Ciência
26/06/2015 às 12:42•2 min de leitura
Sempre que acontece alguma tragédia envolvendo vítimas humanas — como o acidente que acabou com a morte do cantor Cristiano Araújo, por exemplo —, não demora até que fotografias e vídeos macabros comecem a circular pela internet. O pior é que, por mais mórbido e errado que pareça, a verdade é que simplesmente não conseguimos resistir à tentação de dar uma olhadinha — nem que seja para nos arrependermos amargamente depois.
Mas de onde é que vem esse fascínio por ver pessoas mortas, e por que é que não conseguimos desgrudar nossos olhos dessas imagens — mesmo quando as nossas mentes ficam perplexas e os nossos estômagos começam a revirar dentro de nós? E mais: por que fazemos isso com nós mesmos? Afinal, as sensações que experimentamos não são nada prazerosas e, muitas vezes, inclusive nos sentimos culpados depois. Veja algumas explicações:
Se você prestar atenção, vai perceber que, quando vemos fotos de indivíduos que morreram — em acidentes de carro, desastres naturais, quedas de avião, assaltos, ataques terroristas, guerras, explosões etc. —, perguntas como “o que acontece com uma pessoa que tem o corpo estraçalhado em um acidente?”, “o que será ela sentiu sentido no momento do desastre?” e “será que ela sofreu?” começam a pipocar em nossas mentes.
Pois, quando começamos a nos fazer esse tipo de perguntas, mesmo que sem perceber, estamos nos colocando no lugar das vítimas, imaginando como seria se, em vez delas, fossemos nós ou algum ente querido que tivesse passado por aquela situação. Sendo assim, até determinado ponto, a curiosidade que sentimos é resultado do nosso próprio desejo de experimentar o sofrimento dos outros. Em outras palavras, nós sentimos empatia.
Evolutivamente falando, a empatia nos ajuda a formar laços próximos com outras pessoas, e ela é essencial para a nossa sobrevivência. Além disso, alguns estudos revelaram que quando vemos fotos de pessoas que morreram tragicamente, estamos, mesmo que inconscientemente, repassando mentalmente os perigos que podem pôr as nossas próprias vidas em risco e nos preparando para o caso que de algum dia passemos pelas mesmas situações.
Essa empatia nos ajuda a entender a nossa própria fragilidade e a compreender que o nosso tempo é curto, além de fazer com que nos sintamos mais próximos das outras pessoas. Assim, apesar de sofrermos ao ver o sofrimento dos outros, esse é o tipo de coisa que nos ajuda a entender o mundo que nos rodeia — e a sobreviver nele —, e a curiosidade mórbida nos ajuda a lidar com questões relacionadas com a nossa própria existência e mortalidade.
Outra questão que pode estar relacionada com o fascínio por imagens perturbadoras é o fato de elas despertarem o nosso medo e nos deixarem ansiosos. E, como você sabe, quando nos sentimos assustados, o nosso organismo libera neurotransmissores como a noradrenalina e a dopamina, que, além de nos deixar mais atentos e alertas, nos preparam para reagir em caso de emergência.
Pois a descarga de adrenalina e a alteração emocional que as imagens macabras provocam fazem com que as pessoas se sintam vivas — mesmo que seja à custa de sensações negativas. Além disso, a dopamina também é liberada quando sentimos prazer e, apesar de isso não significar que o nosso cérebro interprete coisas desagradáveis como sendo prazerosas, a sensação é desencadeada.
Além disso, existe toda uma pressão social e tabu envolvendo as imagens mórbidas, o que ajuda a torná-las mais atraentes, e é justamente a culpa que sentimos que nos leva a buscá-las, já que essa “transgressão” nos faz sentir mais fortes e desafiadores.