Ciência
03/08/2015 às 10:33•3 min de leitura
O “descobrimento” das Américas se deu apenas em 1492, quando Cristóvão Colombo desembarcou no local onde hoje se encontra as Bahamas. Oito anos depois foi a vez de Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil. Mas você tem ideia de como eram os primeiros anos dos colonizadores nessa terra recém-descoberta?
O contato com os índios nativos acabou vitimando milhares de pessoas, sendo que os primeiros europeus que conseguiram estabelecer um assentamento ao norte dessas terras foram os espanhóis em 1565. A partir disso, holandeses, franceses, suecos, portugueses e ingleses também montaram seus primeiros vilarejos no chamado Novo Mundo.
Representação de Jamestown, o primeiro assentamento britânico em terras norte-americanas
O primeiro assentamento britânico nos EUA foi chamado de Jamestown, tendo sido fundado em 1607. Foi um período nebuloso, já que os colonos que vieram para a América não entendiam quase nada de agricultura. Por isso, em apenas nove meses, 66 dos 104 primeiros colonizadores morreram de fome.
Eles tiveram que pedir auxílio aos povos nativos, e o contato com os índios powhatan fez com que surgisse o primeiro casal ilustre dessas novas terras: John Rolfe desposou Pocahontas em 1614, criando uma relativa trégua entre os os dois povos.
Pocahontas e Rolfe se casaram em uma igreja localizada próxima ao rio James, onde hoje fica o estado da Virgínia, nos EUA. Atrás dessa igreja, em 2010, foram encontradas as ossadas de quatro colonizadores, que finalmente os arqueólogos puderam identificar quem são.
Representação do casamento de Pocahontas e John Rolfe
Descobrir quem são os primeiros “descobridores” não é uma tarefa muito fácil. Da igreja em que Pocahontas se casou, apenas as estruturas de base sobraram. Já os quatro corpos encontrados preservavam apenas 30% das ossadas. Por conta disso, foi feito um trabalho minucioso que incluía diversas frentes de estudo para tentar identificá-los.
Os quatro esqueletos pertencem ao reverendo Robert Hund, ao capitão Gabriel Archer, ao sir Ferdinando Wainman e ao capitão William West. Eles foram os primeiros líderes de Jamestown, apesar de falecerem nos primeiros meses do assentamento. O fato de terem sido enterrados atrás da igreja principal demonstra a importância dessas pessoas para toda a aldeia.
Nas igrejas anglicanas, são enterrados apenas os homens de mais alta relevância. Por isso, a identificação desses quatro é muito importante para a história da colonização norte-americana. Para saber a identidade dessas pessoas, foi necessária uma força-tarefa que envolveu análise química do solo, registros genealógicos, imagens em 3D das covas e análise forense dos esqueletos.
Representação em 3D, divulgada pela National Geographic, das quatro covas encontradas atrás da igreja de 1608
Para começar, restos das arcadas dentárias puderam determinar com que idade que as pessoas morreram. Através da análise desses dados, as informações puderam ser cruzadas com diversos registros até chegar ao nome dos quatro corpos.
Os dentes também revelaram outro curioso dado: quanto tempo cada uma daquelas pessoas tinha vivido no assentamento. Como no Novo Mundo eles se alimentavam principalmente de milho, eles possuíam mais cáries do que os habitantes da Grã-Bretanha, que comiam cevada e trigo.
O capitão Gabriel Archer foi o primeiro a ter o corpo identificado. Os especialistas acreditam que ele tenha morrido de fome entre o final de 1609 e o começo de 1610, durante um grande surto de falta de comida. Ele tinha apenas 34 anos, mas era um grande explorador. Archer foi um dos primeiros cidadãos britânicos a fixar moradia em solo norte-americano.
Archer também relatava o cotidiano de Jamestown, sendo um grande narrador das terras do Novo Mundo. Ele fazia diversas expedições pelo rio James, sempre descrevendo o que encontrava. Outro detalhe curioso da cova de Archer é que sobre seu caixão havia uma espécie de caixa prateada, que análises tomográficas mostravam conter fragmentos de ossos e uma ampola de chumbo, que na época servia para armazenar óleo, sangue ou água benta.
Esse tipo de relicário é bastante interessante, já que Archer vinha de uma família tradicionalmente católica. Ao ser enterrado em uma igreja anglicana com esse artefato, mostra que ele poderia ter praticado o catolicismo na região – ao contrário do anglicanismo.
Relicário encontrado sobre o caixão do capitão Gabriel Archer
Já o reverendo Hunt parece ter falecido apenas um ano após chegar a Jamestown. Querido por todo mundo, Hunt era uma espécie de apaziguador de conflitos – principalmente durante a grande estiagem que dizimou vários colonos de fome. Seu corpo foi enterrado em uma mortalha simples, sem caixão.
O primeiro cavaleiro britânico enterrado em solo norte-americano, Sir Ferdinando Wainman, era responsável pelas armas e armaduras do assentamento. Ele também morreu de fome, em 1610, aos 34 anos. De família abastada, Wainman foi enterrado em um caixão luxuoso.
Por último, o capitão William West, parente de Wainman, faleceu aos 24 anos, vítima de um confronto com os índios powhatan. Ele fazia parte de uma expedição pelo rio James que buscava minerais preciosos. Sua identificação foi possível através de uma faixa militar, bastante deteriorada, colocada sobre seu peito.
A identificação desses quatro nobres é um marco para a arqueologia e para desvendarmos a história da colonização na América do Norte. Estudos futuros devem precisar o grau de parentesco entre West e Wainman, além de entender melhor o relicário católico sobre o caixão de Archer. Porém, remontar um pedaço da história mais de 400 anos depois de ela ter ocorrido é um fato extremamente incrível!
Restos da igreja de 1608, estátua do capitão John Smith e as cruzes que simbolizam os quatro corpos encontrados em 2010
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