Artes/cultura
03/02/2017 às 13:04•3 min de leitura
Esse papo de que o nosso Universo possa ser — ou tenha sido um dia — um holograma não é nada novo. Conforme explicamos em uma matéria anterior aqui do Mega Curioso, essa teoria surgiu no final dos anos 90, quando os físicos Leonard Susskind e Gerard Hooft propuseram que, tecnicamente, as Leis da Física como as conhecemos não precisam de três dimensões (mais o tempo) para funcionar.
Aliás, já faz algum tempo que os cientistas estão tentando provar essa teoria e, agora, parece que um grupo deles pode ter se deparado com algo bem interessante. Um grupo internacional formado por astrofísicos e físicos teóricos acredita ter encontrado a primeira evidência observacional de que, nos primeiros estágios de sua existência, o nosso Universo era um holograma.
Por mais estranha que pareça, a teoria do universo holográfico ajuda a explicar algumas inconsistências entre a teoria da relatividade e a física quântica. Veja, enquanto a relatividade trata de questões na escala de planetas e galáxias, a física quântica governa questões em escala subatômica.
No entanto, as duas não conversam muito bem e não conseguem explicar como o Universo como conhecemos — assim como tudo o que existe nele — pode ter vindo do “nada” e expandido exponencialmente logo no início de sua existência, antes de moderar sua expansão até alcançar a velocidade com a qual ele continua se ampliando atualmente.
Em outras palavras, o modelo padrão do Big Bang sugere que, quando o Universo surgiu, logo nos primeiros estágios, algo fez com que ele sofresse uma violenta expansão, e essa “inflação cósmica” aconteceu a uma velocidade exponencial com relação à da luz.
Entretanto, os cientistas ainda não conseguiram entender o mecanismo que levou algo que tinha dimensões subatômicas a se transformar em uma coisa substancialmente maior quase instantaneamente. E, de acordo com os físicos, a teoria holográfica ajuda a responder essas questões ao aplicar as leis da Física se pensarmos no Universo como um plano bidimensional.
Voltando às evidências, os cientistas se depararam com elas depois de analisar irregularidades na radiação cósmica de fundo em micro-ondas, isto é, após investigar perturbações na radiação residual do Big Bang.
Os físicos, então, fizeram uma série de simulações e aplicaram uma variedade de dados e teorias ao modelo, descobrindo que, apenas algumas centenas de milhares de anos após o Big Bang, quando o Universo ainda era um “bebezinho”, ele se comportava como um holograma.
Esquema criado pelos cientistas mostrando a fase holográfica do Universo
Segundo um dos físicos envolvidos no estudo, a ideia é semelhante àquela dos hologramas convencionais nos quais uma imagem tridimensional está codificada em uma superfície bidimensional — tal como acontece com aquelas imagenzinhas holográficas que existem nos cartões de crédito. No caso do nosso Universo, o cosmos inteiro, ou seja, tudo o que vemos, sentimos, ouvimos em três dimensões — e até a nossa percepção da passagem do tempo —, estaria codificado em um plano bidimensional.
Outra analogia interessante seriam os filmes 3D a que assistimos no cinema. Embora não se trate de um holograma propriamente dito, nós percebemos as imagens como tendo altura, largura e profundidade, quando, na verdade, elas se originam a partir de uma telona plana, certo? Pois, no caso do Universo, a diferença seria que nós somos capazes de tocar os objetos, e a projeção se torna real a partir do nosso ponto de vista.
Vale destacar que o cosmos holográfico proposto pelos cientistas é ligeiramente diferente da ideia de holograma que a maioria de nós tem em mente — como aqueles que são retratados em filmes como “Star Wars” e "Prometheus", por exemplo. Além disso, os físicos explicaram que o Universo não está sendo projetado a partir de uma imensa tela plana. A análise dos dados cosmológicos apenas apontou que ele parece ter se comportado como se fosse assim logo que ele surgiu.
Os físicos esperam que sua pesquisa permita aumentar o nosso conhecimento sobre o Universo em seus estágios iniciais de existência. Além disso, considerando que eles realmente estejam certos sobre suas descobertas, e que as evidências sejam mesmo sólidas, o novo desafio do time é explicar como aconteceu a transição do Universo de bidimensional para três dimensões.