Artes/cultura
30/08/2018 às 02:00•4 min de leitura
“Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca, ajustando o elástico em volta da cabeça, e depois auxilie os outros, caso necessário. Em caso de pouso na água, lembre-se que seu assento é flutuante”:
Se você já viajou ou faz viagens frequentes de avião, está bastante acostumado com esses avisos e até já decorou essas instruções de segurança faladas pelos comissários de voo. Em nenhum momento eles dizem: “O seu paraquedas está localizado abaixo de seu assento para seu uso em caso de uma pane no avião”.
Realmente, os voos comerciais não contam com esse equipamento. Mas qual será o motivo?
Os cintos de segurança e airbags em carros salvam muitas vidas. Assim como os paraquedas salvam pessoas que, por diversas razões, precisam sair velozmente de um avião em pleno voo, geralmente em aeronaves menores ou da força aérea.
Porém, em voos comerciais, os paraquedas não estão disponíveis em casos de emergência, e isso tem explicação. A primeira é porque é quase certo que eles não iriam salvar a vida de ninguém. Mas, antes de falar sobre isso, vamos observar as características dos aviões mais conhecidos para voos comerciais.
Talvez os aviões comerciais mais populares do mundo sejam os da “família” Boeing 737. Por exemplo, o 737-800 pode transportar cerca de 200 pessoas (incluindo a tripulação).
Embora as suas velocidades possam variar um pouco, o 737-800 viaja a cerca de 965 km/h, quando a sua altitude de cruzeiro é de cerca de 10,6 mil metros (35 mil pés). Altitudes de cruzeiro são atribuídas por controladores de tráfego aéreo e ficam geralmente até 12 mil metros, exceto para voos mais longos, que podem ir um pouco mais alto.
Fonte da imagem: Shutterstock
Em voos específicos para a prática de paraquedismo, o avião normalmente viaja entre 130 a 180 km/h quando o paraquedista salta. Os saltos em queda livre acelerada ocorrem entre três a quatro mil metros, enquanto saltos estáticos podem acontecer em altitudes mais baixas, como mil metros.
Paraquedistas experientes podem dar saltos mais arriscados, embora quando as descidas começam em altitudes maiores, de 4,5 mil metros, o risco de hipóxia (deficiência de oxigênio) aumenta significativamente, afetando a tomada de decisões seguras e eficazes em momentos críticos.
Por essa razão, os paraquedistas que saltam a 4,5 mil metros ou mais transportam oxigênio suplementar. Agora, imagine um salto a seis mil metros ou mais, como seria o caso de saltar de um avião comercial a 10,6 mil metros? O risco de falta de oxigênio é extremamente maior, além da velocidade da aeronave também ser mais rápida.
Além disso, cada paraquedas pode pesar cerca de 18 quilos e o equipamento é caro. Para ser totalmente equipado — com o paraquedas principal, o reserva, DAA (Dispositivo de Acionamento Automático), altímetro, macacão, capacete e óculos —, um “kit” completo custaria mais de 13 mil reais cada, segundo um artigo do Gizmodo.
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Isso sem contar que seria necessário um “minicurso” de treinamento para os passageiros de, no mínimo, quatro horas (tempo mínimo de instruções de saltos individuais), pois a utilização do equipamento não é tão simples, ainda mais em situações de pânico e para quem nunca usou. Por isso, quem se aventura em um salto por diversão, o faz com a companhia imprescindível de um instrutor capacitado para salto duplo.
Em uma situação em que o avião está caindo, você tem pouquíssimo tempo para pegar o paraquedas e colocá-lo corretamente, tendo ainda que manter a máscara de oxigênio firmemente presa e também o cinto de segurança para não ser arremessado na cabine. Considerando todas essas variáveis, é improvável que a disponibilidade do equipamento salve muitas vidas.
Além disso, todos teriam que manter a calma e saltar de forma ordenada, o que exigiria esperar pacientemente a sua vez de sair. E isso seria muito difícil de acontecer entre pessoas desesperadas em pânico. Mas a inviabilidade dos paraquedas em voos comerciais ainda não para por aí.
Em um avião com capacidade para 200 pessoas, incluindo a tripulação, o peso de todos os equipamentos de paraquedismo necessários somaria quase quatro toneladas à aeronave, o que já não seria bom.
Além disso, ele ocuparia muito espaço em um lugar já tão restrito. Mesmo que tivesse um compartimento disponível para acomodar o equipamento volumoso, é possível que seu uso fosse desperdiçado em situações extremas. Confira abaixo por qual razão.
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O único momento possível para as pessoas saltarem do avião é enquanto ele está estabilizado. No entanto, os acidentes mais fatais ocorrem durante a decolagem e o pouso. Para ter uma ideia, entre 2003 e 2012, apenas 9% de todos os acidentes fatais ocorreram enquanto o avião estava em pleno voo, conforme relatado em uma estatística da Boeing.
Além disso, pelo menos um desses acidentes aconteceu como resultado de fortes rajadas de vento ou trovoadas intensas. Estas são duas situações em que o uso do paraquedas é extremamente perigoso, mesmo que você seja um especialista da área.
Assim, mesmo que fosse viável saltar de um avião, as condições em que os paraquedas poderiam, teoricamente, salvar vidas quase nunca são aparentes em acidentes fatais comerciais. Mas, mesmo assim, ainda não seria uma boa ideia, pois os equipamentos teriam que ganhar ainda mais itens para contribuir com uma sobrevivência em um salto de grande altitude.
A 10,6 mil metros, todos os passageiros teriam equipamentos de grande altitude, que inclui um tanque de oxigênio, máscara e regulador, macacão especial de voo, capacete balístico e altímetro específico. Sem isso, a probabilidade é de que a pessoa desmaie devido à falta de oxigênio e acorde mais tarde com o paraquedas aberto automaticamente (ou não) a menos de 4,5 mil ou 6 mil metros.
No entanto, essa possibilidade é quase ilusória, visto que o avião se move tão rápido (chegando a mais de 900 km/h em algumas aeronaves) que muitos passageiros certamente se chocariam nele ao tentar sair e sofreriam lesões debilitantes, se não fatais.
De acordo com a Aircraft Crashes Record Office, com sede em Genebra, entre 1940 e 2008, existiram 157 pessoas que caíram de aviões durante um acidente, sem paraquedas, e sobreviveram para contar a história.
Além disso, 42 dessas quedas ocorreram em alturas de mais de 3 mil metros! Um dos casos envolveu um oficial britânico cujo avião foi derrubado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele caiu a mais de 5,5 mil metros sem paraquedas. Sua queda foi amortecida por pinheiros e neve macia. Depois de sua "aterrissagem", ele se viu ileso de ferimentos graves, tendo apenas uma torção na perna.
Vesna Vulovic Fonte da imagem: Reprodução/NY Times
Já Vesna Vulovic, uma aeromoça da Iugoslávia, sobreviveu a uma queda de 10.160 metros (33 mil pés) quando o avião em que ela estava viajando explodiu sobre a Tchecoslováquia, em 26 de Janeiro de 1972. Ela manteve-se presa no seu assento de tripulante na cauda do avião, que se manteve preso aos banheiros.
Estas partes do avião caíram numa montanha coberta de neve, o que amorteceu de certa forma o impacto da queda. Vulovic quebrou as duas pernas e ficou 27 dias em coma e temporariamente paralítica. Nenhum outro passageiro sobreviveu à queda.
Em dezembro de 2006, Michael Holmes, um paraquedista britânico, sobreviveu a uma queda de 3,9 mil metros, quando o seu paraquedas principal e também o de reserva falharam na abertura. Ele caiu na Nova Zelândia, em um arbusto de amora-silvestre, e apenas quebrou o tornozelo e perfurou um pulmão.
*Publicado originalmente em 26/02/2014.
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