Ciência
07/03/2019 às 05:00•3 min de leitura
Pessoas introvertidas são muitas vezes confundidas com antipáticas ou antissociais. Infelizmente, isso acontece porque, ao contrário dos extrovertidos, os introvertidos sentem a real necessidade de duas coisas: ficar sozinhos por um tempo e desenvolver conversas realmente interessantes. Por isso, introvertidos não curtem lugares com muita gente e detestam conversas banais, como aquela discussão sobre a chuva, que sempre acontece no elevador.
Para evitar esse tipo de situação, os introvertidos recusam convites para festas de trabalho, desviam o olhar se encontram pessoas conhecidas na rua e costumam evitar ligações telefônicas a todo custo. Por que será que introvertidos fogem tanto de conversas triviais? Será que eles não têm habilidades para desenvolver esse tipo de interação social? É medo? Medo de quê?
A verdade é que os introvertidos detestam conversas banais simplesmente porque, para eles, essa interação soa falsa e sem sentido. Para entender melhor, é só seguir uma lógica relativamente simples: ao puxar papo só para quebrar o silêncio, fazemos comentários aleatórios e que não são construtivos – ou você sai do elevador com a sensação de que acabou de aprender algo realmente incrível?
De acordo com a psicóloga Laurie Helgoe, a verdade é que essas conversas realmente podem bloquear qualquer possibilidade de alguma interação realmente honesta. “Introvertidos não odeiam conversas pequenas porque nós não gostamos de pessoas. Nós odiamos conversas pequenas porque odiamos a barreira que elas criam entre as pessoas”, explicou a psicóloga, que é também introvertida. Helgoe é autora de um livro que fala inteiramente a respeito do espectro da introversão.
Além dessa questão de sentido e profundidade de conversa, que é algo que realmente atrai a atenção dos introvertidos, Helgoe lembra também que introvertidos funcionam como uma bateria de celular, e que o que consome a energia dessas pessoas é justamente a interação social. Por isso elas preferem conversas realmente significativas, porque, pelo mesmo motivo que você desativa alguns aplicativos quando o celular está quase sem carga, os introvertidos gostam de escolher bem como gastam sua bateria.
A escritora Diane Cameron completa essa analogia, explicando que conversinhas banais são como lixas para a psique de um introvertido. Até aí, a coisa está fácil de ser entendida, certo? Mas aí existe um probleminha: essas conversas sem muito sentido são essenciais. Todos nós precisamos delas.
É por meio das conversas estranhas e sem assuntos profundos que abrimos as portas para conversas mais significativas, afinal ninguém começa a discutir o sentido da existência humana com alguém que nunca viu na vida – pelo menos não frequentemente.
Gostando ou não, por motivos de introversão ou não, a verdade é que, de vez em quando, todos nós precisamos das conversas pequenas que tanto odiamos. O ideal para quem tem esse mesmo problema é conduzir a conversa de forma inteligente, em direção a tópicos específicos. Confira algumas dicas a seguir para que, em futuros diálogos, você mande bem na hora de interagir:
Se conversar banalidades não faz parte da sua rotina, e você resolve mudar isso, é possível que acabe sentido nervosismo, ansiedade e medo. Nesse momento, o ideal é perguntar para si mesmo: qual é a pior coisa que pode acontecer? Se a conversa não der em nada, e a outra pessoa não gostar de você, o que vai acontecer?
É preciso ter em mente que o nervosismo e a ansiedade fazem parte de você mesmo e de suas crenças. Você também pode ter sempre em mente que, se no passado você não era exatamente a pessoa mais comunicativa do mundo, não precisa ser sempre assim. Todo mundo pode mudar.
Se o que causa incômodo é a ideia de que alguém está analisando você enquanto você fala e tentando captar informações sobre a sua vida, mude o foco da conversa e comece a fazer perguntas a respeito da vida/escola/trabalho da outra pessoa. Taí um jeito simples e eficiente de tirar um pouco da pressão que você sente durante um diálogo trivial.
Vamos pelo óbvio aqui: se você começar a entupir uma pessoa de perguntas, essa pessoa vai se sentir em um interrogatório, e possivelmente não é essa a sua intenção. Quando chegar a sua hora de responder a algumas perguntas sobre si mesmo, capriche na resposta e escolha palavras que alimentem a curiosidade da outra pessoa, assim ela saberá o que mais perguntar.
Quer um exemplo? Digamos que alguém pergunta como você está. Em vez de responder apenas com um “bem”, tente algo como “estou bem, sim, com um dia ensolarado desses, não tem como não ficar feliz”. A partir daí, é mais fácil desenvolver um diálogo, você concorda?
Da mesma forma que você pode começar a treinar o uso de respostas que não sejam monossilábicas, é interessante que a pessoa com quem você esteja falando fale mais de uma palavra também. Por isso, faça perguntas inteligentes como: “com o que você tem trabalhado ultimamente?”, “qual foi o ponto alto da sua semana?”, “quando você era criança, qual era o emprego dos seus sonhos?”. Qualquer coisa que não possa ser respondido com “sim” ou “não” já vale.
Introvertidos gostam muito de analisar pessoas, situações e seus próprios pensamentos e atitudes. Quando algo não sai como o esperado, costumam ser duros demais e exageram na autocrítica.
Se a sua conversa não deu certo, não significa que vai ser sempre assim ou que o problema é com você. Em vez de ficar remoendo o que deu errado, prefira ser menos rigoroso na hora de avaliar a si mesmo. Lembre-se de que todos, sem exceção, passam por situações constrangedoras ou de fracasso de tempos em tempos – com você não seria diferente.
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