Artes/cultura
25/09/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 25/09/2024 às 09:00
Um grupo de cientistas do Instituto de Ciência e Tecnologia de Barcelona (BIST), na Espanha, fez uma descoberta impressionante: centenas de novos genes que podem estar ligados ao desenvolvimento do câncer. A pesquisa, liderada pelo biólogo Miquel Anglada-Girotto, revela que esses genes, quando sofrem alterações no processo de "splicing" — uma etapa crítica na transcrição do DNA —, podem desencadear o crescimento descontrolado de células cancerígenas.
Até então, sabia-se que mais de 600 genes estavam associados ao câncer devido a mutações diretas no DNA. No entanto, o estudo do BIST expandiu essa lista ao identificar 813 genes adicionais, elevando significativamente o número de genes potencialmente ligados ao surgimento de tumores. "Esses genes representam uma nova classe de potenciais causadores de câncer, que podem ser alvos isoladamente ou em combinação com estratégias já existentes", explicou o pesquisador.
O splicing é um processo no qual partes não-codificantes de um gene, chamadas de "introns", são removidas. Com isso, deixam para trás apenas os exons, que contêm as instruções para a produção de proteínas. Normalmente, isso ocorre sem problemas, mas em células cancerígenas, esse mecanismo pode ser interrompido, criando proteínas defeituosas que favorecem o crescimento descontrolado das células.
Essa descoberta é importante porque, até agora, grande parte das pesquisas sobre câncer focava em mutações diretas no DNA. Com essa nova perspectiva, os cientistas conseguiram identificar genes que, embora não apresentem mutações, passam por alterações no processo de splicing e promovem o desenvolvimento de tumores.
"Quando consideramos mecanismos não-mutacionais como o splicing, acreditamos que o número de genes-alvo potenciais para combater o câncer pode dobrar", afirmou Anglada-Girotto. O estudo também revelou que apenas cerca de 10% dos genes descobertos já estavam registrados no banco de dados mais amplamente usado para catalogar genes mutados relacionados ao câncer.
A pesquisa não parou por aí. Além de identificar os genes relacionados ao splicing, os cientistas também analisaram amostras de tecidos em laboratório. Ao direcionar os exons específicos que sofrem alterações no splicing, os pesquisadores conseguiram limitar o crescimento das células cancerígenas nas amostras, sugerindo um novo caminho para o tratamento da doença.
Outro avanço promissor desse estudo foi a criação de um algoritmo chamado Spotter, que pode identificar quais exons são mais importantes para o crescimento do câncer em cada caso específico. Além disso, a combinação desses dados com resultados de tratamentos anteriores revelou que variações no splicing podem ajudar a prever como os pacientes responderão a determinados medicamentos.
Embora ainda seja necessário mais tempo e pesquisas para aplicar esses conhecimentos na prática clínica, essa descoberta abre um novo horizonte no combate ao câncer. "É uma fronteira incrivelmente empolgante para explorar", conclui Anglada-Girotto. E, com mais armas à disposição, as chances de vencer a batalha contra o doença aumentam.