Artes/cultura
03/10/2017 às 03:00•3 min de leitura
Você provavelmente estudou o período da Santa Inquisição no colégio, em que as torturas e as mais variadas sentenças eram aplicadas livremente pela Igreja Católica com o objetivo de banir práticas consideradas demoníacas e hereges.
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Nesse artigo, porém, nós focamos em outros aspectos da Santa Inquisição que você provavelmente não sabe, especialmente nos tribunais implementados na Espanha. Esses tribunais eram caracterizados por suas punições severas e pela falta de direitos dos acusados, que muitas vezes não tinham nem como se defender.
A Inquisição Espanhola, originalmente conhecida como “Tribunal Del Santo Ofício de La Inquisición”, foi uma instituição requisitada pelos nobres soberanos da Espanha, a Rainha Isabella de Castela e o Rei Fernando V de Aragão, que casaram em 1469 para consolidar os seus reinos e formar a base de poder da Espanha.
Ao contrário de outros países que também estabeleceram a Inquisição, como a França e a Itália, em que a Igreja Católica tinha autoridade total para perseguir os hereges, os monarcas Fernando e Isabella detinham autoridade civil acima da Inquisição Espanhola. É importante ressaltar que a Inquisição Espanhola não ficou restrita ao território espanhol, porém também se expandiu às colônias do país, como o México e demais países da América Espanhola.
Os soberanos católicos da Espanha desejavam criar um país unido e acreditavam que isso só iria acontecer se todos abraçassem o catolicismo. Pessoas de outras religiões eram consideradas hereges, traidores de Deus e do Rei, sendo expulsos do país e sentenciadas à morte, como judeus e muçulmanos. Muitos judeus foram convertidos à força para escapar das perseguições religiosas, sendo que mesmo assim eram observados por oficiais da Inquisição que fiscalizavam se as conversões haviam sido sinceras.
Essas pessoas ficaram conhecidas como marranos. As características mais bizarras que os espanhóis usavam para identificar os judeus infiéis consistiam em analisar se eles limpavam suas casas às sextas-feiras e se eles acendiam as velas mais cedo do que o costume – hábitos que, supostamente, indicavam que eles ainda eram judeus por dentro. Vai entender...
Além disso, os nobres espanhóis, assim como muitos nobres da Idade Média, eram obcecados com o conceito de sangue puro. Eles acreditavam que pessoas com linhagens imaculadas e de famílias nobres estavam mais próximas de Deus e tinham maiores chances de entrar no Reino dos Céus depois da morte. E como os judeus estavam na Espanha há séculos, não foi algo incomum que judeus casassem com cristãos. Por isso, sobrenomes e as influências das famílias eram extremamente importantes.
As prisões de hereges na Inquisição Espanhola eram diferentes das inquisições em outros países, já que as pessoas não eram diretamente presas e torturadas, porém passavam por várias etapas e audiências púbicas – que de qualquer jeito, eventualmente levavam aos procedimentos de tortura, como afogamento e estiramento dos membros. As torturas eram realizadas essencialmente para que as vítimas confessassem seus pecados, por mais que muitas vezes não tenham cometido nada de efetivamente errado.
Se o indivíduo não confessasse (mesmo que fosse inocente), era muitas vezes condenado à morte na fogueira. Se você nomeasse cúmplices que tinham algum envolvimento com práticas não católicas, o perdão era obtido – algo que foi supostamente utilizado por centenas de pessoas para levantar falso testemunho.
A Inquisição Espanhola durou por 336 anos e foi finalmente abolida em 1834. Apesar de ser complicado mensurar reais dados de mortes na Idade Média, é estimado que mais de 2 mil execuções foram realizadas por esses tribunais religiosos. Mesmo com esse alto número de mortes, muitos historiadores apontam que a Inquisição Espanhola foi menos cruel do que em outros países europeus, lugares em que as torturas eram ainda piores.
Se analisarmos de modo cru, a Santa Inquisição obteve sucesso ao converter os cidadãos da Espanha ao catolicismo (mesmo que fosse através do medo), além de manter a autoridade no território e desencorajar possíveis rebeliões. Contudo, o país foi muito afetado economicamente, especialmente devido às inúmeras pessoas que fugiram dele com medo de perseguições religiosas, o que causou danos sociais e econômicos que se alastraram por décadas.
*Publicado em 12/09/2014