Ciência
18/03/2018 às 02:00•3 min de leitura
Envolvendo o bebê como se fosse um guarda-chuva, a placenta tem diversas funções essenciais para o desenvolvimento da criança. Ela funciona como os pulmões do bebê, uma vez que fornece a ele o oxigênio que capta da mãe; serve também como seus rins, por filtrar resíduos; atua, ainda, como sistema gastrointestinal e imunológico, garantindo que o bebê tenha nutrientes e anticorpos. É graças à placenta que o feto se desenvolve com saúde.
Não é possível acompanhar o desenvolvimento da placenta durante a gestação, pelo menos não sem ser de maneira invasiva, e é por isso que algumas gestantes têm a chamada pré-eclâmpsia, que é quando os vasos sanguíneos não se desenvolvem corretamente e deixam a região com pouco fluxo de sangue. Em alguns casos, a placenta pode penetrar na parede do útero ou até mesmo em outros órgãos – esse fenômeno é conhecido como placenta acreta.
Pesquisas recentes revelaram, finalmente, uma maneira não invasiva de monitorar o desenvolvimento da placenta. Para isso, é preciso analisar um material secretado pela placenta chamado exossomo, já que a concentração de exossomo está diretamente relacionada com o peso da placenta.
De acordo com Stacy Zamudio, pesquisadora do Hackensack University Medical Center, a altitude desempenha um papel grande na qualidade da placenta formada pelo corpo da gestante. Zamudio estudou as gestações de mulheres indígenas que vivem em grandes altitudes nos Andes e descobriu que aquelas que tinham se mudado recentemente para a região e que estavam grávidas acabavam tendo placentas mais fortes e bebês maiores. De acordo com ela, isso tem a ver com o fato de essas mulheres conseguirem extrair melhor o oxigênio do ar.
O bebê recebe as características imunológicas de sua mãe através da placenta e, quando nasce, tem anticorpos suficientes para estar protegido até seis meses após o parto.
Mulheres obesas têm mais chances de produzir placentas com problemas, aumentando os riscos de pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. O excesso de peso também faz com que o bebê receba menos ferro do que precisa e ainda aumenta a produção de resposta inflamatória na placenta. Quando o feto passa por esse tipo de gestação, acaba tendo mais chances de desenvolver doenças metabólicas ao longo da vida, como diabetes, problemas cardíacos e até alguns tipos de câncer.
Muitas mulheres acreditam que ficarão mais saudáveis se ingerirem a placenta logo após o parto, e essa é uma prática comum entre muitos mamíferos, mas não é necessariamente útil para seres humanos. Essas mulheres comem a placenta crua, cozida ou em forma de pó, por acreditarem que evitarão a depressão pós-parto e que produzirão mais leite, mas uma revisão feita dos estudos atuais sobre o assunto não encontrou qualquer evidência disso.
Cada espécie produz uma placenta diferente, e elas variam em termos de forma e tamanho, inclusive, afinal o tempo de gestação também muda bastante – os gambás americanos necessitam de 12 dias e os elefantes africanos precisam de 22 meses de gestação, por exemplo.
Algumas placentas “grudam” muito mais no útero materno, enquanto outras são anexadas minimamente – acredita-se que isso acontece porque espécies que correm mais riscos de infecção após o parto precisam ser geradas em placentas mais invasivas para que o feto consiga captar mais células imunológicas da mãe.
Quando a placenta está sendo desenvolvida – cada gestação gera uma placenta nova –, o corpo da mulher não produz células de defesa. Além do mais, quando a placenta se desenvolve normalmente, ela se fixa ao útero apenas o suficiente para receber nutrientes sem provocar danos à mulher.
Essas características servem como base para estudos sobre o câncer, já que permitem entender como alguns tumores podem crescer sem que o sistema imunológico interrompa esse crescimento. Um estudo feito sobre o tema comparou placentas que provocaram pré-eclâmpsia com o perfil genético de alguns tumores, e os resultados revelaram que as duas estruturas têm traços em comum. Dessa forma, é possível estudar o crescimento de células cancerosas por meio de comparação, o que é uma ótima notícia.
*Publicado em 19/4/2017