Ciência
15/08/2015 às 06:49•2 min de leitura
Na edição desta semana da conceituada revista científica Nature, pesquisadores do Japão e Estados Unidos publicaram um artigo conjunto em que revelam que foram capazes de mapear todo o código genético do polvo-da-Califórnia (Octopus bimaculoides).
O molusco foi o alvo do estudo por ser considerado o invertebrado mais inteligente conhecido, e os cientistas queriam descobrir o que faz desses animais criaturas tão diferentes. Eles são capazes de aprender algumas habilidades simples apenas através da observação, como abrir uma tampa rosqueada, por exemplo. No entanto, o seu cérebro está organizado de forma completamente diferente da dos vertebrados.
O genoma do polvo é o maior entre os invertebrados já sequenciados, como moscas, caracóis e ostras. Ele possui 33 mil genes (contra 27 mil dos seres humanos), sendo que aproximadamente 3,5 mil deles não foram encontrados em nenhum outro animal. Isso fez com que alguns tabloides sensacionalistas ao redor do mundo clamassem que os polvos poderiam ser formas de vida alienígenas, quando, na verdade, eles apenas sofreram um processo evolutivo diferente.
O que aconteceu, de acordo com os pesquisadores, foi uma organização diferente nos polvos em relação a outros invertebrados ao longo de seu processo evolutivo. Assim, eles tiveram uma grande expansão dos genes responsáveis pelo desenvolvimento de suas células nervosas. Até então, os cientistas acreditavam que isso era algo associado apenas à duplicação do genoma, como aconteceu com alguns vertebrados, entre eles o ser humano.
Graças a essas células nervosas, os polvos possuem cerca de 500 milhões de neurônios – seis vezes mais que um rato – distribuídos por seus tentáculos, o que permite a esses animais contrair sua musculatura para formar “cotovelos” ou “ombros”, dependendo de sua necessidade. Eles também são capazes de decorar suas tocas com restos de suas presas, de forma semelhante ao que os ancestrais do homem moderno faziam quando viviam em cavernas.
Além disso, as ventosas espalhadas ao longo de seus tentáculos podem não só segurar e manipular um objeto, como também serviriam para sentir o gosto dele. Isso acontece graças às protocaderinas, genes que regulam o desenvolvimento e a interação entre os neurônios. O polvo-da-Califórnia possui 168 desses genes, o que é mais do que o dobro da média dos mamíferos.