Ciência
08/06/2015 às 10:36•5 min de leitura
Não se pode falar da Era Vitoriana, que marcou o reinado da Rainha Victoria (1837 – 1901), sem comentar as influências do período até mesmo em questões relacionadas à forma como as pessoas deveriam viver. No quesito comportamental da coisa, aquele que envolve os tradicionais “bons modos” e algumas regras de etiqueta malucas, é possível se surpreender com as exigências do antigo reinado inglês.
O How Stuff Works publicou uma série de normas comportamentais que já foram exigidas aos cidadãos ingleses durante a Era Vitoriana. Muitas dessas normas hoje são consideradas arbitrárias e desnecessárias. Confira a seguir e depois nos conte o que pensa sobre elas:
Com a Era Vitoriana veio também uma maior preocupação com a moda. As mulheres seguiam à risca um padrão que determinava quais estilos de vestidos deveriam ser usados em ocasiões específicas. Havia, portanto, os vestidos ideais para bailes, assim como aqueles mais apropriados para jantares, caminhadas e até mesmo os ideais para cavalgar. Sem falar, é claro, nos modelitos que só poderiam ser usados no campo.
Nem mesmo as viúvas escapavam desse controle de etiqueta: os vestidos pretos de luto deveriam ser utilizados apenas pelo período considerado ideal para esse tipo de ocasião.
Foi também na Era Vitoriana que as mulheres passaram a usar a crinolina como forma oficial de deixar os vestidos “armados”. Na imagem acima é possível observar essa estrutura, imensa e espalhafatosa, que acabou obrigando as mulheres da época a reaprender a fazer coisas simples como sentar e passar por portas.
Isso sem falar nos corseletes, utilizados até hoje. A diferença é que esses modeladores, naquela época, eram utilizados extremamente apertados, com a intenção de deixar a coluna ereta e criar um visual de respeito. Essas peças eram utilizadas por praticamente todas as mulheres vitorianas, inclusive as de classes mais pobres e prisioneiras.
Interagir com conhecidos em público também não era uma tarefa simples. De acordo com as regras de etiqueta da época, era preciso seguir um padrão comportamental ao falar com alguém em público, especialmente se esse alguém fosse do sexo oposto. Mulheres jovens e solteiras não poderiam conversar com homens se estivessem sem mais ninguém por perto.
Na verdade, um dos guias de comportamento da Era Vitoriana incentivava que as jovens solteiras ignorassem conhecidos nas ruas e que os cumprimentassem apenas se não tivessem como virar o rosto. Nesse caso, deveriam estender a mão em direção ao amigo. O rapaz, em contrapartida, só poderia inclinar a cabeça para beijar a mão da moça depois de perceber que ela havia o reconhecido.
Detalhe: o cavalheiro deveria escolher a mão que estivesse mais afastada do corpo da moça para beijar. A não ser, é claro, que ela já tivesse estendido uma mão a ele. Nessa situação, o rapaz deveria acompanhar a moça pelo resto do caminho. A conversa também deveria ser discreta, sem vozes altas nem “discussões animadas”.
Um cavalheiro nunca deveria fumar na presença de uma mulher – o lado feio da coisa ficava com as mulheres, que eram mal vistas quando se aproximavam de homens fumando, afinal saberiam que, por causa delas, eles deveriam apagar o cigarro.
Vitorianos gostavam de formalidades e faziam questão de toda pompa verbal possível. Quando a coisa ficava mais séria e as pessoas eram apresentadas a novas pessoas, era imprescindível que falassem de maneira apropriada e seguissem à risca todas as regras de etiqueta.
O status social era muito importante – pessoas mais pobres eram apresentadas às mais ricas, e não o contrário. Já as mulheres eram apresentadas aos homens independente das posições que ocupavam na vida social.
O fato é que para conhecer novas pessoas e fazer as apresentações do jeito certo, era preciso saber a condição social de cada um. Os títulos sociais eram separados em duas partes: a nobreza (duques, marqueses, condes, viscondes e barões) e, abaixo da nobreza, os baronetes e os cavaleiros.
Geralmente, usava-se a denominação “Lord” para se referir a um nobre, e “Lady”, para se referir à esposa desse nobre. “Sir” era utilizado para se dirigir a baronetes e cavaleiros. Outros títulos eram utilizados conforme o posto social de cada indivíduo, inclusive na comunicação escrita. Se a carta fosse direcionada a um marquês, deveria começar com “O mais nobre”, mas se era direcionada para outros nobres, começaria com “O honorável”.
Se você é do tipo que não tem muita paciência para receber pessoas em casa, saiba que na Era Vitoriana, não apenas isso era muito mais comum como era esperado que as mulheres estivessem em casa, dispostas e bem vestidas, entre as 15h e as 17h, prontas para receber seus visitantes.
Esse horário poderia variar, na verdade, dependendo do nível de intimidade dos visitantes com os donos da casa. Chegar à casa de alguém antes das 15h era considerado extremamente rude e deselegante.
De acordo com as regras de etiqueta, os homens deveriam retirar seus chapéus e mantê-los por perto, para sinalizar que não ficariam muito tempo. O chapéu só sairia das mãos do visitante caso ele precisasse pendurar o adorno em algum lugar. Deixar o chapéu embaixo da cadeira ou no chão era considerado extremamente vulgar.
Quando um jantar acontecia, os convidados eram sempre orientados a chegar até o local do evento com 15 minutos de atraso. Ao chegar, todos os convidados esperariam pelo chamado oficial do evento, em uma espécie de antessala.
A movimentação da antessala em direção à sala de jantar já era, por si só, uma formalidade vitoriana. Ela se dava em uma espécie de fila, com casais, sendo que os primeiros da fila eram, obviamente, os mais nobres. A ordem, no entanto, era organizada pela pessoa que promovia o jantar – ela sempre tomava um cuidado redobrado para não confundir os títulos de nobreza e acabar ofendendo algum convidado importante.
A refeição era geralmente composta por 10 pratos e sobremesa. Durante a refeição, os homens precisavam sempre conversar com as mulheres que sentavam à sua direita. Após o jantar, as mulheres seguiam para uma sala onde bebiam chá e conversavam. Os homens iam para outra sala, onde fumavam e conversavam também.
Com tantas normas a serem seguidas, é de se esperar que até mesmo na hora de seduzir alguém fosse preciso seguir uma cartilha de regras. Nesse sentido, a coisa era bastante clara: “casamentos por afeto não são necessariamente incompatíveis com os casamentos formados por outros interesses, mas afeto mútuo não é considerado necessário em um primeiro momento”. Não era de se espantar que os jovens vitorianos passassem por tantos conflitos na hora de escolher com quem deveriam se casar.
Era não apenas recomendado como esperado que os vitorianos procurassem casar com pessoas que pertencessem ao seu círculo social. Além do mais, a tradição de que o filho mais velho de uma família seria o herdeiro de tudo, fazia com que esses homens fossem os mais assediados.
Os homens costumavam se casar com mulheres mais jovens. De acordo com um dos livros de etiqueta da época, um homem de 30 anos deveria se casar com uma mulher de 22, enquanto que um de 40 deveria escolher uma parceira de 27 anos.
Todos os anos, entre janeiro e junho, as mulheres da cidade faziam questão de participar da “Temporada”, um período socialmente conhecido por servir como uma espécie de “mercado de casamento”. Se uma mulher não conseguisse encontrar um marido em três temporadas, ela já seria considerada “titia”.
O rapaz que tivesse interesse em uma mulher específica deveria saber, desde o início, que jamais poderia esperar ficar sozinho com ela. Na verdade, o jeito certo de conversar com a moça era simplesmente marcar um encontro na casa dela, onde o rapaz falaria não apenas com a sua pretendente, mas com os pais da moça também.
As regras vitorianas eram claras: antes de o rapaz propor uma mulher em casamento, deveria ter certeza a respeito dos sentimentos dela com relação a ele. Em seguida, deveria conseguir a aprovação do pai da amada, antes de oficializar qualquer compromisso.
O mais curioso vem a seguir: depois de estipular que o casamento aconteceria, os noivos deveriam ficar afastados um do outro, cada um vivendo a sua vida. Depois, o noivo declararia seus bens à família da noiva e vice-versa – e a noiva ficaria com um bom tanto do dinheiro do noivo. Se o noivado fosse oficializado e um dos noivos decidisse romper o compromisso, o outro poderia processá-lo por danos morais.
Se o casório fosse realmente confirmado, os noivos deveriam seguir mais algumas regras de comportamento até o tão esperado dia. A noiva continuaria saindo de casa acompanhada de uma dama de companhia e jamais deveria encontrar seu noivo se não tivesse ninguém por perto.
O casal era proibido também de demonstrar intimidade em público – nada de trocar sorrisos ou fazer piadinhas alegres demais! Esse tipo de comportamento era considerado desrespeitoso. Além do mais, mulheres que encostavam suas mãos nos braços de seus noivos eram consideradas extremamente vulgares.
E aí, você já tinha ouvido falar dessas regras todas? O que achou delas?