Artes/cultura
17/06/2015 às 12:26•3 min de leitura
Apesar de hoje se tratar de uma tradição que usa unicamente armas de fogo, a origem do gesto é anterior a elas. Ela vem da época em que guerreiros andavam por todos os lugares, e colocavam as pontas de suas armas no chão para indicar que vinham pacificamente.
Mesmo com o advento e popularização da pólvora, a tradição continuou, ainda que tenha mudado bastante. Quando canhões se tornaram algo comum tanto em terra quanto em navios, por volta do século 14, virou costume que as embarcações que se aproximavam de um porto estrangeiro disparassem todas as suas armas. Como a recarga era relativamente demorada, isso servia de garantia para indicar que o barco estava “indefeso” e que não tinha intenções hostis no local.
Com o tempo, o costume mudou novamente. Quando um navio inglês chegava a uma nova cidade portuária, disparava apenas sete vezes. Isso se dava provavelmente por motivos religiosos – o sete é um número recorrente na Bíblia –, mas não há uma fonte que comprove essa teoria. Outra ideia era de que a maior parte dos navios ingleses portavam apenas sete armas, e por isso os sete disparos. Adotou-se então o padrão de sempre se saudar um porto com esse número de tiros para indicar intenções pacíficas.
Obviamente, a maioria dos navios da época carregava munição suficiente para disparar contínuas vezes, mas o ato era meramente simbólico. Outra teoria diz que o sete foi escolhido por ser um “número da sorte” entre os marinheiros da época, que eram muito supersticiosos. Durante um tempo foi comum disparar uma salva de balas com um número par para indicar que o capitão de um navio havia morrido durante a viagem.
Para indicar que o gesto tinha sido recebido e aceito, os responsáveis pela defesa da cidade atiravam em resposta. No entanto, três tiros eram dados para cada um dos sete vindos da embarcação, totalizando 21 disparos. A provável razão disso era mostrar que o lugar, embora estivesse recebendo aqueles marinheiros, estava bem preparada para se defender. Novamente, isso é mera especulação, já que não relatos formais para essa teoria.
O que se tem registrado é que, depois de um tempo, os próprios navios passaram a disparar também 21 tiros. Já que as embarcações foram se tornando cada vez maiores e necessitavam estar mais bem equipadas, é provável que os capitães quisessem mostrar que seriam um desafio à altura. Logo, a salva deixou de ser uma “declaração de boas intenções” e passou a ser uma saudação formal.
No começo do século 18, por volta de 1730, o governo britânico passou a reconhecer oficialmente o gesto, inclusive autorizando que a Marinha Real usasse os 21 tiros como forma de honrar membros da família real em aniversários. Em 1808, essa passou a ser a maneira oficial de se honrar a realeza britânica.
Com o tempo, outras nações também adotaram a saudação em seus ritos oficiais. Os Estados Unidos, no entanto, demoraram muito mais para “aderir” à ideia. Isso porque em 1810 o país estabeleceu que o gesto adequado para reverenciar seus dignitários era um tiro para cada estado da União. Como esse número só crescia a cada ano, logo o gesto ficou extremamente longo e inadequado.
Em 1842, os EUA adotaram os 21 tiros apenas como a saudação presidencial. Em 1875, a Inglaterra propôs que a nação americana adotasse a salva de 21 disparos para seus representantes, da mesma forma que a maioria dos países europeus já fazia, o que foi aceito. Apenas em 1890 que o gesto foi aceito como saudação nacional pelo congresso americano.
Ainda hoje, a salva de 21 tiros significa uma grande demonstração de respeito a alguma autoridade. Nos Estados Unidos, ela é reservada para honrar o presidente, vice-presidente e chefes de Estado estrangeiros, podendo ser disparada também em homenagem à bandeira americana. Também se realiza os tiros ao meio-dia da data em que é realizado o funeral de um presidente, ex-presidente ou presidente eleito, assim como no Memorial Day, feriado nacional daquele país.
No Brasil, ela acontece para saudar o presidente da República, um chefe de Estado estrangeiro no momento de sua chegada à capital federal, e os presidentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, por ocasião das sessões de abertura e de encerramento de seus trabalhos.
Curiosamente, a salva de balas que acontece em enterros militares, que geralmente vemos em filmes, não possui necessariamente 21 tiros. Ela deve ter três sequências de disparos seguidas, mas o número de atiradores pode variar entre cinco e oito, segundo o regimento militar dos EUA. Ela surgiu de uma tradição dos campos de batalha, onde os dois lados cessavam fogo temporariamente para recolher seus mortos. As três salvas então serviam para indicar que o confronto podia continuar.