Mistérios
19/01/2023 às 13:00•2 min de leitura
Recentemente, a humanidade se viu cheia de dúvidas sobre uma nova doença: a covid-19. Especuladores e cientistas debatiam sobre o tema nos meios de comunicação e, em alguns casos, confundiam o público sobre o que era verdade e o que era mentira sobre a enfermidade.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Há cerca de 40 anos, as pessoas estavam confusas e assustadas com a AIDS. A desinformação era tanta que governos não sabiam o que fazer e, movidos pelo preconceito, colocaram em risco os cidadãos do próprio país.
Contudo, o trabalho de cientistas foi fundamental para ajudar os países a se organizarem e enfrentarem esse desafio. Esse trabalho rendeu histórias interessantes, como a da pesquisadora Radka Argirova. Ela literalmente contrabandeou o vírus do HIV para a Bulgária, seu país.
Radka Argirova (Fonte: Reprodução: BBC Brasil)
Na década de 1980, o mundo vivia o auge da Guerra Fria, com o medo de que EUA e URSS entrassem em conflito. Entre outras coisas, essa situação gerava uma desconfiança mútua entre as duas potências.
A Bulgária naquela época era uma república soviética e via as infecções por HIV como um problema do mundo ocidental. Todavia, trabalhadores que viajavam para fora do país, como marinheiros, voltavam infectados, o que exigia um plano de ação por parte dos búlgaros.
Radka Argirova era uma virologista talentosa que teve a oportunidade de estudar em universidades renomadas. Ela sabia da importância de testar as pessoas sintomáticas e monitorar o comportamento do vírus. Contudo, ela não tinha acesso ao vírus em solo búlgaro para desenvolver os testes.
Em 1985, ela participou de uma conferência sobre Leucemia. O encontro ocorreu em Hamburgo, na Alemanha Ocidental. Lá, em uma conversa informal, o pesquisador Robert Gallo perguntou à colega búlgara sobre a situação da AIDS em seu país.
Ela respondeu que não existia testagem e que, portanto, não tinha como responder. Gallo então pediu que um colega preparasse o vírus para ser levado à Bulgária.
As células contendo o vírus da AIDS foram colocadas em um recipiente vermelho, semelhante a uma garrafa de vinho tinto. Radka Argirova, então, contrabandeou o HIV para seu país, entrando para a história.
Robert Gallo também entrou para a história da virologia. Graças às suas pesquisas, os testes para identificar a presença de HIV se tornaram possíveis.
Não demorou muito para que vazasse a informação de que uma cientista búlgara havia trazido para o país o temido vírus da AIDS — embora ele já estivesse circulando entre os cidadãos do país.
A imprensa alertava a opinião pública sobre os riscos e Radka Argirova era submetida a constantes interrogatórios pelo governo. Para a sua sorte, alguns membros do governo da época compreenderam a importância do trabalho da virologista e a apoiaram.
No ano seguinte, graças à coragem da pesquisadora, 2 milhões de búlgaros haviam sido testados para a doença, em 28 centros de pesquisa. Três anos depois, em um documentário local, a pesquisadora explicava à população como o vírus era transmitido, ajudando a tranquilizar o país.
"Qualquer tipo de contato doméstico, como compartilhar fones de ouvido, pratos ou copos, não tem absolutamente nada a ver com a transmissão desta infecção", explicou.
Radka Argirova falando aos búlgaros sobre o Covid-19 (Reprodução: BGNES)
Hoje, Radka Argirova ainda trabalha como virologista na Bulgária. Durante a pandemia de covid-19, ela ajudou os búlgaros em relação à nova doença.