Artes/cultura
20/10/2016 às 13:39•2 min de leitura
Quando alguém pensa em visitar Paris, é natural que pontos turísticos como a Torre Eiffel e a Catedral de Notre-Dame estejam nos planos, mas existe um lugar no subsolo que merece a sua atenção: as Catacumbas de Paris, um complexo de túneis com os restos mortais de cerca de 6 milhões de pessoas. É o maior ossuário do planeta e está ali, embaixo da capital francesa.
As paredes são enfeitadas com crânios, tíbias, úmeros e rádios. É bonito e macabro ao mesmo tempo. Se agora basta comprar um bilhete para desbravar as catacumbas, nem sempre foi assim. Mas, para entender a situação, você precisa antes conhecer a história desse inusitado lugar.
Antes de ser Paris em sua forma atual, a cidade fazia parte do Império Romano e, durante esse período, muitas pessoas morreram, causando uma superlotação nos cemitérios locais. Sem muitos cuidados, esses lugares começaram a contaminar os reservatórios de água, fazendo com que mais pessoas morressem e o problema só aumentasse.
A solução encontrada foi escavar túneis ao redor de Paris. Porém, lá pelo século 17, esses locais foram caindo no esquecimento e ninguém mais sabia realmente o tamanho dos corredores subterrâneos.
Essa falta de conhecimento causou diversos acidentes, com muitos desabamentos graves. Irritado com a situação, o Rei Luís XVI criou uma comissão para investigar e reforçar a estrutura das áreas mais perigosas, organizando as galerias.
Em 1780, outro desabamento aconteceu e vitimou mais pessoas: o peso excessivo das sepulturas fez com que um dos muros do cemitério Cimetière des Innocents caísse. Assim, o Rei decidiu que todos os cemitérios da cidade deveriam ser fechados. Para “matar dois coelhos com uma cajadada só”, ele resolveu colocar os corpos que estavam nesses locais nas galerias que haviam sido reformadas.
Caso você já tenha ouvido a frase “os antepassados iluminam o caminho dos vivos”, saiba que ela teve sentido literal em Paris: com a superpopulação de cadáveres, eles resolveram tirar a gordura dos corpos e deixar apenas os ossos nas Catacumbas. Como “nada se perde, tudo se transforma”, a substância humana foi usada para criar velas e sabão.
Em 1789, aconteceu a famosa Revolução Francesa, o que significou muitos outros mortos, que foram enterrados diretamente nas galerias. Curiosamente, o dono da frase que eu usei logo acima (“nada se perde...”), o químico Lavoisier, está lá também.
Só no século 19 foi que as Catacumbas começaram a ganhar ares de ponto turístico. Os ossos foram organizados e diversas pessoas passaram a alimentar o mito ao redor do local, como o escritor Victor Hugo que, em sua obra “Os Miseráveis”, disse que “Paris tem outra Paris debaixo dela”. Surpreendentemente, até mesmo o escritor Ernest Hemingway curtiu umas festinhas de arromba entre os mortos.
Além de festeiros e bêbados, os túneis serviram de abrigo para os membros da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, na década de 1960, a farra acabou: o governo proibiu a entrada na maior parte da galeria e quem descumpre tal regra pode tomar uma multa. Atualmente, turistas podem conhecer apenas 2 km das Catacumbas, o que é quase nada perto dos 300 km de galerias subterrâneas do local.
Em 2011, três amigos se perderam no ponto turístico por dois dias e foi necessário o envolvimento da polícia no resgate. Porém, se essa história acabou bem, há quem acredite que pessoas morreram no local sem nunca encontrar a saída.