Genocídio Armênio: massacre cometido pelo Império Otomano completa 100 anos

24/04/2015 às 11:464 min de leitura

Os armênios em todo o mundo lembram nesta sexta-feira o centenário do massacre sofrido por seus antepassados no Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, uma tragédia denunciada pela Armênia como genocídio — e negada energicamente pela Turquia, que ainda se recusa a usar o termo “genocídio”.

Segundo os turcos, os armênios se referem a um período de guerra civil na região da Anatólia — agravada pela fome — na qual morreram entre 300 mil e meio milhão de armênios, além de outros tantos turcos. No entanto, a estimativa é de que 1,5 milhão de pessoas morreram de maneira sistemática entre os anos 1915 e 1917, os últimos anos do Império Otomano.

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Por conta dessa disputa de opiniões, o genocídio continua sendo tema de forte controvérsia, e até hoje as relações entre a Turquia e a Armênia continuam estremecidas. A seguir reunimos os principais marcos dos massacres e deportações cometidos entre 1915 e 1917, para que você entenda a questão um pouco melhor. Confira:

História do conflito

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Em meados do século XVI, após centenas de anos sob o domínio persa e bizantino, o território da Armênia acabou se dividindo entre os Impérios Russo e Otomano, e uma boa parte da população — estimada em 1,7 e 2,3 milhões de armênios — permaneceu em território otomano.

No entanto, no fim do século XIX, com o fortalecimento do movimento nacionalista, as autoridades otomanas começaram a acusar os súditos armênios de deslealdade com o Império, passando a exigir sua autonomia. Segundo as estimativas, entre 100 mil e 300 mil armênios teriam sido massacrados só entre anos de 1895 e 1896, durante o reinado do sultão Abdul Hamid II.

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Alguns anos mais tarde, em outubro de 1914, o Império Otomano entrou na Primeira Guerra Mundial — ao lado da Alemanha e da Áustria-Hungria. Mas, depois de o Império sofrer grandes perdas nos combates que afetaram as províncias armênias, as autoridades responsabilizaram os armênios, lançando uma campanha propagandística que os classificava de “inimigo interno”.

Com isso, em 24 de abril de 1915, milhares de armênios suspeitos de nutrir sentimentos nacionalistas hostis contra o governo central foram detidos. A maioria dos prisioneiros foi executada pouco depois ou deportada e, desde então, a data 24 de abril passou a marcar o genocídio armênio.

Cadeia de acontecimentos

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Em maio de 1915, os otomanos decretaram uma lei especial autorizando a deportação dos armênios por razões de segurança interna, e em setembro do mesmo ano, uma lei que ordenava o confisco de bens foi promulgada. Como consequência, a população armênia da Anatólia e Cilicia foi condenada ao exílio nos desertos da Mesopotâmia, e muitos armênios acabaram morrendo no caminho ou em campos de concentração.

Além disso, segundo informações de diplomatas estrangeiros e agentes secretos da época, inúmeros armênios foram queimados vivos, afogados, envenenados ou caíram vítimas de doenças. Inclusive existe um documento enviado pelo embaixador norte-americano servindo no Império Otomano, Henry Morgenteau, no qual ele alerta o Departamento de Estado dos EUA sobre uma campanha de extermínio racial sob o pretexto de reprimir uma rebelião.

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O Império Otomano se rendeu às forças da Tríplice Entente (composta pela Grã-Bretanha, Rússia e França) no final de outubro de 1918, e um acordo sobre o armistício finalmente permitiu que os armênios deportados voltassem para casa. Em fevereiro de 1919, vários funcionários otomanos de alto escalão foram acusados de crimes de guerra — incluindo contra os armênios — por um tribunal militar de Constantinopla, e todos foram condenados à morte.

Versões contraditórias

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Conforme comentamos no início da matéria, os armênios estimam que 1,5 milhão dos seus foram assassinados de forma sistemática ao fim do Império Otomano. A Turquia, por sua vez, fala de uma guerra civil, à qual se somou um período de fome — que resultou na morte de 300 mil a meio milhão de armênios, além de um grande número de turcos.

Em abril de 2014, Recep Tayyip Erdogan, o então primeiro-ministro turco — e atual presidente — deu um passo inédito ao apresentar suas condolências pelas vítimas armênias de 1915 sem, no entanto, deixar de negar qualquer intenção de extermínio. Segundo Cengiz Aktar, professor de Ciência Política da Universidade Sabanci de Istambul, o presente governo fez mais do que todos os anteriores para derrubar os tabus da fundação da República, mas, infelizmente, foi detido em pleno movimento.

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Em 2000, 126 especialistas, entre eles o Nobel da Paz Elie Wiesel, o historiador Yehuda Bauer e o sociólogo Irving Horowitz, afirmaram em um comunicado publicado pelo The New York Times que o genocídio armênio na Primeira Guerra Mundial é um fato histórico inquestionável.

Já para Ilber Ortayli, professor de História na Universidade Galatasaray de Istambul, a deportação armênia é uma verdadeira tragédia, e ele reconhece e pede que os historiadores dos dois países se ocupem desta questão e estudem ponto por ponto este período da história turco-armênia para que ambos cheguem ao fundo da questão.

Reconhecimento

Atualmente, mais de 20 países reconhecem o genocídio armênio, incluindo a França, a Rússia, o Chile e a Argentina, assim como o Parlamento Europeu. Em 2008, o candidato Barack Obama prometeu reconhecer o genocídio armênio, mas uma vez eleito, o presidente norte-americano jamais utilizou o termo publicamente. Ainda assim, diversos Estados dos EUA reconhecem o genocídio. O mesmo ocorre no Brasil, onde somente São Paulo, Ceará e o Paraná legitimam o massacre.

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Hoje Erdogan repetiu o gesto do ano passado, e voltou a apresentar suas condolências pelas vítimas armênias. No entanto, o governo turco continua se negando a reconhecer o genocídio, fato que estremece as relações entre a Turquia a Armênia. Já a cerimônia celebrada esta manhã em Yerevan, na Armênia, foi acompanhada pelos presidentes francês François Hollande, e russo, Vladimir Putin, entre outros, e muitos condenaram o massacre.

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As solenidades acontecem um dia depois que 1,5 milhão de vítimas do genocídio armênio foram canonizadas em uma missa celebrada pelo chefe da igreja armênia, Catholicos Karékine II, em Etchmiadzin, a 20 quilômetros de Yerevan, em um edifício do século IV que é considerado a catedral cristã mais antiga do mundo.

Trata-se da maior canonização já realizada por uma Igreja cristã, e logo depois da cerimônia, os sinos de todas as igrejas armênias soaram em todo o mundo, e um minuto de silêncio foi observado por toda a comunidade dos armênios em homenagem aos mais de um milhão de armênios deportados, mortos e torturados durante o genocídio.

* Com informações da Agence France-Presse

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