Artes/cultura
07/11/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 07/11/2024 às 12:00
Uma pequena tragédia ocorrida em 1988, a extinção da população inteira de uma espécie de caramujo marinho em um recife das ilhas Koster, na Suécia, acabou se transformando em um dos experimentos evolutivos mais fascinantes da história. Trata-se da evolução assistida do caramujo-das-rochas (Littorina saxatilis), de 1992 até os dias atuais.
Quatro anos após o evento mortal, a ecóloga marinha Kerstin Johannesson, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, reintroduziu no recife 700 caramujos novos, porém de um ecótipo (subpopulação) diferente, moldado por outro habitat. O objetivo era ver se esses bichinhos poderiam evoluir aos poucos as características originais da antiga população do skerry (ilhota rochosa).
Publicado recentemente na revista Science, o estudo foi realizado ao longo de mais de 30 anos e permitiu a colaboração de pesquisadores de vários países. Após dezenas de gerações, os novos colonos evoluíram por uma via incrivelmente parecida com a dos seus antecessores, igualmente moldados pelo mesmo habitat.
In 1992, marine snails were reintroduced to a tiny rocky islet in Sweden after toxic algae wiped their population out in 1988. This started an experiment that would have far-reaching implications more than 30 years later. pic.twitter.com/hCHhRjlx5j
— ISTAustria (@ISTAustria) October 11, 2024
O L. saxatilis é uma espécie de caramujo muito comum em diversos cenários marinhos do Atlântico Norte. No entanto, conforme o ambiente, a espécie desenvolve características adaptadas, o que pode incluir tamanho, formato da concha, cor da concha e comportamento.
Na região das ilhas Koster, o caramujo assume diferentes tipos de ecócitos de acordo com as pressões ambientais enfrentadas pela população. O ecócito "caranguejo", por exemplo, que recebeu esse nome por causa do crustáceo que é seu predador, é normalmente mais cauteloso, desenvolveu conchas maiores e mais grossas com uma entrada pequena.
O outro ecótipo, chamado "onda", tem um tamanho menor, apresenta uma concha fina, com cores e padrões definidos, uma abertura grande e arredondada e comportamento ousado. Era essa subpopulação que vivia na ilhota rochosa, de apenas três metros, antes da infestação de algas tóxicas.
As ilhas Koster tem sido o habitat dos dois tipos de caramujos com características diferentes, às vezes vizinhos na mesma ilha, e em outras separados por algumas centenas de metros de água do mar. Foi essa proximidade histórica que inspirou Johannesson a reintroduzir a população exterminada no recife, porém do tipo "caranguejo".
Com uma a duas gerações anuais, a expectativa de Johannesson e seus colegas era que os caramujos do tipo "caranguejo" se adaptassem ao novo habitat, bem diante dos seus olhos.
Logo nas primeiras gerações, os pesquisadores já testemunharam uma “plasticidade fenotípica”, ou seja, os caramujos alteraram sua forma para se ajustar ao novo ambiente. Em seguida, a população também evoluiu geneticamente de forma rápida. Os pesquisadores foram capazes não só de prever, mas também acompanhar a trajetória das mudanças.