Artes/cultura
18/05/2013 às 04:25•3 min de leitura
Aristóteles foi um dos primeiros filósofos gregos a anunciar a teoria: “O planeta Terra deve ser redondo”. Posteriormente, o também grego Eratóstenes chegou a calcular o diâmetro aproximado do planeta — com um erro mínimo, considerando-se que a experiência foi levada a cabo há mais de 2.200 anos.
Mas então veio a famigerada Idade Média que, embora tenha sido um luminar inegável nas artes e na escolástica, certamente deixou algo a desejar no que se refere aos métodos científicos. A Terra voltava novamente a ser uma chapa — passando ao largo mesmo da semiesfera sustentada por elefantes e por uma gigantesca tartaruga, que ancorava a cosmogonia babilônica.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Bem, mas onde se encaixa a famigerada Sociedade da Terra Plana (Flat Earth Society) nessa verdadeira barafunda “vai e vem” de teorias sobre as formas e origens do planeta?
A Sociedade da Terra Plana foi fundada em 1956 pelo compositor Samuel Shenton. A bandeira levantada era bastante clara: a Terra, na verdade, é uma imensa chapa. No centro há o Pólo Sul e, nas bordas, um imenso paredão congelado intransponível — que vem a ser, naturalmente, o Pólo Sul.
Tudo começou com uma invenção original que, entretanto, não atraiu tantos holofotes quando esperava o seu criador. No final da década de 1920, Shenton afirmava ter inventado um veículo voador estacionário. O conceito era bastante simples: a geringonça flutuaria acima da superfície, esperaria que a terra girasse para o oeste e, em seguida, pousaria em um local de mesma latitude.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
O pretenso inventor não demorou muito para perceber que sua criação não atraiu a atenção que lhe seria devida. Ademais, Shenton também descobriu que outro sujeito, o arcebispo Stevens, já havia aparecido com o mesmo conceito. Stevens era amigo de Lady Blount, a fundadora da organização que viria a fornecer os germes para a Sociedade da Terra Plana.
A Universal Zetetic Society baseava-se nos escritos de Samuel Rowbotham, autor do livro “Zetetic Astronomy: Earth Not a Globe”. Baseado em uma interpretação altamente controversa do chamado experimento Bedford — utilizado ao final do século XIX para, justamente, determinar o formato da Terra —, o autor concluiu que o planeta era, afinal, uma enorme chapa redonda.
Por parte da Zetetic Society, havia, naturalmente, uma missão/orientação: “A propagação do conhecimento relacionado à cosmogonia natural, em conformação com as Sagradas Escrituras e com base em investigações científicas práticas”.
Diagrama do experimento realizado por Samuel Robowtham Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Samuel Shenton foi instantaneamente convertido para a ideia, um suporte mais do que bem-vindo ao seu hipotético veículo voador estacionário. Shenton formaria então sua Sociedade da Terra Plana tendo por base, além da astronomia “zetética”, várias interpretações do Gênesis.
Mas a cosmogonia proposta por Samuel Shenton não dizia respeito apenas à forma supostamente plana do planeta. De fato, Shenton também afirmava que tanto o Sol quanto a Lua tinham apenas 51 quilômetros de diâmetro e flutuavam, respectivamente, a 4,8 mil quilômetros e 4,1 mil quilômetros acima da superfície da Terra.
De acordo com a STP, tanto a Lua quanto o Sol estão a pouco mais de 4 mil quilômetros acima da superfície da Terra. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Com o aquecimento da corrida espacial, o contraponto representado por Shenton acabou ganhando mais e mais notoriedade. Após a revelação das primeiras imagens realizadas por satélite da Terra, por exemplo, o criador da Sociedade da Terra plana disparou: “É fácil perceber como uma foto como esta pode enganar um olho não treinado”.
A organização de Shenton foi uma das que defendeu também que o pouso da Apollo 11 na Lua não passou de um artifício da indústria de filmes de Hollywood.
Samuel Shenton foi um ativista bastante atuante, defendendo suas teorias sobre o formato da Terra em inúmeros clubes, grupos estudantis e sociedades de cunho político, sobretudo durante a década de 1960. Conta-se, de fato, que ele jamais ignorou um convite para explicar, em alto e bom tom, por que a ideia de uma terra “esférica” — um esferóide oblato, na verdade — não passava de uma conspiração governamental e de uma terrível heresia.
Logo atual da Sociedade da Terra Plana Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Ao ver sua saúde debilitar-se, entretanto, Shenton arregimentou Charles K. Johnson para o seu movimento. Johson passaria a liderá-lo a pós a morte do fundador, trazendo a sociedade até 2001, quando as atividades foram encerradas — pelo menos até 2004, quando a Sociedade da Terra Plana passou ao comando de um novo presidente: Daniel Shenton que, apesar do sobrenome, não possui relação de parentesco com Samuel.