Artes/cultura
12/02/2019 às 09:59•2 min de leitura
A sabedoria popular diz que animais como peixes são incapazes de sentir dor. No entanto, diversos estudos científicos que foram conduzidos ao longo dos últimos anos indicam o contrário. Victória Braithwaite, bióloga da Universidade Estadual da Pensilvância, encontrou evidências substanciais de que, assim como mamíferos e pássaros, esses animais têm consciência sobre as dores que sentem.
“Peixes sentem dor. Provavelmente, ela é diferente da que os humanos sentem, mas ainda assim, existe”, explicou a pesquisadora em uma entrevista para o programa BBC Newsnight. Em termos anatômicos, eles têm neurônios conhecidos como nociceptores, que detectam perigos em potencial, como altas temperaturas, pressão intensa e produtos químicos, por exemplo.
Além disso, os animais produzem os mesmos opióides – considerados os analgésicos naturais do corpo – e apresentam a mesma atividade cerebral que os mamíferos quando são submetidos a situações que provocam dor.
Os peixes também se comportam de maneiras que indicam que eles sentem dor. Para comprovar isso, pesquisas costumam usar trutas arco-íris, pois elas normalmente evitam objetos desconhecidos para não correr riscos. Em um estudo, pesquisadores lançaram blocos de Lego em tanques com trutas arco-íris. Quando os cientistas injetaram ácido acético nos peixes, eles não apresentaram resistência às peças por conta da dor causada pela injeção.
Por outro lado, quando os pesquisadores injetaram ácido cáustico e morfina nas trutas arco-íris, elas mantiveram a cautela pela qual são conhecidas e tentaram ficar longe dos blocos de Lego. Como qualquer analgésico, a morfina entorpece a experiência da dor, mas não ataca a fonte. Basicamente, isso indica que o comportamento dos peixes arco-íris refletia o estado mental deles.
Se os animais tivessem respondido apenas fisiologicamente à presença do ácido cáustico e não experimentassem dor de verdade, a morfina não teria feito qualquer diferença para eles. Em outra pesquisa, trutas arco-íris que receberam injeções de ácido acético na boca começaram a respirar mais rapidamente, se contorceram no fundo do tanque e esfregaram seus lábios nas superfícies que encontraram.
Em contraste, peixes que receberam injeções com uma solução salina simples não apresentaram comportamento estranho e, inclusive, conseguiram se alimentar sem problemas.
O professor Brin Key, da Universidade de Queensland, é o maior crítico da ideia de que os peixes sentem dor de maneira consciente. Inclusive, ele publicou um artigo sobre o assunto e recebeu mais de 40 respostas. Outro crítico é James D. Rose, professor da Universidade de Wyoming e pescador nas horas vagas – o que, de certa forma, compromete a sua credibilidade para tratar desse assunto perante a comunidade científica.
Os argumentos centrais dos dois pesquisadores é que os estudos conduzidos sobre a dor em peixes são mal planejados e que esses animais não têm cérebros suficientemente complexos para experimentar a dor. As críticas sobre as falhas metodológicas têm alguma validade. Diversos estudos não distinguem respostas reflexivas a lesões e prováveis experiências de dor de maneira adequada, por exemplo.
Porém, a noção de que os peixes não têm complexidade cerebral para sentir dor é ultrapassada. Hoje, os cientistas concordam que a maioria dos vertebrados têm consciência e, portanto, um córtex avançado não é um pré-requisito.