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21/01/2018 às 04:00•3 min de leitura
Se você é fã de História, deve saber que ser um guerreiro em Esparta não era uma questão de vocação. Aliás, de modo geral, ser espartano não era nada fácil — e todos os cidadãos eram testados e passavam por incríveis dificuldades para serem aceitos como membros de sua sociedade. E as provações começavam assim que os espartanos vinham ao mundo, enquanto eles ainda eram bebês recém-nascidos, especialmente os meninos.
Para começar, quando uma criança nascia em Esparta, ela era submetida a um minucioso exame para comprovar que não sofria de qualquer deformidade ou problema de saúde. Essa avaliação era conduzida pelos anciãos da cidade-estado e, segundo a lenda, os bebês “reprovados” eram atirados em um poço chamado Apothetae.
Inspeção minuciosa
Essa versão do poço atualmente é considerada como mito pela maioria dos historiadores. No entanto, a verdade sobre o que acontecia com aqueles que não eram considerados perfeitos não era muito melhor: os pobrezinhos provavelmente eram abandonados aos pés de uma encosta perto de Esparta, onde eram deixados para morrer de fome ou se tornavam escravos. O pior é que, depois de sobreviver à inspeção inicial, as coisas não melhoravam, não!
Quando chegavam à tenra idade de 7 anos, os meninos espartanos eram tirados de suas casas — e da proteção de seus pais — e levados para iniciar o Agoge, ou seja, o treinamento oferecido pela cidade-estado para que eles se tornassem cidadãos de bem e, claro, guerreiros. Os garotos passavam a viver em uma espécie de acampamento militar e recebiam educação formal e física, além de aprender como caçar e sobre a arte da guerra.
Jovens treinando nas artes da guerra
Assim, enquanto estavam no Agoge, os garotos aprendiam a ler e escrever e tinham aulas de retórica e poesia. Já quanto ao lado físico da coisa, o treinamento também ensinava os meninos a resistir a dificuldades como o frio, a fome e a dor e, muitas vezes, eles eram motivados a se envolver em brigas com os colegas. Aqueles que demonstrassem fraqueza, covardia ou medo viravam alvo de provocações e violentos ataques dos demais.
Só os bravos sobreviviam
Depois, quando alcançavam os 12 anos de idade, os meninos eram privados de qualquer vestimenta — com exceção de um manto vermelho —, e eram obrigados a dormir ao relento. Além disso, com o objetivo de treinar os garotos para a vida nos campos de batalha, eles eram incentivados a encontrar sua própria comida e até roubar a de seus companheiros, embora corressem o risco de serem chicoteados caso fossem pegos.
Uma das etapas mais brutais do treinamento dos jovens guerreiros era um ritual anual conhecido como Diamastigosis, que consistia em uma espécie de competição de resistência. Durante esse evento, os adolescentes eram duramente chicoteados diante do altar do santuário de Ártemis Orthia, e o objetivo da cerimônia era testar a bravura e a resistência dos garotos em relação à dor.
Diamastigosis
Conforme Esparta começou a entrar em declínio, o Diamastigosis foi perdendo seu propósito e se transformando em um espetáculo sangrento. E quando o controle da cidade-estado caiu nas mãos do Império Romano, os romanos chegaram a construir um anfiteatro para a realização do ritual — que virou uma espécie de atração bárbara.
Pois além de passarem por um duro período de treinamento e serem brutalmente chicoteados em público, os jovens guerreiros só recebiam o mínimo de comida necessário para a sua sobrevivência. Assim, para preparar os futuros guerreiros para os rigores da guerra — e mantê-los sempre magrinhos e em forma —, o estado fornecia rações insuficientes para matar sua fome, e as comidas geralmente eram bem insossas.
Os rapazes passavam praticamente a juventude inteira treinando para se tornarem guerreiros
Entre as idades de 17 e 18 anos, aproximadamente, os espartanos eram preparados para a vida militar e aprendiam técnicas de sobrevivência e, depois, entre os 20 e 29 anos, eles eram submetidos a um rigoroso treinamento já como parte do exército. Ao atingir 30 anos, os que conseguissem passar por todo esse suplício eram aceitos como cidadãos de Esparta — e era esperado que eles se casassem.
Vale destacar que, embora fosse permitido que os espartanos se casassem a partir dos 20 anos de idade, eles eram obrigados a viver com seus companheiros no alojamento militar oferecido pela cidade-estado. Só depois de completar 30 anos é que eles podiam morar com suas esposas — e quem quisesse curtir visitinhas conjugais antes da idade permitida tinha que fazer isso em segredo!
Também vale destacar que os espartanos viam o casamento como uma forma de produzir mais guerreiros. Portanto, aqueles que tinham problemas de fertilidade e não conseguiram ter filhos eram encorajados a encontrar candidatos “capazes” para engravidar suas esposas.
Os espartanos prezavam pela perfeição
Com relação ao campo de batalha, os soldados deviam lutar até a morte do último homem, e a rendição era considerada um ato impensável e de incrível covardia. Tanto que aqueles que decidiam não seguir o código eram tão humilhados pelos demais espartanos que, quase sempre, acabavam cometendo suicídio para se livrar da vergonha.
Não havia outra opção para os homens espartanos além de se tornarem guerreiros — e, de acordo com os registros históricos, eles inclusive eram legalmente impedidos de escolher qualquer ocupação que não fosse a carreira militar.
Os homens permaneciam a serviço da cidade até os 60 anos, e as demais atividades, como a agricultura, o artesanato e o comércio, por exemplo, eram desempenhadas por escravos ou pessoas livres que não eram cidadãos espartanos, mas viviam nas imediações de Esparta.
Eles estão entre os melhores guerreiros da História
Os cidadãos espartanos pertenciam à classe social Homoioi e eram minoria em relação às demais classes, a Perioeci, formada por homens livres que se dedicavam a atividades como o artesanato e o comércio, e a Hilota, composta pelos escravos — que cuidavam do cultivo e da produção de alimentos. Curiosamente, era o constante medo de que os servos se rebelassem que motivava a necessidade de que os espartanos tivessem guerreiros formidáveis sempre a postos.
*Publicado em 3/10/2016