Ciência
01/09/2016 às 12:15•2 min de leitura
Um animal raro, difícil de ser encontrado e com um chifre no meio da testa. Alguns acreditam que ele tenha poderes afrodisíacos.
Poderia ser a descrição de um animal mitológico, como o unicórnio, mas ele é real.
Os narvais são baleias que vivem nas águas geladas do Canadá e da Groelândia.
Eles são primos das belugas e lembrariam bastante essa espécie se não fosse um pequeno detalhe: uma presa que cresce, podendo chegar a mais de 3 metros de comprimento, e lembra mais um chifre do que um dente.
Olhando as imagens, nem é difícil perceber como esses bichos receberam o apelido carinhoso de ‘unicórnios marinhos’. Mas diferente do que os pesquisadores acreditaram ser verdade por muito tempo, essa presa não é usada para atacar outros animais.
O cientista Clint Wright, responsável pelo Aquário Municipal de Vancouver, no Canadá, é especialista no animal e já fez sete expedições ao Ártico com o único objetivo de estudar o comportamento dos narvais. Em entrevista a uma rádio britânica, ele diz que as últimas pesquisas indicam um uso menos letal da ferramenta: o dente está ligado ao tecido nervoso do animal e pode ajudar na navegação pelas águas congelantes.
Outra hipótese é que ele sirva como forma de comunicação. Quando dois narvais esfregam as presas, eles poderiam passar informações sobre as águas de onde vieram.
Óbvio que um animal tão estranho não existiria sem uma boa dose de misticismo. Nas lendas do povo inuit, os habitantes originais do Alasca e do Canadá, a presa dos narvais viria de um arpão lançado por uma pescadora. Ela teria sido puxada para a água pelo bicho e transformada em um deles, com a trança do seu cabelo se enrolando no arpão e virando o tal ‘chifre’.
Já durante a Idade Média, alguns povos europeus acreditavam que a presa era na verdade um chifre de unicórnio e teria poderes mágicos, o que acabou levando ao aumento da caça, principalmente pelos vikings e outros povos do Norte, que revendiam o produto pelo continente.
Até hoje esses animais são caçados pelos povos inuit, que usam a carne e a pele como alimento e os ossos para criar ferramentas, mas esse consumo é controlado e não chega a ser uma ameaça à espécie.
O verdadeiro vilão dos narvais é o aquecimento global. Com o aumento da temperatura dos oceanos, a formação de gelo no Ártico fica instável e acaba enganando essas baleias. Vários narvais morrem ao tentar subir para respirar, só para descobrir que estão presos debaixo de grandes ilhas de gelo que se desprenderam do continente.
Atualmente, existem cerca de 80 mil desses animais, ameaçando a espécie de entrar na lista de bichos que correm risco de extinção. Além do degelo e das doenças causadas pelo aumento de temperatura, a mudança no clima acaba afastando os animais do habitat natural e facilitando a caça ilegal.
Exatamente por isso, os países membros da União Europeia proibiram a importação das presas e discutem outras medidas que possam ajudar na preservação da espécie. O objetivo é garantir que as futuras gerações também possam conhecer o estranho unicórnio do mar.