Estilo de vida
27/02/2015 às 11:43•6 min de leitura
É uma lástima que devido à instabilidade política, social e econômica que o Sudão vem enfrentado, assim como a vulnerabilidade da região na qual o país se localiza, essa bela e fascinante nação não seja o destino mais seguro do mundo atualmente. Por sorte, nada nos impede “viajar” até lá — nem que seja virtualmente! —, e é por isso que nós aqui do Mega Curioso decidimos dedicar o Próxima Parada de hoje ao Sudão. Preparado?
O Sudão faz fronteira com o Egito, Etiópia, a Líbia, com o Chade, a República Centro-Africana, Eritreia e com a República do Sudão do Sul, e conta com uma área total de 1.861.484 quilômetros quadrados, ou seja, ele é um pouco maior do que o Estado do Amazonas e de Rondônia juntos.
A população total soma quase 35,5 milhões de habitantes, e os idiomas oficiais são o árabe e o inglês, embora o núbio, o ta bedawie e o fur também sejam falados pelo país. Sua capital é Cartum — que conta com uma população de aproximadamente 1,4 milhões de habitantes —, e o Sudão foi o maior país da África e do mundo árabe até 2011, quando ocorreu a separação do Sudão do Sul.
O Sudão conquistou sua independência do Reino Unido em 1956 e, desde então, sua política foi dominada por governos militares com orientação muçulmana. O país ainda enfrentou duas longas e violentas guerras civis cujos efeitos são sentidos que até hoje, e ambos os conflitos — um que terminou em 1972 e outro que começou em 1983 — foram desencadeados pela dominação política, econômica e social do norte do Sudão sobre o sul, de maioria não muçulmana e não árabe.
Como resultado, ao logo de um período de duas décadas, mais de 2 milhões de pessoas perderam suas vidas, e mais de 4 milhões tiveram que abandonar suas casas. Como se fosse pouco, outro conflito, que aconteceu na região de Dafur em 2003, resultou em um número de mortes estimado entre 200 mil e 400 mil, e na evacuação de outros quase 2 milhões de sudaneses.
Entre os anos de 2002 e 2004, vários compromissos de paz foram firmados e, em 2005, um acordo entre o norte e o sul foi assinado. Finalmente, em 2011, por meio de um referendo, o sul do Sudão ganhou sua independência, e até hoje rebeldes separatistas do norte brigam em regiões de fronteira. Para piorar, instabilidades em diversos países vizinhos promoveram um grande fluxo de refugiados — principalmente vindos da Etiópia e do Chade — para o país.
Assim, por conta de todos esses — e outros tantos — problemas, é fortemente recomendado que os turistas que se aventuram a ir ao país tenham bastante cuidado e não atrevam a visitar determinadas regiões. No entanto, apesar de o Sudão estar enfrentado dificuldades, isso não significa que ele não seja um país fascinante. Só significa que temos que torcer para que a paz volte a reinar logo na região, e que o Sudão se torne seguro para receber visitantes.
Meroé
Não pense que é só no Egito que podemos encontrar pirâmides, templos gigantes, estátuas de deuses imponentes ou um deserto de dunas e areias douradas que se estende a perder de vista. O Sudão, apesar de não ter tanta fama como seu vizinho ilustre, também conta com todas essas atrações e muitas outras que ajudam a contar a história da civilização humana — mas ainda não foram totalmente exploradas pelo resto do mundo.
Entre essas atrações está a antiga cidade de Meroé — sobre a qual já falamos aqui no Mega Curioso —, que abriga mais de 200 pirâmides que datam de 800 a.C. e está listada como Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Além disso, equipes de arqueólogos descobriram inúmeras peças de bronze dos antigos romanos, assim como peças de cerâmicas e esculturas nos arredores desse incrível sítio.
Pirâmides de Meroé
Além de Meroé, escondida no meio de enormes dunas alaranjadas se encontra a espetacular Begrawiya, uma antiga necrópole real também repleta de pirâmides estreitas. No total, existem aproximadamente 100 dessas estruturas — ou suas ruinas —, e elas se encontram divididas em dois grupos principais que ficam separados por algumas centenas de metros de areia.
Algumas das tumbas e antecâmaras das pirâmides ainda mantêm hieróglifos bem preservados, e a visitação é gratuita. No entanto, o melhor de tudo é que o local, ao contrário do que acontece no Egito, Begrawiya não conta com milhares de turistas se espremendo e empurrando para clicar as melhores fotos.
Deffufa Oriental em Kerma
Ao longo dos 400 quilômetros que separam Wadi Halfa e Dongola é possível encontrar centenas de sítios históricos e vilarejos núbios, assim como belas paisagens naturais próximo às margens do Nilo e ao longo do deserto. Um dos locais que merecem uma paradinha é Kerma, uma das cidades habitadas mais antigas de toda a África e, portanto, de incrível importância histórica e arqueológica.
Para que você tenha uma ideia, existem registros de que a área vem sendo ocupada por humanos há 8 ou 10 mil anos. Além disso, é em Kerma que estão duas famosas estruturas conhecidas como Deffufas, ou seja, dois templos gigantes feitos de tijolos que possivelmente também são os mais antigos de todo o continente africano.
E quão grandes são esses templos? Um dos Deffufas — o ocidental —, conta com 19 metros de altura e 50 de comprimento, e ninguém sabe ao certo qual era a sua finalidade, embora o consenso seja de que o templo servia para funções religiosas. O outro Deffufa, o oriental, fica localizado a cerca de três quilômetros do primeiro, ainda está sendo explorado pelos arqueólogos.
Contudo, tudo parece indicar que esse Deffufa seja uma antiga necrópole real. Nesse local, foram encontradas diversas tumbas reais, além de outras 30 mil sepulturas ocupadas por indivíduos que mostram sinais de terem sido sacrificados durante rituais — provavelmente para acompanhar os reis em sua viagem ao além.
E a coisa não para por aí: ao redor das sepulturas ritualísticas, os arqueólogos ainda descobriram mais de cinco mil crânios de animais. Ainda em Kerma, também existe um sítio bem interessante chamado Duki Gail, que consiste nas ruinas de um enorme templo com paredes de 2 metros de espessura.
Mesquita Khatmiyyah
Localizada aos pés das Montanhas Taka, Kassala é a localidade que parece reunir boa parte das tribos da região norte do país, que se encontram por lá para visitar seus enormes souqs — ou mercados repletos de cores e aromas que compõem um fascinante mosaico cultural —, a belíssima Mesquita Khatmiyyah e as animadas corridas de camelo que ocorrem anualmente entre setembro e outubro.
E para quem sempre quis saber como era a vida nos antigos vilarejos núbios às margens do Nilo, Karima oferece a oportunidade de que os visitantes façam uma verdadeira viagem no tempo. E de quebra a cidadezinha ainda conta com uma extraordinária coleção de sítios de importância histórica no “currículo” — como as pirâmides de Gebel Barkal e Nuri, e as tumbas de El Kurru — que renderam a toda localidade o título de Patrimônio da Humanidade da UNESCO.
Gebel Barkal
Cansado de tanta antiguidade? Ao contrário do que muitos esperam encontrar ao chegar em Cartum, a capital está longe de ser uma cidade pouco desenvolvida e antiga. Além de dinâmica e moderna, a paisagem da localidade é marcada por inúmeros arranha-céus e blocos de edifícios.
E para completar, em Cartum os turistas ainda podem se aventurar por fascinantes souqs (entre os quais o de Omdurman, que é o maior e mais famoso do país), desfrutar das belas vistas às margens do Nilo (que passa pelo meio da cidade), visitar monumentos (como a Tumba de Mahdi), museus, e se surpreender com a hospitalidade e simpatia da população.
Para quebrar a rotina de tanta areia, dunas e as características cores do deserto, a região nos arredores dos Montes Nuba, no coração do país, é surpreendentemente verde e fértil. Essa área é ocupada por cerca de 60 tribos, e todos os anos — geralmente entre novembro e fevereiro — ocorrem diversos festivais chamados Sebir para celebrar as colheitas.
Os Montes Nuba seriam um excelente descanso para os olhos — cansados de ver tanto deserto e aridez pela frente — não fosse pela crítica situação da região. O território se encontra no meio de uma área de conflito entre as tropas sudanesas e os grupos rebeldes que lutavam pela independência do sul, e foi palco de numerosas atrocidades.
O problema é que o processo de separação ocorreu muito recentemente (em 2011), e a população ainda sofre profundamente com as consequências da guerra — portanto, não é recomendado que os turistas se aventurem por lá. Quem sabe um dia...
Interior de uma das tumbas de El Kurru
Nuri