Artes/cultura
19/06/2015 às 05:46•2 min de leitura
O flúor, representado pelo símbolo F, é um elemento químico da tabela periódica que pode ser encarado como um verdadeiro vilão – o mais eletronegativo e reativo de todos os elementos. De acordo com a química Andréa Sella da Universidade de Londres, ele pode reagir espontaneamente com qualquer outro elemento, com exceção do hélio, neon e argônio.
Se por acaso você visualizar o flúor puro, ele pode parecer bastante inofensivo, pois é um gás amarelo e pálido, porém é tão perigoso que o departamento de química de Londres nem sequer o mantém em estoque. O gás foi utilizado (e ainda é) em diversos compostos obtidos por reações com outros halogênios, que posteriormente foram identificados como extremamente prejudiciais ao planeta Terra.
Um desses compostos é o CFC (o clorofluorcarboneto ou o clorofluorcarbono), baseado em carbono com flúor e cloro. Esse composto foi responsável por destruir parte da cama de ozônio e até hoje é tido como um dos grandes vilões desse processo, já que nos anos 70 foi amplamente utilizado em aerossóis, refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado. As embalagens utilizavam como gás propelente o CFC, liberado na atmosfera sempre que os jatos de aerossóis eram acionados.
O CFC é um gás bastante leve, capaz de subir até a atmosfera e atingir a camada de ozônio (O3), reagindo com o ozônio e transformando-o em oxigênio (O2). Devido à alteração ocasionada pelo gás, o O3 é enfraquecido. E, como a camada de ozônio age como filtro para as radiações ultravioletas, somos deixados à mercê do Sol com menos proteção. Hoje, no lugar do CFC, é utilizado o GLP, formado pelos gases butano e propano que são mais pesados e que não sobem até as camadas mais altas.
Por não sofrerem nenhum tipo de reação, eles são mais indicados. Contudo, os danos dos anos de uso do CFC têm as suas consequências até os dias de hoje – e ainda perdurarão por muito tempo, já que não há como reconstruirmos os buracos na camada de ozônio rapidamente. O câncer de pele é um exemplo, favorecido pelos raios UV que chegam à superfície com mais intensidade.
Além disso, o legado do CFC também contribui para outro fator: esses gases são poderosos para impulsionar o efeito estufa (muitas vezes considerados mais fortes do que o próprio dióxido de carbono, provindo da poluição). Hoje, eles são responsáveis por aproximadamente 14% do aquecimento global causado pelo homem. O aquecimento global e o efeito estufa são considerados fenômenos naturais, porém foram drasticamente acelerados pelas ações humanas – provocando abruptas mudanças climáticas.
O pior é que o CFC é bastante estável e demora centenas de anos para se decompor na atmosfera. Se o uso do CFC continuasse a ser utilizado e não tivesse sido banido por dezenas de países depois do acordo do Protocolo de Montreal (feito em 1989), teríamos um cenário muito pior atualmente, com um aumento de quase 100 vezes na emissão dos raios UV, com mais calor retido na Terra e chances de queimaduras graves na população exposta diariamente ao Sol.
Contudo, ainda existem muitos gases baseados em Flúor que são emitidos diariamente (os HCFCs), variações do CFC, como o uso do fluorite na fundição do alumínio – consequências do mundo moderno. Diversas indústrias fazem uso de compostos semelhantes, capazes de durar até milhares de anos na atmosfera destruindo a camada de ozônio em longo prazo e impulsionando ainda mais o efeito estufa. Portanto, não ficamos totalmente livres dos efeitos do flúor, e não parece que ficaremos tão cedo.