Artes/cultura
19/03/2022 às 11:00•6 min de leitura
É quase impossível pensar em moda e não lembrar daquela que foi uma das mais emblemáticas personalidades desse universo: Coco Chanel. A estilista teve uma enorme importância, senão a mais marcante, para o desenvolvimento do setor fashion mundial desde as suas primeiras criações. Tanto que ela foi escolhida pela revista TIME como uma das 100 pessoas mais influentes do século XX.
O vestidinho preto, os tailleurs de tweed, a combinação com colares de pérolas, cardigans, casaquetos, chapéus, as bolsas e tantos outros símbolos da moda, reproduzidos até hoje, saíram da criativa imaginação de Gabrielle Bonheur Chanel.
A partir das primeiras aparições das roupas assinadas por ela na época pós-Primeira Guerra Mundial, quem acompanhava a evolução do setor de moda soube que o mundo nunca mais seria o mesmo. Pelo menos aquele do estilo feminino de se vestir.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Essa época em que Coco Chanel começou a sua carreira foi marcada por uma euforia com o fim da guerra, era tempo de festa, boemia e cabarés na França, onde a liberdade feminina começou a despontar com mais poder.
Segundo Annelise Castelli, Professora do Curso de Design de Moda da Universidade Positivo e Consultora do Senai + Design PR, a silhueta feminina almejada na época era de uma jovem magra, sem busto e com pernas muito, muito longas. Foi para esse estilo de mulher que Coco criou os seus primeiros ícones, tendo linhas retas e quadradas, com saias curtas no joelho, grandes decotes, sapatos tipo boneca e chapéu cloche.
“O uso de malharia e outros tecidos inusitados como o jérsei, além das meias-calças de seda artificial. A simplicidade e a ausência de tantos adereços de outras épocas são fruto da modernidade e da elegância com poucos detalhes. Ideias pregadas pela grande mentora do período, a revolucionária Coco Chanel. Porém, à noite, eram permitidos toques de riqueza como singelos bordados em pérolas e franjas”, explica Annelise.
(Fonte: Reprodução)
A estilista nasceu no dia 19 de agosto de 1883 na cidade de Saumur, na França. Coco costumava dizer que havia nascido dez anos mais tarde para se fazer mais jovem e para tentar apagar as lembranças de sua triste infância em um orfanato, onde sua mãe trabalhava quando ela nasceu.
Sua mãe morreu quando ela tinha seis anos de idade, deixando seu pai com cinco filhos, que ele rapidamente “distribuiu” para vários parentes. Nesta época, Coco foi mandada para outro orfanato católico em Aubazine, onde aprendeu o ofício de costureira. A partir daí, o seu talento para a modelagem começou a aflorar.
Quando ela completou 18 anos, deixou o orfanato e passou a trabalhar para um alfaiate local. Neste período, Chanel começou a frequentar a boemia francesa e passou até a atuar como cantora em cafés e salas de concerto. Foi quando adotou o nome de Gabrielle Coco, um apelido dado a ela por soldados locais que gostavam de assisti-la.
Em 1908, ela conhece o ex-oficial e herdeiro têxtil Etienne Balsan e torna-se sua amante. Com 23 anos, ela foi morar com ele em seu castelo, onde viveu por três anos cercada de mordomias. A região do castelo era conhecida por competições equestres e costumes de caça: fatores que influenciaram as suas criações. Foi nesta época que começou a desenhar e criar chapéus como uma diversão, que depois se transformou em um empreendimento comercial.
(Fonte: The Regents of the University of California/City of Paris/Bibliotheca historica)
Ela então se separou de Balsan e começou um relacionamento com um amigo dele, o rico industrial Inglês chamado Capel 'Boy' Arthur Edward. Ele instalou-a em um apartamento parisiense e financiou suas lojas. A primeira chapelaria foi aberta em Paris, em 1910, e logo ela abriu boutiques em Deauville e Biarritz.
Durante a década de 1920, Coco Chanel tornou-se a primeiro estilista a criar roupas feitas de jérsei para as mulheres. “A introdução do jérsei, que era um tecido não nobre usado em forros, traziam conforto e praticidade para as peças. Com esse material ela produzia conjuntos informais de blusa e saia (que muitos passam a chamar de tailleur). Para a noite, o jérsei era enriquecido com fios de ouro e bordados”, afirma a professora Annelise Castelli.
Foi ainda nessa época que abriu em Paris a famosa Maison Chanel, localizada na Rue Cambon, 31, onde continua a ser a sede principal até hoje. A partir de então, Chanel se tornou um ícone de estilo pelas suas criações e até pelo seu corte de cabelo.
Em 1921, ela lançou o perfume Chanel No. 5, que continua popular até hoje. Dois anos depois, Pierre Wertheimer se tornou seu parceiro de negócios (assumindo 70% do negócio de fragrâncias). Em 1925, Chanel lançou seu casaco de estilo cardigan e, no ano seguinte, seu icônico vestido preto.
Primeira representação conhecida do famoso Chanel nº5. (Fonte: Chanel)
Durante a Segunda Guerra Mundial, Chanel se envolveu com um oficial nazista e se mudou para a Suíça para fugir da polêmica. Só em 1954 que Chanel retornou a Paris e assumiu abertamente a inclusão do “New Look” de Christian Dior em suas coleções. Estrelas de Hollywood, incluindo Audrey Hepburn e Grace Kelly, se apaixonaram por seus elegantes terninhos de tweed, saias retas, calças largas e cardigans de caimento mais solto.
Coco Chanel trabalhou até sua morte, aos 88 anos, em 1971. Ela passou seus últimos momentos no seu apartamento privado no opulento hotel The Ritz, que mantém o local preservado até hoje.
Confira as criações mais icônicas de Coco Chanel abaixo:
O vestidinho preto, criado por Coco Chanel em 1926, estreou na Vogue daquele ano, em que foi publicado o croqui do modelo, e libertou a cor preta do uso geralmente só atribuído aos funerais. O vestido era feito de seda e crepe da China, sendo de modelagem reta, comprimento da saia nos joelhos e com mangas longas. Era o início da era do “pretinho básico”.
O sketch do primeiro "little black dress" de Coco Chanel apareceu na Vogue norte-americana, em 1926. (Fonte: Vogue US)
O design e os formatos da famosa peça mudam com as tendências de cada época, mas a essência do “little black dress” continua sempre na moda.
(Fonte: Sombrerería Albiñana/Flickr)
O tailleur, conjunto de saia e blazer (ou terninho) surgiu no século 19, tendo referências de trajes de equitação. Mas foi na década de 20 que Coco Chanel inovou ao produzir o look em jérsei, deixando-o mais confortável e moderno. A partir daí, essa composição tornou-se um clássico da estilista, aparecendo em diversas cores e estilos em suas coleções.
Chanel adorava vestir suas roupas adornadas por um colar de várias voltas de pérolas no pescoço. A estilista era apaixonada por pérolas e dizia que o reflexo delas deixava as mulheres mais bonitas e iluminadas de forma natural.
(Fonte: Cecil Beaton/Getty Images)
O gosto da Madeimoselle Chanel pelas bolinhas preciosas surgiu com o Grão-Duque Dimitri Pavlovitch, um de seus namorados, que a presenteou com o famoso colar, que se tornou um ícone da estilista. Ela passou a inserir a peça também como parte dos acessórios de desfiles e apresentações de coleções.
Chanel dizia que as joias serviam para deixar as mulheres mais bonitas e não para elas parecerem ricas. Ela passou a misturar peças valiosas com falsas, lançando a tendência do uso da bijuteria de forma elegante e sofisticada. Para ela, desfilar com peças preciosas no pescoço não era interessante, mas usar joias falsas era “provocativo”.
(Fonte: Daniel SIMON/Getty Images)
O conjuntinho de tweed foi uma das variações do tailleur produzido por Chanel. O material, antes usado somente em roupas masculinas, foi introduzido nas criações da estilista em 1955 e tornou-se um sucesso absoluto entre as mulheres modernas. Jacqueline Kennedy era fã dos conjuntinhos e estava usando um modelo cor-de-rosa no dia da morte de seu marido John F. Kennedy.
(Fonte: Philippe Garnier/Elle-Scoop/Chanel)
Coco Chanel costumava dizer que os sapatos bicolores deixavam os pés menores e mais delicados. A estilista se inspirou nos sapatos masculinos dos anos 50, que os homens utilizavam com a cor mais escura na ponta para disfarçar as manchas causadas na prática de esporte na grama, como o golfe e o tênis.
(Fonte: Chanel)
O modelo com corrente dourada de estilo matelassê tornou-se um clássico, que é atual e muito fashion até hoje. Chanel pensou no modelo ao perceber que as bolsas de mão atrapalhavam as mulheres. Então, ela criou o modelo com alças de corrente douradas, que podia ser pendurado nos omrbos, deixando as mãos livres e o visual incrível e moderno.
(Fonte: Chanel)
Este foi o primeiro perfume da Maison Chanel, que foi lançado em 1921. Coco Chanel queria criar um perfume de aroma inimitável, em suas palavras "um perfume com cheiro de mulher". O nome do perfume se deu após uma vidente dizer a Chanel que o cinco era seu número da sorte. Além disso, ele foi apresentado no dia 5 de maio, que é o quinto mês do ano.
O Chanel N° 5 foi ainda o primeiro perfume a incorpoar o aldeído, uma nota sintética capaz de realçar o aroma dos ingredientes naturais presentes na fórmula. A atriz Marilyn Monroe tornou o perfume ainda mais famoso, quando afirmou que dormia nua e somente com algumas gotinhas da fragrância. Hoje, ele ainda é um dos mais vendidos do mundo.
(Fonte: Getty Images)
Ainda antes de 1920 o livro “La garçonne”, de Victor Margueritte, foi lançado na França, trazendo a história revolucionária de uma mulher que, além de cortar os cabelos curtos, como o dos homens, engravida e tem um filho sem se casar.
A história criou polêmica, mas foi sucesso entre as mulheres, que passaram a cortar os cabelos à “la garçonne” (“como menino”, em tradução livre), inspiradas pelo livro. Coco Chanel também seguiu essa moda dos cabelos, cortando-os nesse estilo a partir de 1918. Porém, o que era conhecido como à “la garçonne” passou a ser chamar corte “Chanel”.