Ciência
11/05/2023 às 06:30•2 min de leitura
Desde que foi anunciado que a atriz Halle Bailey estrelaria o novo filme live-action da Disney, A Pequena Sereia, a organização tem sido fortemente atacada. Algumas pessoas se manifestaram que não fazia sentido escalar uma atriz preta para interpretar Ariel, pois isso desviaria completamente do conto original ou dos filmes anteriores.
Obviamente, os argumentos são racistas. Houve, inclusive, quem viesse com pontos supostamente "científicos": não haveria como alguém que vive no fundo do mar ter uma tez clara, pois a sereia não estaria exposta ao sol e provavelmente sua pele seria translúcida.
Ainda que não haja a necessidade de argumentos deste tipo (afinal, a sereia é um ser mitológico - ou seja, inventado pela criatividade humana), há um elemento interessante aqui. Caso a Disney quisesse seguir um rigor científico para representar a personagem, haveria alta probabilidade de ela ser preta. Vejamos o porquê.
(Fonte: GettyImages)
Para começo de conversa, vale lembrar que as sereias que aparecem nos filmes e desenhos fazendo coisas que seriam impossíveis caso a lógica fosse levada em consideração. Ariel, por exemplo, canta e dança dentro do mar, o que não faz muito sentido (no mínimo, ela engoliria água).
Mas digamos que elas realmente existissem. É bem possível que as sereias fossem da cor preta. E a explicação disso vem da biologia. Segundo os cientistas especializados no mundo marítimo, algumas criaturas que vivem no fundo do oceano têm cores incrivelmente pretas. E, não por acaso, quando olhamos para a água na linha funda do mar, ela nos parece muito escura.
A razão disso é a sobrevivência. Os animais evoluíram para tons bem escuros para poderem se esconder de possíveis predadores. "Quando você olha para eles, especialmente na água, é como um buraco no universo", diz Sönke Johnsen, que é um biólogo marinho da Duke University e deu entrevista para a National Geographic.
Hoje, muitos biólogos estão estudando este fenômeno dos "peixes super pretos", que é uma expressão vinculada às criaturas que vivem na profundeza dos mares, onde parecem conseguir desaparecer completamente.
(Fonte: Petz)
Uma pesquisa comandada pelo biólogo Sönke Johnsen e pela zoóloga Karen Osborn, do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, já descobriu que estes peixes têm nanoestruturas complexas em suas peles, que absorvem os fótons que chegam e, assim, não refletem a luz.
Deste modo, estes animais se tornam muito escuros. "Estávamos esperando grandes quantidades de pigmento. O que descobrimos é que eles são realmente ajustados para se tornarem o mais preto possível", explicou Osborn.
A explicação é bem simples. No fundo do mar, a comida é escassa, então qualquer ser vivo pode ser "comido" por outro. Alguns animais, então, desenvolvem espinhos, ou órgãos que produzem luz. Mas muitos peixes se tornam realmente escuros. "Imagine um mundo onde, se você acender sua lanterna, nada volta. A única defesa do peixe do fundo do mar é imitar a água sem fim", pontuou a zoóloga.
De acordo com o estudo de Johnsen e Osborn, alguns peixes identificados no fundo do atingem até 99,9% de absorção de luz. Em uma estatística, apenas um em cada mil fótons escapa.
Tudo isso pode servir como um bom argumento para quando aquele seu amigo for questionar que não tem como Ariel ser interpretada por uma menina preta. Mas lembre-se: ela não passa de um personagem e, por isso, pode ser representada de qualquer forma.