Ciência
21/10/2023 às 07:00•2 min de leitura
Variantes genéticas vindas dos neandertais podem aumentar a sensibilidade à dor que os seres humanos carregam, diz um novo estudo. Segundo a pesquisa publicada na revista Communications Biology, essa herança de DNA pode ser mais comum em populações com ascendência nativa americana do que nas demais.
O estudo concentrou-se em três versões do gene SCN9A, que codifica uma proteína que transporta sódio para as células e ajuda os nervos que detectam dor a enviar sinais. Em geral, pessoas com qualquer uma das três variantes são mais sensíveis às dores causadas por objetos pontiagudos, mas não às dores causadas por calor ou pressão.
(Fonte: Getty Images)
No passado, outros estudos já haviam relacionado variantes genéticas de neandertais ao aumento da sensibilidade à dor em seres humanos. Então, pesquisadores do Instituto Nacional Francês de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente decidiram estender essas descobertas estudando uma parcela da população latino-americana.
No novo estudo, os cientistas analisaram amostras genéticas coletadas de mais de 5,9 mil pessoas que vivem no Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. Em média, os participantes tinham 46% de ascendência nativa americana, 49,6% de ascendência europeia e 4,4% de ascendência africana — proporções que variaram significantemente entre os indivíduos.
A análise revelou que cerca de 30% desses participantes tinham uma das variantes do gene SCN9A, chamada D1908G. Enquanto isso, cerca de 13% dos participantes tinham as outras duas variantes do gene, conhecidas como V991L e M932L, as quais normalmente são herdadas juntas. Em termos gerais, os brasileiros tinham a menor proporção de ascendência nativa americana entre os povos latinos, o que significa que eles também são menos propensos a serem portadores das variantes.
(Fonte: Getty Images)
Após as diversas análises genéticas, os investigadores realizaram uma série de testes para medir o limiar de dor em mais de 1,6 mil voluntários na Colômbia. Nesses testes, os participantes foram solicitados a dizer aos pesquisadores para pararem assim que sentissem algum desconforto.
Em testes envolvendo dor por objetos pontiagudos, os participantes que tinham qualquer uma das variantes genéticas neandertais foram eliminados após serem cutucados com filamentos significantemente mais curtos do que aqueles que não carregavam essas variantes. Porém, quando os testes envolveram dor por pressão, calor ou frio, as variantes genéticas não apresentaram muitas diferenças.
Na visão dos pesquisadores, é possível que carregar essas variantes genéticas tenha proporcionado aos neandertais e aos humanos modernos algum tipo de benefício na sobrevivência ao colonizarem as Américas. Contudo, as pressões evolutivas que atuaram no SCN9A foram provavelmente bastante complexas e ainda não se sabe ao certo o porquê os neandertais podem ter tido uma maior sensibilidade à dor do que os humanos.
De todo modo, os cientistas participantes do estudo consideraram interessante saber que essas variantes genéticas — as quais anteriormente foram associadas a neuropatias de pequenas fibras — também teriam causado dor nos nossos antepassados. A expectativa é de que novos estudos feitos no futuro possam revelar mais sobre o passado de ambas as espécies.