Ciência
20/05/2019 às 09:00•3 min de leitura
Geograficamente falando, não há nada de muito especial na Área 51. Trata-se de uma base do exército estadunidense localizado a aproximadamente 130 quilômetros a noroeste de Las Vegas, Nevada (EUA). Entretanto, dificilmente alguém conseguiria conceber um alvo mais popular entre teóricos da conspiração — particularmente, aqueles ligados a qualquer coisa que possa ter vindo de algures no universo.
Histórias certamente não faltam. Fala-se em um local para execução de engenharia reversa em OVNIs — a fim de apreender a tecnologia miraculosa que os permitiria vir de tão longe para passar umas férias no meio de um deserto nos EUA, ou em alguma outra parte do planeta. Dissecações também não faltam, naturalmente. Há quem diga, de fato, que alguns espécimes vivos perambulam pelas instalações da famigerada base.
Imagem de satélite da Área 51 Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Há quem vá ainda mais longe, é claro. Certos “teoristas” dizem, inclusive, que quem realmente puxa as cordas na Área 51 é uma raça de extraterrestres. Para quê? Aí é que vem a melhor parte: para produzir uma raça de seres híbridos — em algum lugar entre um alienígena e um ser humano — que, eventualmente, tomará a Terra. Há uma justificativa: os extraterrestres teriam perdido a capacidade de se reproduzir.
Bem, mas o que há de realmente “concreto” nisso tudo? Difícil saber, já que se trata de uma base absolutamente vedada contra olhares de amadores curiosos — como a maior parte das instalações de cunho militar, vale dizer. Mas certamente é possível efetuar alguma “engenharia reversa” para chegar à origem de toda essa mitologia e burburinho.
A Área 51 começou a se tornar a Meca das especulações ufológicas ao final da década de 1980. Basicamente, no momento em que um sujeito chamado Robert “Bob” Lazar veio à mídia afirmando ser um ex-funcionário da base militar.
Robert "Bob" Lazar: o ponto de partida para a transformação da Área 51 em uma Meca da ufologia Fonte da imagem: Reprodução/boards.420chan
Lazar afirmou à época que havia trabalhado, entre 1988 e 1989, em um setor denominado de “S4”. As tarefas seriam bem pouco usuais: o pretenso físico/cientista — cujo grau jamais foi comprovado — seria incumbido de realizar engenharia reversa em espaçonaves extraterrestres de formato “discóide”. Sim, no plural, já que, de acordo com ele, pelo menos nove modelos distintos foram profundamente investigados por ele e por sua equipe.
A ideia era descobrir e, posteriormente, tomar propriedade da tecnologia de propulsão utilizada pelas raças alienígenas avançadas que haviam desembarcado por aqui. Ainda de acordo com ele, o trabalho lhe foi originalmente apresentado pelo Dr. Edward Teller — ucraniano também conhecido como o “Pai da Bomba H”.
Toda teoria da conspiração deve ter sua dose de dados vagamente científicos, como todo bom escritor de ficção científica bem deve saber. Para Bob Lazar, a consubstanciação do que ele pregava em artigos para rádio e TV era o ununpêntio, um elemento químico transurânico e radioativo (de número atômico 115), obtido apenas de forma sintética até hoje.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
De acordo com o teorista, o ununpêntio era a fonte principal utilizada para propulsão das espaçonaves alienígenas desmanteladas pelo governo estadunidense. Lazar afirmou que a tecnologia consistia no bombardeamento do material com partículas, o que acabava por “amplificar” a sua força nuclear, gerando uma distorção do campo gravitacional.
Dessa forma, os discóides poderiam alterar dramaticamente a sua relação com o espaço circundante, consequentemente encurtando as distâncias percorridas, de acordo com um destino mapeado. Lazar afirmava que os estoques do poderoso material haviam sido o presente de uma civilização extraterrestre para os povos da Terra — que deveriam utilizá-los em seus próprios veículos.
De fato, a existência concreta do ununpêntio foi confirmada por uma equipe de cientistas russos e americanos em 2004, quando o grupo conseguiu produzir um isótopo instável do elemento 115.
No que se refere à teoria de Lazar, entretanto, um de seus críticos afirmou que o isótopo obtido em laboratório era incrivelmente efêmero, com uma meia-vida da ordem de apenas alguns segundos — e não de anos, como queria o suposto físico.
Ununpêntio: isótopo "não alienígena" tem meia-vida de apenas alguns segundos Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
O contra-argumento de Lazar baseava-se no fato de que o ununpêntio das naves da Área 51 havia sido composto em formações estelares distantes. Isso os tornaria mais estáveis do que suas contrapartes obtidas em laboratório por meios convencionais. Por fim, ele apregoa: em um futuro próximo, o 115 ainda nos servirá como combustível.
Bob Lazar foi fortemente desacreditado nos anos subseqüente à sua “revelação” da Área 51 e de suas supostas experiências ultrassecretas — entre outros motivos, porque se constatou que, em vez de um grau no respeitado MIT, Lazar possui apenas uma colocação em antepenúltimo lugar em sua escola secundária. De fato, os próprios EUA já tornaram pública há muito tempo a existência do local.
375, a "Rodovia Extreterrestre" de Nevada (EUA) Fonte da imagem: Reprodução/GNU
Entretanto, após inúmeras teorias da conspiração, e após um número igualmente enorme de contribuições de Hollywood para a mitologia do local, é pouco provável que a Área 51 deixe o imaginário popular tão cedo. E o motivo pode ser tão velho quanto a própria humanidade: o vácuo deixado por informações concretas pode ser ocupado por praticamente qualquer coisa.