Artes/cultura
28/08/2013 às 06:16•2 min de leitura
Humanos começam a escutar sons quando ainda estão no útero, com cerca de 27 semanas de gestação. Porém, nunca ficou claro se esse processo auxilia o bebê a moldar sua própria percepção e desenvolvimento de linguagem, durante a infância. Agora, pesquisas revelam que há indícios de que isso aconteça.
Há inúmeros casos de crianças que aparentemente reconhecem e até respondem a músicas que foram tocadas enquanto elas ainda estavam esperando a “cegonha”. E de acordo com entrevista cedida para o site Ars Technica, a psicóloga Alexandra Lamont afirma que sons podem ser ouvidos com clareza dentro do útero e, uma vez que o cérebro está em desenvolvimento, o feto já é capaz de aprender canções ou outros sons antes do nascimento. Isso explicaria, por exemplo, o fato de que a maior parte dos bebês tem preferência pela voz da mãe.
Mas cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia, pretendem analisar isso tudo de forma muito mais detalhada, sob o ponto de vista neurológico. A equipe de Eino Partanem tem investigado a influência dessa experiência pré-natal no processo de aprendizado do ser humano, com a ajuda de sons muitos simples.
Em vez de ópera ou narração de contos de fadas, as famílias voluntárias reproduzem a pseudopalavra “tatata” diversas vezes ao longo da semana, incluindo variações de entonação. Depois, cientistas comparam a reação do bebê a essa palavra logo depois do nascimento. Para tornar o resultado mais imparcial, o mesmo teste é submetido a recém-nascidos que não passaram pela experiência intrauterina.
Com a ajuda de exames de eletroencefalograma, os pesquisadores puderam perceber que as crianças expostas ao som durante a gestação possuem uma reação bem mais forte à pseudopalavra, sendo inclusive capazes de reconhecer a diferença na entonação. Com isso, Partanen acredita que os bebês são capazes de aprender esses pequenos blocos de linguagem ainda no estágio fetal.
Talvez essa característica da formação do ser humano possa ser explorada para solucionar, por exemplo, casos de dislexia. Apesar de não existir um método capaz de prever se um bebê desenvolverá ou não dislexia, há fatores que podem indicar se ele está em risco, como uma predisposição genética. Por isso, uma terapia pré-natal poderia ser iniciada para facilitar o aprendizado após o nascimento.
De acordo com Partanen, a descoberta não seria capaz de criar super-humanos, com inteligência excepcional. Mas pode ser útil para auxiliar no tratamento de problemas cognitivos.