Artes/cultura
04/07/2022 às 12:00•3 min de leitura
As mudanças na linguagem são inevitáveis. Palavras antigas que param de ser usadas ou ganham novos significados, novas palavras que são criadas, pronúncias que mudam, regras gramaticais que são revisadas e o que é visto como educado ou sarcástico, evolui. Podemos perceber isso, por exemplo, conversando com pessoas de outras gerações e até mesmo de diferentes regiões do mesmo país.
Mas quando uma comunidade sofre alguma mudança repentina ou décadas/séculos de disputas, os idiomas podem mudar drástica e rapidamente. Essas instâncias de contato linguístico – que é quando usuários de duas ou mais línguas interagem entre si com alguma frequência – podem vir de trocas bem-intencionadas, como o comércio de mercadorias, mas também são frequentemente o resultado de disputas políticas perturbadoras, e até mesmo opressivas.
Todos esses fatores nunca deixarão claro qual será o reflexo para a linguagem da comunidade: ela será alterada, adotada por outros, dará origem a uma nova linguagem, ou será perdida?
(Fonte: GettyImages)
Uma maneira pela qual a mudança linguística acontece é por meio do movimento de refugiados, o que leva a um deslocamento único de falantes para uma nova área. Isso pode fazer com que uma comunidade linguística se encontre de repente em uma comunidade completamente diferente. Quando as pessoas sofrem mudanças repentinas, a linguagem é apenas uma parte de sua cultura que está sujeita à incerteza.
Uma parte triste da história que os povos precisaram se adaptar foi durante o Holocausto, quando milhões de judeus de língua iídiche foram mortos, e aqueles que sobreviveram emigraram e adotaram os idiomas de seus novos países. Como refugiados, os judeus asquenazes trabalharam para preservar sua língua da melhor maneira possível em suas novas comunidades e para tentar aprender uma nova língua ao lado de seus filhos. O resultado: anos depois, as gerações mais jovens nos EUA usam mais inglês e, em algumas comunidades, o iídiche se tornou um idioma falado principalmente pelas gerações mais velhas.
No Duolingo, por exemplo, nós desenvolvemos cursos de línguas minoritárias, que fazem parte de uma iniciativa do app que visa ajudar a proteger estes idiomas e as suas culturas. O curso de iídiche está disponível desde o início de 2021, e todos os falantes de inglês podem aprendê-lo no app. Além dele, outros idiomas minoritários também estão na plataforma, como o guarani, havaiano, navajo, escocês gaélico, irlandês e galês.
(Fonte: GettyImages)
A linguagem reflete todas as complexidades da história de uma comunidade. Outro exemplo que podemos citar, vivenciado no Brasil, aconteceu na época da escravidão. Donos de escravos e colonizadores nas Américas muitas vezes separavam intencionalmente os escravos africanos que tinham uma mesma língua, na tentativa de impedir uma possível rebelião.
Sem um idioma comum para se comunicar, os escravos improvisaram e criaram novas línguas que misturavam sons, vocabulário e gramática da língua colonizadora, suas diferentes línguas nativas e outras línguas indígenas americanas da área. Se hoje em dia ainda é difícil ir para outro país em que não temos conhecimento claro do idioma, já imaginou naquela época?
Mas novas línguas também surgiram na África, do outro lado do tráfico transatlântico de escravos. Os colonizadores brancos tomaram o poder em muitas partes da África e seus idiomas, incluindo inglês, alemão e português, vieram com eles. Nas Américas, esse contato linguístico forçado resultou no inglês pidgin camaronês, uma língua falada em Camarões — que é um dos países com maior diversidade linguística do mundo!
O idioma, seu uso por uma comunidade ou uma família e quais decisões você toma sobre ele varia de pessoa para pessoa. Quem nunca foi na casa de alguém ou viajou para outro país e sentiu essas diferenças? Isso acontece por diversos motivos, até mesmo, pela própria criação e estrutura familiar. E assim como acontece no mundo, pelas fortes influências políticas e por estruturas de poder em escalas nacionais e globais.
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Analigia Martins é diretora de Marketing no Brasil de Duolingo, a maior plataforma de aprendizado de idiomas do mundo e o aplicativo mais baixado na categoria de Educação no iTunes e na Google Play. Responsável por aumentar a notoriedade e o crescimento do Duolingo no Brasil, segundo maior mercado da empresa, a executiva tem 20 anos de experiência em marketing de serviços, especialmente na área de Educação no Brasil e nos Estados Unidos. Analigia é pós-graduada em Administração de Empresas pela Universidade Harvard e bacharel em Publicidade pela Fundação Cásper Líbero.