Artes/cultura
14/05/2014 às 08:34•3 min de leitura
O alumínio certamente é um dos elementos mais abundantes da Terra. Hoje ele aparece em embalagens de alimentos, latinhas de refrigerante, na estrutura de aviões e tem mais de uma centena de aplicações. Porém, o metal nem sempre esteve disponível e a sua raridade fez com que ele chegasse a custar mais do que ouro. Não deixe de conferir este artigo para entender como isso aconteceu e conhecer um pouco mais sobre a história desse metal tão útil nos dias de hoje.
Tudo começa com o fato de que, mesmo representando cerca de 8% da crosta terrestre, o alumínio não pode ser encontrado em sua forma metálica em nenhum canto do planeta. Ou seja, o alumínio aparece principalmente como parte de um composto químico, como o alúmen de potássio, por exemplo.
Mesmo antes do alumínio ser descoberto ou mesmo teorizado, os compostos da classe dos alúmens já possuíam diversas aplicações desde a antiguidade. No entanto, acredita-se que o primeiro registro do elemento date de 1807, quando o químico Sir Humphrey Davy argumentou que o alúmen era o sal de um metal que ainda não havia sido descoberto. Davy pretendia batizar esse elemento de “alumínio”.
Porém, existe algum debate na comunidade científica sobre Davy ter sido realmente o primeiro a falar sobre o metal, já que 30 anos antes (em 1778) o químico francês Antoine Lavoisier comentou em seu livro Elementos de Química que o que ele chamava de “argila” (óxido de alumínio) poderia teoricamente existir como um metal sólido, mas a tecnologia disponível não permitia desfazer a forte ligação entre os átomos de oxigênio.
O alumínio como conhecemos hoje foi originalmente criado em laboratório por Hans Christian Oersted ao aquecer o cloreto de alumínio com amálgama de potássio em 1825. Em homenagem ao trabalho de Humphrey Davy, o novo metal ganhou o nome de alumínio. Porém, o material obtido por Oersted não passava de algumas lascas de metal pequenas e impuras – o que dificultava a análise do material.
Dois anos depois, Friedrich Wöhler desenvolveu uma nova maneira de isolar o alumínio em pó e melhorou bastante as técnicas utilizadas no experimento de Oersted. Mesmo assim, foi preciso esperar mais 18 anos até que a quantidade de metal produzida fosse suficiente para que os cientistas pudessem analisar suas propriedades.
Em 1845, o alumínio começou a fazer sucesso. Mas foi apenas em 1854 que o químico francês Henri Sainte-Claire Deville desenvolveu uma maneira de produzir o metal em larga escala com o uso de sódio. Pela primeira vez na História, esse método permitiu a produção de quilos do metal de uma única vez. Para se ter uma ideia, Deville conseguia produzir em um único dia a mesma quantidade que Wöhler levaria anos para obter.
No ano seguinte, em 1855, 12 pequenos lingotes de alumínio foram colocados em exposição em uma enorme exibição francesa organizada a pedido do imperador francês Napoleão III. Imediatamente após a exibição, a demanda pelo novo metal leve e brilhante aumentou significativamente. Como o metal se mostrou ideal para produzir joias, não demorou muito para que a elite francesa estivesse usando broches feitos de alumínio.
Entretanto, o responsável pela produção em larga escala do metal não gostou de saber que o elemento estava sendo usado por uma pequena classe de pessoas quando poderia estar beneficiando às massas. E o imperador Napoleão III – que havia financiado o estudo e a produção do metal muito antes da exibição – compartilhava o pensamento do químico e acreditava que o alumínio poderia ser usado para produzir equipamentos leves para seu exército. De fato, alguns capacetes chegaram a ser confeccionados, mas o alto custo do refinamento do material impediu a continuidade do projeto.
Frustrado, Napoleão III fez com que seu estoque de alumínio fosse derretido e transformado em talheres. Uma das evidências desse fato é que existiam rumores de que o imperador francês comia em pratos de alumínio e dividia seus luxuosos talheres apenas com convidados nobres, enquanto as outras pessoas utilizavam peças forjadas em ouro.
Não existem meios de confirmar se a história dos talheres de Napoleão III é verdadeira ou não. Mas fato é que, mesmo sendo muito mais abundante do que o ouro, o alumínio era mais difícil de ser obtido, o que o tornava um dos metais mais caros e nobres da época.
Mas esse panorama começou a mudar em 1886, quando descobriu-se que era possível obter grandes quantidades de alumínio através da eletrólise. A descoberta foi feita por Paul Lois Toussaint Héroult e Charles Martin Hall quase ao mesmo tempo. Curiosamente, os dois trabalhavam de maneira independente na França e nos Estados Unidos, o que levou o processo – que é utilizado até hoje – a ser chamado de Héroult/Hall em homenagem aos dois profissionais.
Dois anos depois, o químico austríaco Carl Josef Bayer revelou que o óxido de alumínio podia ser obtido a partir da bauxita com baixos custos. Todos esses processos fizeram com que o preço do alumínio despencasse 80% do dia para a noite. Dentro de poucos anos, o alumínio passou do posto de metal mais caro do planeta para o lugar do mais barato.
Em termos de comparação, vale pensar que em 1852 (ou seja, antes do surgimento do processo de Héroult/Hall), o quilo do metal era vendido por 1,2 mil dólares. Já no início do século 20, a mesma quantidade não chegava a custar um dólar.