Estilo de vida
04/04/2019 às 10:00•3 min de leitura
Não restam dúvidas de que existem problemas de saúde que são exclusivamente femininos ou masculinos — assim como não restam dúvidas de que tanto mulheres como homens compartem um sem fim de condições também, sejam elas físicas ou mentais.
Só que no passado, se o paciente tivesse um “útero” e apresentasse quadros como ansiedade e/ou depressão ou não se comportasse como o esperado, os médicos logo botavam a culpa nas mais malucas doenças. Confira quatro delas a seguir:
Embora a histeria hoje seja considerada como uma neurose complexa relacionada com a instabilidade emocional — podendo se manifestar fisicamente em homens e mulheres na forma de paralisias e cegueira, por exemplo —, no passado ela era uma condição exclusivamente feminina.
A histeria foi descrita pela primeira vez há cerca de 4 mil anos pelos egípcios, que a identificaram como um distúrbio provocado pelo movimento espontâneo do útero. Os gregos antigos, por sua vez, primeiro associaram a condição com a mitologia e, com base em suas crenças, acreditavam que ela era resultado da migração do órgão pelo corpo e da “melancolia uterina” ocasionada pela falta de sexo.
Mais tarde, a histeria também foi caracterizada como um problema derivado no fluxo irregular do sangue, que ia do útero para o cérebro. Já na Idade Média, a histeria foi associada com a “fúria uterina” e até com a bruxaria e a adoração ao diabo! Independente da causa, os sintomas do distúrbio incluíam a insônia, a retenção de líquidos, espasmos musculares, irritabilidade, dores de cabeça, perda de apetite, desmaios e comportamento descontrolado.
Tanto os egípcios como os gregos sugeriam como tratamento que o útero fosse forçado à posição certa e, para isso, eles faziam as “histéricas” inalarem substâncias fétidas e colocavam outros preparados — igualmente fedorentos — próximos à vagina. A prática do sexo também era recomendada na Antiguidade, e durante a Idade Média o remédio muitas vezes era a fogueira.
Por sorte, na Era Vitoriana, a terapia adotada era a estimulação genital, e os procedimentos faziam tanto sucesso que os médicos criaram o vibrador para auxiliá-los durante os tratamentos. Foi só a partir das observações de Sigmund Freud que a histeria deixou de ser considerada exclusivamente um problema feminino e passou a ser estudada como um distúrbio mental.
Conhecido pelo nome em inglês de Vapours, o termo “vapores” era empregado no final do século 19 para descrever todo tipo de distúrbio — de ansiedade e depressão, incluindo desmaios e até a síndrome pré-menstrual (ou TPM).
Curiosamente, esse probleminha de saúde era especialmente popular entre as sufragistas — mulheres que iam às ruas e lutavam pelo direito de voto —, que eram consideradas mentalmente desequilibradas e nervosas por defender sua causa com tanto fervor. O tratamento pelo “mau comportamento” gerado pelos vapores geralmente envolvia o repouso e, às vezes, a inalação de sais.
Nós aqui do Mega Curioso já falamos a respeito do rosto de bicicleta, um “distúrbio” que surgiu no final do século 19, quando o uso do veículo como meio de transporte e para o lazer começou a se popularizar pelo mundo. Curiosamente, o problema afetava apenas as mulheres e, segundo os médicos da época, ele era provocado pelo esforço excessivo que elas tinham que empregar para pedalar, além da força necessária para se equilibrar sobre duas rodas.
Como resultado, a condição fazia com que as ciclistas ficassem com as mandíbulas apertadas e os olhos esbugalhados. Além disso, a “doença” deixava as mulheres com a face corada — ou pálida —, com os lábios ligeiramente deformados, expressão cansada e com olheiras. O tratamento, como você deve ter imaginado, consistia em, evidentemente, deixar de andar de bicicleta!
Nem precisamos explicar que o rosto de bicicleta se tratava de uma condição ridícula inventada pelos médicos, não é mesmo? Ela surgiu porque muita gente na Europa e nos EUA pensava que as bikes eram um instrumento do feminismo, já que, embora elas fossem vistas como meros brinquedos pelos homens, os veículos davam às mulheres maior mobilidade, além de provocar uma redefinição da atitude feminina e da própria feminilidade.
Embora o termo neurastenia seja conhecido pelos médicos, ele caiu em desuso em grande parte do mundo. Basicamente, ele se refere ao distúrbio psicológico provocado por ansiedade intensa e estresse emocional resultando na fadiga mental e física e foi empregado pela primeira vez no século 19.
Basicamente, a neurastenia funcionava como os “vapores” que descrevemos anteriormente no item 2, ou seja, o termo era usado para descrever toda classe de problema — quase sempre feminino. Assim, as mulheres que sofriam de nervosismo, irritabilidade, exaustão física, fraqueza, melancolia, palpitações e dor no peito muitas vezes eram diagnosticadas com a condição.
O tratamento indicado para os quadros de neurastenia era o descanso — para que as afetadas pudessem se livrar do mal com a serenidade, a paz e o sossego. Esse foi o caso da escritora Virginia Wolf, que inclusive descreveu em seu ensaio “On Being Ill”, de 1930, como enfrentou o problema.
*Publicado em 03/12/2015
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