Ciência
09/12/2014 às 11:20•3 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar de Josef Mengele, o oficial nazista que ficou conhecido pelo sinistro apelido de “Anjo da Morte”. E de acordo com Matt Blitz do site Today I Found Out, não é a toa que o alemão era chamado dessa maneira, afinal era ele quem decidia qual seria o destino dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz que, como você sabe, foi um dos mais terríveis campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.
Filho de um próspero empresário alemão, Mengele cresceu na cidade de Günzburg, localizada na Baviera, e sua família era a mais abastada do local. Como era o filho mais velho, seus pais esperavam que ele assumisse os negócios, mas, em 1930, quando tinha 19 anos de idade, Josef se mudou para Munique onde ingressou na universidade para estudar medicina.
Segundo Matt, é difícil determinar quando exatamente Mengele passou para o “lado negro”, mas se sabe que ele se sentia fortemente persuadido pelo Movimento Socialista Nacional. Quando entrou para a universidade, o partido nazista já havia conquistado bastante espaço político, e Hitler iniciava sua ascensão ao poder. Ainda na faculdade começou a se interessar por genética e evolução, e a estudar sob a tutela de professores que defendiam a eugenia nazista.
Mais especificamente, Mengele foi aluno de Ernst Rudin — a mente por trás da lei de esterilização compulsória decretada por Hitler em 1933 —, e se envolveu no estudo da melhoria da “raça ariana” por meio da eliminação dos agentes que ameaçassem empobrecê-la através da castração ou simplesmente pelo extermínio. E, esses agentes incluíam indivíduos com qualquer tipo de deformidade, negros, homossexuais, ciganos e, evidentemente, judeus.
Depois de se formar em medicina, seu primeiro emprego foi em um hospital e, em 1937, Mengele foi contratado como pesquisador assistente pelo Instituto de Hereditariedade, Biologia e Pureza Racial da Universidade de Frankfurt. Uma vez lá, Josef se tornou pupilo de Otmar Freiherr von Verschuer, cientista especialmente interessado em estudos com gêmeos — e defensor fervoroso das políticas de “higiene racial” instituídas por Hitler.
Auschwitz-Birkenau
Não demorou até que Mengele fosse aceito oficialmente pelo partido nazista e, em 1938, ele se tornou membro da SS — de Schutzstaffel — ou “Tropa de Proteção” em português. Com a iminência da guerra, Josef passou por treinamento militar e lutou durante os primeiros anos para o Terceiro Reich como médico, e em 1942, foi dar continuidade a suas pesquisas com Verschuer no Instituto de Antropologia, Genética Humana e Eugenia Kaiser Wilhem.
Foi só em 1943 que, depois de receber a benção do tutor Verschuer, Mengele se candidatou para trabalhar em Auschwitz e, assim, poder tirar proveito dos prisioneiros do local para suas pesquisas. Quando Mengele chegou a esse infame campo de concentração — um gigantesco complexo equipado com bibliotecas, piscinas, campo de futebol e até um bordel! —, Auschwitz contava com 140 mil prisioneiros.
Bloco 10
Localizado no sul da Polônia, mais de um milhão de pessoas foram exterminadas em Auschwitz durante a guerra. Cada vez que os pobres prisioneiros eram inspecionados, havia um oficial que jamais perdia as revistas e gesticulava para os soldados indicando quem seria enviado aos campos de trabalho e quem iria para as câmaras de gás. Devido a essa atividade — e ao poder de decidir quem viveria e quem não — Mengele recebeu o apelido de “Anjo da Morte”.
Mengele se tornou o médico chefe da principal enfermaria do campo, e foi então que seus notórios — e completamente diabólicos — experimentos tiveram lugar, mais especificamente no bloco 10 de Birkenau, que fazia parte do complexo.
Assim como Verschuer, seu mentor, Mengele se interessava pelos atributos médicos de gêmeos — principalmente crianças —, e com frequência separava os pares e matava um dos irmãos para ver o que o outro sentia. Josef também costumava estudar as semelhanças e diferenças entre os gêmeos, e tinha especial fascínio por olhos. Assim, outro experimento que ele realizava regularmente envolvia arrancar esses membros para avaliá-los.
Ao longo do tempo, Mengele começou expandir seu interesse “médico” para além dos gêmeos e — segundo um relatório do Departamento de Justiça dos EUA sobre o monstro — a empregar seu conhecimento sobre o funcionamento da vida para destruí-la. Aliás, investigações apontaram que Mengele não sentia qualquer remorso por todos os experimentos grotescos que realizou nem por todas as vidas que aniquilou.
Quando os soviéticos tomaram Auschwitz em janeiro de 1945, o “Anjo da Morte” já havia escapado. Mengele conseguiu escapar das forças soviéticas e norte-americanas fugindo com caixas e mais caixas contendo suas pesquisas por territórios alemães ocupados, trabalhando em fazendas até chegar a Gênova em 1949. De lá Mengele fugiu para a Argentina, onde viveu durante cinco anos usando nomes falsos e cuidando de uma farmácia.
Depois de um incidente no qual uma jovem faleceu sob seus cuidados durante um aborto, Mengele fugiu para o Paraguai e, em 1960, depois de o Mossad — serviço secreto israelense — capturar outros fugitivos nazistas, Josef veio parar aqui no Brasil. Até onde se sabe Mengele vivia em São Paulo, e continuou por lá durante 17 anos, até seu falecimento em 1979.
Josef Mengele foi enterrado com o nome falso de Wolfgang Gerhard, mas sua identidade verdadeira só foi confirmada mais de uma década depois. Seu corpo foi exumado em 1985 — no cemitério de Rosário, localizado em Embu das Artes —, e exames de DNA comprovaram que se tratava do “Anjo da Morte” em 1992. O médico alemão jamais foi julgado ou punido por todo o mal que provocou.