Artes/cultura
12/07/2017 às 04:00•3 min de leitura
Nascemos, crescemos, vivemos e morremos. Não tem como fugir à regra, e a Ciência, esperta que só, ainda não conseguiu uma fórmula mágica capaz de nos garantir vida eterna – e também, se conseguisse, não haveria de ser a coisa mais incrível do mundo comemorar seu 874º aniversário e estar vivão no dia do lançamento do iPhone 302, convenhamos.
Tão estranho quanto pensar na própria morte é estar presente no dia da morte de um ente querido, algo que só aumenta à medida que ficamos mais velhos. O luto, que é o sentimento de vazio e tristeza diante de uma perda importante, pode desestabilizar uma pessoa emocionalmente, e a volta aos trilhos costuma demorar a acontecer.
Quando estamos em luto, o que mais ouvimos são palavras de apoio de familiares, amigos, colegas de trabalho. Querem nos dar suporte e se prontificam a estar ao nosso lado para o que der e vier. Ainda assim, cientificamente falando, a melhor companhia para momentos de luto são eles, os cachorros.
Depois do ataque na boate em Orlando, que aconteceu em junho de 2016 e deixou 49 mortos e 53 feridos, 12 golden retrievers foram enviados para a Flórida. O motivo? Basicamente, os cachorros tinham a nobre missão de promover conforto às famílias e aos amigos das vítimas.
Os cães fazem parte do K-9 Comfort Dog Team, um programa da Igreja Luterana que já conta com 130 cachorros em 23 estados norte-americanos. Os dogs, que são todos da mesma raça, têm a missão nobre de consolar pessoas que passaram por grandes abalos emocionais. Interessante, não?
Para criar esse time grande de cachorros que curam, a instituição garante adestramento aos animais desde que são filhotes, para que cresçam de maneira dócil e saibam prestar conforto a pessoas tristes. Tudo isso, claro, sem latir, pular ou acabar se distraindo com barulhos aleatórios que possam surgir ao redor.
Como não amar todos os cachorros do mundo?
No caso de Orlando, os cães foram levados a hospitais e igrejas, além de funerais. Os mesmos cachorros estiveram também ao lado das vítimas e dos familiares das vítimas do atentado que ocorreu durante a Maratona de Boston. Quando não estão ocupados com grandes eventos de crise, os cachorros basicamente visitam escolas, hospitais e asilos.
Não há dúvida, ainda mais para quem tem ou teve um cãozinho, de que esses animais realmente nos fazem bem, certo? Mas por que será que cachorros são tão úteis em termos de dar conforto a quem precisa? Por que será que, muitas vezes, eles são melhores do que amigos e familiares?
Inúmeros estudos já foram realizados nesse sentido, e realmente esses animais podem afetar nossas emoções, nosso humor e, inclusive, diminuir nosso estresse. Aliás, os cães são capazes de liberar em nós, humanos, o hormônio oxitocina, que é também conhecido como o “hormônio do amor” – essa substância desempenha um papel muito importante em termos de criar laços e vínculos afetivos.
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O fato é que cachorros são capazes de criar laços incríveis com seres humanos e, de acordo com o professor de neurociência cognitiva da Universidade Duke, Dr. Brian Hare, o simples ato de fazer contato visual com um cachorro já nos faz liberar oxitocina: “Isso faz com que os cachorros tenham um valor incrível para as pessoas sob qualquer tipo de estresse, ou se recuperando de um trauma”, explica.
A oxitocina é conhecida também por aumentar a confiança que temos em alguém ou, inclusive, em um cachorro, assim como também nos ajuda a interpretar expressões faciais e nos deixa mais calmos. Só para você ter ideia do poder que tem um cachorro, saiba que fazer carinho em um dog é um gesto capaz de diminuir nossa frequência cardíaca, assim como reduzir estresse e ansiedade.
O tratamento com cachorros não é oficialmente reconhecido, mas cada vez mais psiquiatras, médicos em geral e psicólogos recomendam que qualquer terapia pós-traumática tenha um cachorro como aliado, até mesmo porque a companhia de um cachorro pode ajudar uma pessoa a ter menos sintomas de depressão, além de reduzir os efeitos do stress pós-traumático em diversos casos de traumas.
Awn
A companhia de um cachorro em um momento traumático, de luto ou de depressão pode fazer com que as pessoas ajudadas passem a falar sobre suas experiências. “É muito importante que pessoas em crise ou em uma situação de desastre falem sobre a situação e sobre o que elas têm passado. Essa é uma parte do processo de cura”, explica Tim Hetzner, presidente da Lutheran Church Charities.
Hetzner afirma também que cachorros são bons ouvintes e que, muitas vezes, as pessoas preferem falar com eles do que com outras pessoas: “Eles são confidenciáveis – eles não mantêm registros do que é certo ou do que é errado. Eles não julgam. Eles são a escolha perfeita”, explica ele, que nos conta também que as pessoas abraçam os cachorros e choram com eles, “e o que nós descobrimos é que, às vezes, quando duas ou três pessoas estão com um cachorro, elas vão todas deitar no chão, agradar o cachorro juntas e então começarão a falar umas com as outras também”, finalizou.
Você já contou com o “ombro amigo” de um cachorro em um momento triste? Conte para a gente como foi!
*Publicado em 04/07/2016