Ciência
14/07/2017 às 02:00•3 min de leitura
Você já deve ter ouvido alguma coisa sobre a chamada síndrome do estresse pós-traumático, mas talvez ainda não saiba ao certo do que se trata. Infelizmente, estamos todos sujeitos a sofrer traumas psicológicos, que podem ser provocados por assaltos, acidentes, perdas, violência sexual, rompimentos de relacionamentos, demissões e por aí vai. Humanos que somos, a lista do que pode nos prejudicar emocionalmente é realmente grande.
Quando uma experiência negativa desencadeia um estresse emocional muito intenso, é possível que, mesmo depois de essa experiência acabar, ainda tenhamos os sintomas desse estresse. Normalmente, depois de um assalto à mão armada, por exemplo, é natural que a vítima passe alguns dias com medo de sair de casa, de ir ao banco, de andar na rua sem companhia. Depois de alguns dias ou semanas, a tendência é de que esse medo seja superado.
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O fato é que não é isso o que acontece com todo mundo, e muitas vezes, depois de um trauma psicológico intenso, a pessoa simplesmente não consegue voltar ao seu estado psicológico habitual. Entre os fatores que podem dificultar esse processo de recuperação psicológica estão a idade, a intensidade e o tempo de duração da experiência, a sensação de impotência que a pessoa sentiu, o significado que essa experiência teve na história de vida dessa pessoa e, claro, os sentimentos que o evento provocou: medo, pavor, raiva, angústia, nojo.
Quando falamos em traumas psicológicos, é preciso sempre levar em conta que cada pessoa reage de uma forma diferente tanto diante de experiências positivas quanto de negativas, e é por isso que tem gente que é assaltado, por exemplo, e fica traumatizado por muito tempo, enquanto algumas pessoas superam o evento em questão de horas ou dias. A questão é que determinadas situações ruins despertam em nós as lembranças de ocasiões igualmente ruins, que aconteceram no passado.
Dependendo de quais experiências passadas são despertadas em nossa mente, podemos seguir a vida normalmente depois de um tempo ou começar a apresentar sintomas de ansiedade, ter crises de pânico, depressão. O estresse pós-traumático em si é desenvolvido por uma parcela pequena de pessoas que sofrem grandes traumas.
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As crises de estresse pós-traumático geralmente se manifestam com sintomas que deixam os pacientes assustados, pois são uma série de sensações angustiantes. Entre elas, destacam-se o sentimento de que a pessoa está em um momento irreal, que passa em câmera lenta, que se parece com um pesadelo. Há quem afirme ter experimentado sensações de pânico, dor intensa, aperto no peito e a sensação de que o tempo está passando de maneira mais acelerada ou mais lenta.
Depois da crise, é comum que a pessoa se sinta anestesiada emocionalmente, sem energia e até mesmo fisicamente fraca. Com o passar do tempo, essas ocorrências podem se tornar mais frequentes, especialmente se não tratadas – em alguns casos, a pessoa pode entrar em um estado depressivo, sentindo-se constantemente desmotivada, sem interesses ou ânimo para nada.
Outra possibilidade é de que a pessoa desenvolva um padrão de fluxo de pensamento ansioso, pois vive com medo de que a situação se repita, o que acaba fazendo com que ela pense tanto na situação traumática em si quanto no episódio de crise de estresse pós-traumático com uma grande frequência.
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É muito comum também que o trauma desencadeie novos comportamentos como não ir ao banco, não sair de casa sem companhia, não ir a lugares específicos ou não passar mais por alguma região determinada. As crises podem ser provocadas também por estímulos que tragam à tona lembranças do trauma: sons, músicas, cheiros, gostos, olhares. Todas essas experiências obviamente podem afetar o humor da pessoa, que geralmente fica irritada, triste e em estado de alerta.
Em termos clínicos, quando a experiência de trauma gera esses sintomas por um período de até 1 mês, a pessoa experimenta o chamado “estresse agudo”; porém, quando os sintomas duram meses ou até anos, a classificação passa a ser de “estresse pós-traumático”.
Em alguns casos, ouvimos “distresse pós-traumático”, afinal a sensação de estresse constante passa a ser chamada de distresse para alguns especialistas, já que, por definição, estresse é algo que dura pouco tempo, e não longos períodos.
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Ainda que tudo isso pareça – e seja – realmente assustador, conhecer um pouco mais sobre o assunto é fundamental. Primeiro, porque nos ajuda a entender que situações de violência, de qualquer tipo, têm efeitos negativos em toda pessoa e que, dependendo da intensidade do trauma, esses efeitos podem desencadear o estresse pós-traumático.
Em segundo lugar, ter noção de que esse tipo de síndrome existe pode ajudar quem eventualmente experimenta esses sintomas, mas ainda não sabe por quê. Felizmente, é possível tratar o estresse pós-traumático, tanto com medicamentos quanto com terapia psicológica, e em ambos os casos as chances de bons resultados são altas.
Durante o tratamento, é fundamental que a pessoa tenha o suporte de amigos, familiares e pessoas próximas, com quem possa contar em casos de emergência e também com quem possa desabafar quando sentir que precisa. É fundamental não tratar uma vítima de trauma psicológico como se ela estivesse tentando chamar atenção ou “fazendo drama”.
A mente humana é muito mais complexa do que podemos imaginar, e não devemos ter medo de pedir ajuda quando algo não vai bem, afinal todas as pessoas, sem exceção, passam por momentos difíceis ao longo da vida. Se você sente que precisa de ajuda, se viveu algum tipo de trauma, não deixe de procurar apoio e tenha em mente que as coisas podem sempre melhorar.
*Publicado em 16/06/2016