Artes/cultura
06/12/2016 às 05:00•3 min de leitura
Você já ouviu falar em John Goodenough? É bem provável que a sua resposta seja não. Entretanto, basta dar uma olhada no seu bolso para encontrar um item que hoje você está usando graças a ele. John simplesmente é considerado o criador das baterias de íon de lítio, aquelas que estão dentro do smartphone que você utiliza.
Sua criação surgiu na década de 80, mas somente em 1991 veio ao mundo para uso comercial. Desde então, os equipamentos que contam com baterias de íon de lítio se multiplicaram aos milhares e hoje é praticamente impossível pensar o mundo como conhecemos sem elas. Apesar de tamanha importância, John ainda não obteve o reconhecimento merecido.
John Bannister Goodenough nasceu na cidade de Jena, na Alemanha, em 25 de julho de 1922, mas se mudou cedo para os Estados Unidos. Na América ele se tornou bacharel em Matemática pela Universidade de Yale, em 1944 — portanto com 22 anos. Depois de concluir seus estudos iniciais, John serviu o país na Segunda Guerra Mundial. De volta aos EUA, ele completou um PhD em Física na Universidade de Chicago, em 1952.
O inventor divagando
Em seguida, John passou a atuar como pesquisador no Lincoln Laboratory, do MIT, uma das instituições de ensino mais respeitadas do mundo. Nessa época, ele fez parte de uma equipe que era responsável por desenvolver as Memórias de Acesso Aleatório (“RAM”, sigla em inglês para Random Access Memory). Hoje, como você sabe, elas são encontradas em celulares, tablets, notebooks e computadores.
Seus esforços nesse projeto o levaram a desenvolver conceitos de Ordenação Orbital Cooperativa que, posteriormente, ficou conhecida como “Distorção de Jahn-Teller”, em materiais óxidos. Essas iniciativas também contribuíram para a origem das “Regras de Goodenough-Kanamori”, conhecidas no meio da Física.
John Goodenough continuou a sua carreira nas décadas de 70 e 80 como chefe do Laboratório de Química Inorgânica da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi lá que ele identificou e concebeu o modelo LiCoO² como material de escolha para o cátodo das baterias recarregáveis de lítio-íon, que hoje estão presentes em praticamente todos os dispositivos portáteis.
Olha aí a maior das invenções de John
Embora essa descoberta tenha se dado na década de 80, foi somente em 1991 que a Sony tornou essa tecnologia comercial em seus produtos. John, felizmente, foi creditado e identificado como o responsável por esse avanço, tendo recebido até mesmo um prêmio em 2001, no Japão, por conta da sua descoberta.
A lista de contribuições de John para o campo científico é imensa. Ele é apontado como o autor de mais de 550 artigos científicos, 85 capítulos de livros e análises de casos. Desses, destacam-se dois trabalhos: Magnetism and the Chemical Bond (1963) e Les Oxydes des metaux in transition (1973).
John Goodenough recebendo a Medalha Presidencial
Ele também foi condecorado com a Medalha Presidencial, a honraria máxima do governo norte-americano, e recebeu um prêmio no valor de US$ 375 mil por suas contribuições à Ciência. A Medalha Nacional de Ciências e a eleição como membro da Royal Society são outras duas distinções que o colocam entre os nomes mais importantes da história do desenvolvimento científico.
A lista de prêmios e menções honrosas recebidas em sua carreira é extensa e ultrapassa as centenas de citações. Contudo, ainda assim, o nome de John não chegou a se tornar conhecido do grande público.
Há quem diga que, por conta da invenção da bateria de smartphone, John Goodenough deveria receber ainda em vida um Prêmio Nobel. De fato, a comunidade científica se uniu em outubro deste ano para celebrar o aniversário de 25 anos da existência comercial das baterias de íons de lítio.
Ele não se deixou abater e segue na ativa
Contudo, a Royal Swedish Academy of Sciences, responsável por conceder essa honraria, declinou a proposta, indicando outros cientistas para receber o prêmio neste ano. Na mesma semana, John proferiu um discurso na cidade de Honolulu, no Havaí, incansável e no auge dos seus 94 anos, sobre suas últimas pesquisas em ânodos de lítio metálico.
Engana-se quem imagina que aos 94 anos de idade John Goodenough já está aposentado ou vivendo apenas dos louros de suas descobertas do passado. Atualmente, ele ainda trabalha como pesquisador na Universidade do Texas, na cidade de Austin, e em seus trabalhos busca encontrar outra tecnologia que possa revolucionar as baterias como as conhecemos.
John Goodenough continua trabalhando
Após a negativa do Prêmio Nobel, em outubro deste ano, a comunidade científica internacional reagiu não desmerecendo os vencedores, mas apontando o fato de que, se John tivesse sido o escolhido, a decisão incluiria mais um recorde à sua vitoriosa carreira: o da pessoa mais velha a receber tal honraria.
“Me deu uma angústia por ele não ter sido o escolhido. Esse me parece o ano ideal para que ele tivesse ganho esse prêmio”, destacou Venkat Srinivasan, um dos responsáveis pelo Lawrence Berkeley National Laboratory. “Eu acredito que máquinas moleculares são realmente legais, mas como isso pode ser comparado a uma tecnologia que mudou o mundo e ainda vai alterar completamente o jeito como geramos e usamos energia”, completou.
O Prêmio Nobel de Química de 2016 foi dado para três pesquisadores: Fraser Stoddart, da Northwestern University, Ben Feringa, da University of Groningen, e Jean-Pierre Sauvage, da University of Strasbourg. Juntos eles “desenharam e sintetizaram as máquinas moleculares”.
* Assessoria