Artes/cultura
30/10/2018 às 02:00•4 min de leitura
Não é necessário que você seja cristão nem que acredite em Deus para saber que o inferno é aquele lugarzinho bacana destinado ao sofrimento perpétuo dos pecadores. Mas, por incrível que pareça, segundo Justin Westbow, do portal ListVerse, na própria Bíblia não existem muitas menções a esse local tenebroso — pelo menos nos moldes que conhecemos, ou seja, como sendo um lugar horrível onde as almas dos transgressores são condenadas a arder por toda a eternidade.
E, considerando a importância que a ideia de inferno tem para algumas religiões, parece estranho que vários trechos bíblicos pareçam inclusive negar que ele exista, não é mesmo? O fato é que Justin se deu ao trabalho de esmiuçar a Bíblia para encontrar informações que, segundo a sua interpretação, desacreditam a existência desse local funesto — e nós aqui do Mega Curioso selecionamos 5 pontos indicados por ele para você conferir. Veja se você concorda:
Com respeito às menções, em vez de referências diretas ao inferno e ao fogo eterno, segundo Justin, na Bíblia temos justificativas como a que aparece em Romanos 6:7, por exemplo, que diz que “aquele que está morto está justificado do pecado” — deixando claro que após a morte, as transgressões dos pecadores são esquecidas.
Além disso, em 2 Tessalonicenses 1:9 e João 3:36, respectivamente, existem estas passagens sobre a punição dos condenados: “os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, longe da face do Senhor e da glória do seu poder” e “aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” — o que significa que, em vez de ir para o inferno, a presença do Senhor é negada aos pecadores.
Segundo Justin, para não dizer que não há qualquer menção ao inferno nas escrituras, em Judas 1:7, temos que “assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno” —, mas o contexto deixa claro que o evangelho se refere às duas localidades que foram destruídas pela fúria de Deus.
Além dessas passagens, podemos encontrar citações breves no livro do Apocalipse — como a que aparece no capítulo 20, versículos 10-15, e fala de um lago de fogo e enxofre ocupado pelo Diabo e pelo falso profeta, no qual a morte e o inferno também foram lançados —, e um par de alusões em parábolas que provavelmente serviram de base para o desenvolvimento da ideia de inferno flamejante que temos hoje em dia. Mas não muito mais do que isso.
Uma parábola bíblica que faz referência ao inferno é a do homem rico e Lázaro, o mendigo, que aparece no livro de Lucas. No capítulo 16 — entre os versículos 19 e 31 —, segundo o conto, depois que Lázaro morre, ele é levado junto a Abrão pelos anjos, enquanto o homem rico, que também falece na história, vai parar no tormento do inferno, de onde pede misericórdia.
Contudo, apesar de o inferno ser mencionado, em nenhum momento a parábola se refere a ele como sendo um local real. Na verdade, esses contos são claramente fictícios e servem para que a “moral da história” seja transmitida. Segundo Justin, outra menção direta às trevas ocorre durante um sermão de Jesus — descrito em Mateus 25 — sobre o Julgamento Final. E esse trecho é tido como a passagem bíblica que deu origem ao popular conceito de inferno.
Nele, Jesus diz: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. Entretanto, vários estudiosos sugerem que a interpretação dessa passagem como sendo a descrição do inferno contradiz vários versos bíblicos, que atestam que o castigo dos pecadores ocorrerá após o Julgamento na forma de sua destruição imediata por meio de uma segunda morte. Portanto, eles não poderiam continuar sofrendo por toda a eternidade, não é?
Se as citações no Novo Testamento são escassas, no Velho elas são mais raras ainda. No livro de Jó, mais precisamente no capítulo 3, entre os versículos 11 e 18, nas passagens “Por que não morri eu desde a madre? E em saindo do ventre, não expirei?”, “Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e então haveria repouso para mim” e “Ali os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados”, fica implícito que a morte não passa de uma cessão de tudo.
Além disso, de acordo com Justin, no próprio Gênesis, depois que Adão e Eva decidem desobedecer ao comando de Deus e comer o fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, seu castigo foi “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás (3:19)”. Mas nenhum dos dois é condenado à agonia do inferno.
Aliás, ainda no Gênesis, nem mesmo depois de Caim matar Abel, Deus o manda para o fogo eterno. Em vez disso, no capítulo 4, versículo 15, o Senhor inclusive marca o assassino de forma a protegê-lo de qualquer um que tente matá-lo. Veja: “Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse”.
De acordo com Justin, do ponto de vista cristão, que descreve o Senhor como sendo o Deus da verdade, imparcial e justo, a ideia de queimar eternamente nas chamas do inferno não faz muito sentido. No evangelho de João, mais precisamente no capítulo 4, versículo 8, existe a afirmação de que “Deus é amor”. Sendo assim, seria possível que um Pai amoroso condenasse seus filhos à tortura perpétua, mesmo que eles tenham cometido um grave pecado?
Em Jeremias 7:31, temos outra evidência que nega o castigo do inferno, quando Deus afirma “E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração”. Segundo a interpretação de Justin, a ideia de ter seus filhos agonizando no fogo nem mesmo passa pela cabeça do Senhor.
Conforme explicou Justin, curiosamente, muito antes do surgimento do cristianismo, os antigos egípcios acreditavam na existência de uma caverna para a qual os transgressores eram enviados para serem punidos em um lago de fogo. Já os antigos mesopotâmios temiam a existência de um submundo que, embora não fosse um local de sofrimento tão severo como o fogo eterno, consistia em um lugar triste e escuro para o qual ninguém gostaria de ir.
No zoroastrismo, que surgiu na Pérsia antiga em meados do século 5 a.C., os pecadores eram condenados a passar a eternidade em uma espécie de poço malcheiroso repleto de demônios, fumaça e fogo, e seus espíritos eram torturados de acordo com suas más ações. Além disso, esse lugar funesto ficava no submundo e era controlado por uma figura cuja descrição lembra bastante a do Diabo — e tudo isso soa muito familiar, não é mesmo?
E você, caro leitor, concorda com a interpretação de Justin com respeito às passagens bíblicas? Você conhece mais trechos das Sagradas Escrituras que apoiam a ideia de que o inferno não existe — ou, ao contrário, que reforcem sua presença? Compartilhe a sua opinião conosco!
*Publicado em 13/10/2015