Artes/cultura
22/07/2014 às 10:24•3 min de leitura
Quando o assunto é canibalismo, não adianta: uma mistura de repulsa e curiosidade nos cerca. Repulsa, lógico, pelo fato de que um ser humano é capaz de se alimentar de outro; curiosidade porque, por mais obscuro que o assunto seja, é interessante parar e pensar a respeito dos inúmeros motivos que levam à essa prática. Os mais óbvios têm relação cultural e psicológica, mas talvez não seja só isso.
Se você já assistiu ao filme “O Massacre da Serra Elétrica” sabe que não só ele é um filme de terror como é um dos filmes de terror mais famosos e assustadores de todos os tempos. O enredo trata basicamente de um assassino que aterroriza uma cidade e mantém os corpos de suas vítimas escondidos. Como se não bastasse, o matador, conhecido também como Leatherface, é praticante do canibalismo.
Durante muitos anos um boato a respeito de o filme ser baseado em uma história real atormentou os expectadores, principalmente os da região do Texas, onde a história se passa. Ainda há quem acredite que o roteiro tenha sido feito com base na bizarra história de Sawney Bean. Você já ouviu falar desse cara?
Ele ficou conhecido também por suas práticas canibais e por ser o líder de um clã entre os séculos XV e XVI na Escócia. A história que se conhece a respeito de Sawney Bean é a de que ele teria matado pelo menos mil pessoas em 25 anos de terror.
A fábula a respeito desse canibal sanguinário inspirou, de fato, a criação de muitas produções literárias e cinematográficas. O diretor do filme “The Hills Have Eyes”, de 2006, disse que a história de Bean foi sua fonte primária de criação na hora de produzir o roteiro. O problema é que é difícil saber se Bean realmente existiu ou se tudo não passa de uma lenda urbana que se estendeu no decorrer dos anos e acabou ficando mundialmente conhecida.
O historiador escocês Dr. Louise Yeoman disse, em declaração publicada no site da BBC, que o caso parece o roteiro de um filme de terror e que, inclusive, pode ter sido inventado com uma finalidade semelhante: vender livros. Ele chama a atenção também para o fato de que a história foi vendida não na Escócia, mas na Inglaterra justamente na época em que o país de Harry Potter tinha vários preconceitos com relação à região do famoso Lago Ness.
De acordo com as explicações de Yeoman, apesar de a história oficial se passar no século XVII, somente cem anos após é que se começou a ouvir a respeito de Bean e suas atrocidades. Durante o século XVIII a Inglaterra costumava se referir à Escócia de maneira pejorativa, inclusive na forma como falava do país vizinho em seus jornais. Nessa época os escoceses eram descritos como pessoas sinistras ou ridículas.
O primeiro nome do canibal, Sawney, era o mesmo nome usado para um personagem escocês bárbaro. Personagem esse criado por ingleses, é claro. Pensar em uma pessoa escocesa com aspecto monstruoso, que comia outras pessoas e vivia em uma caverna era, na verdade, típico da cultura inglesa de então.
Yeoman acredita que Sawney Bean possa ser fruto de uma lenda devido ao fato da falta de comprovação histórica. O que se sabe é que Bean e seu clã teriam vivido em uma caverna perto do mar. Ali, Bean criava seus 14 filhos e 32 netos, todos frutos de relações incestuosas.
A família Bean era formada por assassinos canibais que viviam da captura de viajantes que, depois de serem roubados, eram mortos e viraram comida. As carcaças das vítimas ficavam guardadas dentro da caverna. Teoricamente, quando descoberto, o clã foi denunciado aos magistrados de Glasgow, que passaram o caso ao rei James.
Depois de saber da existência de tamanha barbárie, o rei enviou uma tropa de 400 soldados para acabar com os canibais. Apesar de ser um ótimo caçador, o rei preferiu não se arriscar ao tentar conduzir seus soldados nessa missão.
A verdade é que quando a vida de James estava realmente em perigo, ele fazia questão de alertar a todos sobre isso. “Se James tivesse conduzido uma expedição com sucesso para encarar um grupo bem armado de canibais sanguinários, nós nunca saberíamos o fim disso”, disse o pesquisador.
A história é intrigante e, por ser um conto antigo, pode ser conhecida com base em diferentes versões. Em Edinburgo há até mesmo algumas atrações turísticas destinadas a contar a história desses temidos canibais. Uma delas garante que o visitante entre em um barco e saiba como teria sido uma expedição comandada pelo rei James com o objetivo de capturar os canibais.
E aí, você já conhecia essa história? Se souber de alguma versão diferente, conte para a gente nos comentários!