
6 – Dormir no espaço é mais complicado do que parece, e os astronautas dormem cerca de seis horas diárias — o que significa que a privação de sono é mais um dos efeitos sofridos por quem passa temporadas fora da Terra
7 – A radiação à qual os astronautas são submetidos quando se encontram fora do escudo protetor oferecido pelo campo magnético terrestre pode aumentar o risco do surgimento de câncer
8 – E, como no espaço a gravidade não está lá para “empurrar” a cabeça dos astronautas em direção ao solo — e exercer pressão sobre a coluna —, eles podem ficar até 3% mais altos