Ciência
05/01/2017 às 11:13•3 min de leitura
A internet, que ainda é novidade em termos históricos e antropológicos, possibilita que qualquer pessoa, de qualquer idade, tenha acesso à pornografia quando e onde quiser. Como a produção desse tipo de conteúdo é desenfreada e os apelos por audiência envolvem práticas sexuais violentas e/ou bizarras, é cada vez mais comum que adolescentes tenham uma visão deturpada de sexo e de prazer sexual.
Se há alguns anos tínhamos adolescentes que comemoravam o primeiro beijo, hoje vemos pessoas da mesma faixa etária, especialmente meninas, experimentando práticas sexuais sem ser por prazer, mas para se sentirem dentro daquilo que acreditam ser o padrão de uma vida sexual “normal”.
Uma pesquisa divulgada pelo jornal Telegraph revelou que meninas entre 11 e 13 anos de idade estão desenvolvendo problemas emocionais graves em decorrência das práticas sexuais que se sujeitam a fazer ou que são forçadas a fazer por seus parceiros.
Em comparação aos garotos, ficou claro que as meninas sofrem pressões únicas em relação a práticas sexuais, o que inclui desde esforços absurdos em busca de uma forma física irreal até a sexualização cada vez mais precoce.
Agora, com o boom das redes sociais e dos aparelhos celulares cada vez mais avançados, temos uma geração de adolescentes que publica selfies sensuais deliberadamente e que baseia a própria realização pessoal no número de curtidas e comentários que recebe. Paralelamente, cresce também o número de mortes de meninas que passam fome para ser magras ou de vítimas de cyberbullying e outros tipos de agressões psicológicas, que preferem o suicídio a ver a própria imagem ser denegrida online – isso só para citar alguns exemplos.
Toda a insegurança típica da fase adolescente misturada à vontade de aceitação e popularidade acaba fazendo com que os jovens de hoje se submetam a práticas sexuais que não condizem com as próprias vontades. Na mesma publicação do Telegraph, a autora do texto, Allison Pearson, conta o caso de uma amiga médica que afirmou que atende cada vez mais meninas adolescentes com lesões no reto devido ao sexo anal, que aceitam fazer mesmo com dor e de forma violenta.
A publicação revela também que um levantamento recente feito pela Universidade de Bristol mostrou que uma em cada cinco adolescentes sofre pressão sexual de seus namorados. Esses meninos são “inspirados” por atos violentos a que assistem em filmes pornográficos de má qualidade, que acabam denegrindo a imagem das mulheres.
As mesmas adolescentes que fazem sexo anal revelaram que não gostam da prática e que não sentiram prazer – elas apenas aceitaram passar por esse tipo de experiência porque se sentiam “predestinadas” a assumir esse papel. Tanto meninos quanto meninas revelaram acreditar que o sexo anal é feito somente para que os homens sintam prazer; para eles, as meninas devem simplesmente aguentar a dor.
Não surpreendentemente, temos adolescentes cada vez mais deprimidas, que crescem com uma noção completamente deturpada de sexo e continuam praticando para se sentirem parte do todo e se identificarem com o que julgam ser a “vida adulta”.
De acordo com Claire Lilley, que trabalha com segurança infantil, é preciso que a educação sexual se readeque à realidade atual, de modo que as escolas não ensinem crianças e adolescentes a colocarem uma camisinha em uma banana, apenas. É preciso falar sobre a questão da pornografia de má qualidade, que é a que mais existe, e os efeitos dela, especialmente na mentalidade e na autoestima feminina.
Não é à toa que dezenas de milhares de meninas ouvidas no levantamento divulgado por Pearson tenham classificado sua iniciação sexual como causadora de grave angústia e dano psicológico intenso. Elas sabem que seus namorados estão reproduzindo um comportamento abusivo e violento, mas acham que isso é “normal” e crescem deprimidas, inseguras e infelizes.
A liberdade para falar sobre sexo costuma vir na fase adulta, mas é preciso que algumas barreiras sejam quebradas na escola, em casa e, inclusive, entre os próprios adolescentes. Além de mostrar que existe pornografia boa, feita com qualidade e por produtoras que querem que as atrizes atinjam o orgasmo de verdade, inclusive, é preciso discutir temas como consentimento, sexualização precoce, prazer feminino e masculino e conceitos de masculinidade e de virilidade.
Se por um lado as garotas sofrem por acreditarem que devem se submeter a práticas dolorosas e que não dão prazer; por outro, os meninos crescem achando que estão agindo da maneira certa. Sexo, quando deixa de ser tabu e é discutido livremente e feito com consentimento, proteção e preocupação em dar prazer para todos os envolvidos, se torna, finalmente, uma prática saudável tanto psicológica quanto fisicamente. Você concorda?