Ciência
23/07/2013 às 05:37•2 min de leitura
Você deve conhecer vários “pés-de-valsa”, que adoram dançar e basta com que ouçam uma musiquinha para sair por aí chacoalhando o esqueleto. No entanto, ocorreu na Europa — em 1518 — um caso relacionado com a dança bastaste curioso: na cidade de Estrasburgo, na França, uma mulher começou a dançar e permaneceu assim por dias a fio sem descanso, sendo pouco a pouco acompanhada por centenas de pessoas.
Os indivíduos afetados dançavam compulsivamente sem parar e, como consequência, a maioria acabou falecendo em virtude de ataques cardíacos, derrames e cansaço. A mulher que apresentou os primeiros sintomas sucumbiu após um período entre quatro e seis dias de atividade incessante.
As autoridades locais, ao não saberem como lidar com a situação, acreditavam que a dançomania só podia ser curada se as pessoas dançassem até que o desejo se esgotasse. Inclusive foram liberados espaços nas prefeituras, e músicos e dançarinos profissionais foram contratados para acompanhar os maníacos.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikipédia
Depois de um mês, cerca de 400 pessoas tinham sido afetadas pelo surto, e como ele parecia não ter fim, as autoridades decidiram enviar os dançomaníacos a um santuário para que implorassem pela cura. O evento de 1518 durou aproximadamente dois meses até que a epidemia se dissipasse, e o mais curioso é que este, embora seja um dos episódios melhor documentados da História, não foi o único.
Fonte da imagem: Reprodução/Discovery
Outros surtos parecidos aconteceram pela Europa, sendo que um deles, ocorrido em 1374, chegou a se espalhar por diversas cidades da Bélgica, Luxemburgo e noroeste da França. Mas, por que, afinal, algumas pessoas eram consumidas por uma vontade incontrolável de dançar? A crença popular é a de que os afetados provavelmente haviam ingerido uma espécie de fungo com ação psicotrópica que infecta cereais como o centeio.
Outra crença é a de que os envolvidos faziam parte de um culto herético e, ainda, que a dançomania era, na verdade, um caso de histeria coletiva. Contudo, hoje em dia a teoria mais aceita é de que as pessoas afetadas se encontravam em uma espécie de transe. Segundo os especialistas, as pessoas mais susceptíveis a sofrer dessa condição normalmente se encontram sob estresse psicológico ou acreditam na possibilidade de possessão espiritual.
São Vito Fonte da imagem: Reprodução/Wikipédia
Aparentemente, ambas as situações podiam ser observadas na população de Estrasburgo de então. Os pobres estavam atravessando um período de fome extrema e doenças, sem contar que muitos eram devotos de São Vito e temiam a sua maldição. Portanto, os habitantes acreditavam que se o santo fosse provocado, ele lançaria a sua ira na forma de uma praga que provocava a compulsão por dançar.
Conforme explicaram os especialistas, como a população se encontrava em um estado psicológico profundamente vulnerável e temia a praga de São Vito, muitos acabaram entrando em estado de transe, dançando enlouquecidamente durante vários dias. A epidemia, portanto, foi provavelmente provocada por uma combinação de medo e desespero.
Os surtos de dançomania acabaram desaparecendo conforme algumas partes da Europa foram se tornando protestantes, a crença em santos deixada de lado e o medo do sobrenatural começou a desaparecer. No entanto, embora a Epidemia de Dança de 1518 tenha ocorrido há meio milênio, esse evento ainda serve de curioso exemplo sobre a incrível estranheza do cérebro humano. E você, leitor, já tinha ouvido falar desse surto?