Ciência
28/08/2018 às 04:00•5 min de leitura
Nos dois primeiros séculos da era cristã, o Novo Testamento ainda não havia sido finalizado e a declaração definitiva de crença ortodoxa, o Credo Niceno, ainda estava longe de acontecer.
O mundo romano foi o lar de muitas seitas rotuladas como "cristãs", mas que tinham doutrinas muito diferentes. Se você acha que algumas religiões cristãs modernas são confusas, elas vão parecer extremamente simples perto dessas que você verá a seguir.
Fonte da imagem: Reprodução/List Verse
Os Simonianos tinham esse nome, pois eram seguidores de Simão, o Mago, um personagem bíblico que foi repreendido pelo apóstolo Pedro (At. 8, 9-24) em Samaria. O texto bíblico narra o episódio em que Simão tenta comprar dos apóstolos o poder de operar milagres.
Tal ato, considerado pecaminoso pela teologia cristã, foi denominado de simonia (ato de Simão), termo que define especificamente o comércio ou tráfico de coisas sagradas e espirituais, tais como sacramentos, dignidades, indulgências e benefícios eclesiásticos.
De acordo com o bispo Irineu de Lyon, Simão seria o pai de todos os hereges. Simão contou uma história na qual o primeiro pensamento (ou concepção) feminino de Deus, chamado Ennoia, foi para os mundos inferiores para criar anjos. Infelizmente, os anjos se rebelaram contra ela e ela foi aprisionada no corpo de uma mulher. Segundo Simão, ela habitava um corpo através de sucessivas reencarnações, sendo que um deles foi Helena de Tróia.
A história conta que Deus finalmente desceu a Terra como Simão o Mago, a fim de resgatá-la, quando encontrou sua mais recente encarnação, também chamada Helena, trabalhando como prostituta na cidade fenícia de Tiro. Foi quando em forma humana que Deus/Simão pregou contra os anjos rebeldes que criaram o mundo.
Há indícios nos escritos de Simão que ele também se identificou como o Cristo, que sofreu na Judéia. Ele ensinou que as pessoas que se voltavam para ele e Helena (que foi identificada como o Espírito Santo) seriam salvas pela graça, não pelas obras.
Os simonianos foram acusados de usar mágica, encantamentos, poções do amor e, de maneira geral, de viver vidas muito desordenadas e imorais. O bispo Eusébio de Cesareia (265 a 339 d.C.) afirmou que o simonianismo era a mais imoral e depravada seita do mundo. De modo geral, dizia-se que eles não acreditavam que nada em si era bom ou mau por natureza: não eram boas obras que faziam dos homens santos no próximo mundo, mas a graça impingida por Simão e Helena naqueles que os seguiam
Fonte da imagem: Reprodução/List Verse
O Montanismo foi um movimento cristão fundado por Montano por volta de 156-157 d.C., que se organizou e difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no Norte de África. Por ter se originado na região da Frígia, Eusébio de Cesareia relata em sua História Eclesiástica (V.14-16) que ela era chamada de Heresia Frígia na época.
O movimento era um antigo precursor do pentecostalismo moderno, com sua ênfase na profetização em transe e no ato de falar sob o suposto domínio do Espírito Santo. Montano foi um sacerdote do culto pagão de Átis e Cibele, que tinha uma tradição de comportamento profético entre suas sacerdotisas.
Enquanto o movimento não diferiu muito das crenças da Igreja Católica proto-ortodoxas, houve desvios significativos em relação à doutrina. Por um lado, Montano permitia mulheres em posições de destaque na seita, como bispos, presbíteros e diáconos. Suas duas principais eram as profetisas Maximila e Priscila, que afirmavam que o Espírito Santo falava através delas.
Montano afirmava possuir o dom da profecia e que havia sido enviado por Jesus Cristo para inaugurar a era do Paráclito. Durante os supostos “transes” das profetisas, elas anunciavam o fim iminente do mundo, conclamando os cristãos a reunirem-se na cidade de Pepusa, na Frígia, onde surgiria a Jerusalém celeste, uma vez que uma nova era cristã se iniciava com esta nova revelação divina.
O seu adepto mais famoso foi Tertuliano (c. 170-212), um dos primeiros doutores da Igreja, autor de inúmeras obras em defesa da Cristandade. Em torno de 210, insatisfeito com o pensamento cristão e suas práticas, uniu-se ao Montanismo, sendo considerado herético.
As perseguições à igreja aumentaram sensivelmente durante o governo do imperador Constantino I, que contra ela expediu severos decretos imperiais. O movimento perdurou, entretanto, até ao século VIII.
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A teologia de Marcião de Sinope, chamada marcionismo, propunha dois deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no Novo Testamento, e foi denunciada pelos Santos Padres e ele foi excomungado. Outra teoria também diz que ele teria sido expulso da igreja por "seduzir uma virgem", mas essa acusação pode ser apenas parte do trabalho que seus inimigos lançaram contra ele.
Segundo o teólogo Hipólito de Roma, Marcião era filho de um bispo na cidade de Sinope, na província romana do Ponto (atualmente na Turquia). O que se sabe é que ele chegou a Roma e começou a ensinar suas doutrinas, atraindo um grande número de seguidores e ameaçando a própria existência da recente Igreja Romana. O Bispo Policarpo de Esmirna o chamou de “primogênito de Satanás".
Marcião afirmava que Jesus Cristo era o salvador enviado por Deus Pai, com Paulo como seu principal apóstolo. Ao contrário da nascente igreja, Marcião declarava que o Cristianismo era distinto e oposto ao Judaísmo.
Além disso, contrário ao que muitos acreditam, Marcião não afirmou que a Bíblia e as escrituras judaicas eram falsas. Ele acreditava e argumentava que ela deveria ser lida de maneira absolutamente literal, provando assim que o Deus judeu Yahweh não era o mesmo a quem Jesus se referia.
Obviamente, ele rejeitou os escritos judaicos (o que viria a ser o Antigo Testamento), bem como, compilou um novo cânone dos livros sagrados. Para este fim, ele produziu um "Evangelho" (uma versão inicial do Evangelho de Lucas) e recolheu as epístolas de Paulo , introduzindo assim a ideia de um Testamento "Novo".
Ele considerava que Paulo foi o único apóstolo a entender verdadeiramente a mensagem de Jesus. Marcião proibia o casamento e pediu o celibato de seus seguidores (mesmo os casados), uma vez que trazer mais crianças para o mundo significava trazer mais pessoas para o “cativeiro” de Yahweh.
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Enquanto os seguidores do marcionismo praticavam extremo celibato, a seita liderada por Carpócrates de Alexandria foi acusada de intensa libertinagem.
Os carpocracianos acreditavam na reencarnação e o bispo Irineu de Lyon disse que os membros do grupo foram encorajados a experimentar tudo o que havia na vida. Dessa forma, eles não teriam de reencarnar para experimentar o que tinham perdido, incluindo todas as formas de imoralidade.
Irineu poderia estar exagerando em suas declarações sobre a seita, mas os carpocracianos de fato se orgulhavam de estarem acima de todas as leis morais, tendo transcendido a esfera material e as convenções humanas.
A notoriedade dos carpocracianos foi reacendida no século 20 com a descoberta do Evangelho Secreto de Marcos, uma versão supostamente mais espiritual dela. O documento foi mencionado por Clemente de Alexandria, que acusou os carpocracianos de falsificá-lo para apoiar a sua libertinagem.
O Evangelho Secreto acabou por incluir uma cena em que um Jesus nu dá instruções a outro homem nu, sugerindo um encontro homossexual, que foi usado pelos carpocracianos para justificar um estilo de vida gay para uma sociedade muito menos tolerante do que a nossa.
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Valentino era um professor muito popular e influente. Depois de perder a eleição como Papa, ele montou sua própria religião. Valentino acreditava em um ser fundamental andrógino: seu aspecto masculino Profundo, e seu aspecto feminino Silêncio, a partir do qual pares de outros seres emanavam. Quinze pares acabaram sendo formadas, totalizando 30, chamados Aeons (eternos).
A última Aeon, Sophia, caiu na ignorância e foi separada de seu consorte, e isso resultou na criação material e todos os seus males. Ela foi dividida em duas: sua parte superior retornou ao seu consorte, enquanto sua parte inferior se tornou presa neste mundo físico.
O conceito todo Valentiniano da salvação estava no resgate de Sophia pelo Filho, ou Salvador, em quem todos os Aeons são integrados. A doutrina de Valentino vai além em suas insanidades e isso tudo veio de alguém que quase se tornou um Papa.
*Publicado originalmente em 26/02/2014.
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