Pesquisadores confirmam que Minas Gerais já teve mar

12/08/2014 às 09:312 min de leitura

Se você é de Minas Gerais e curte uma praia, sabe muito bem a falta que faz um pedacinho mais próximo do oceano. Porém, você sabia que esse estado brasileiro já teve mar um dia? É claro que isso faz milhões de anos, mas os pesquisadores concluíram a existência de fósseis marinhos recentemente nesse estado.

Segundo informações da Agência Fapesp, uma equipe formada por geólogos e paleontólogos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) encontrou um tipo de fóssil especial nos arredores da cidade mineira de Januária, que fica localizada na margem esquerda do Rio São Francisco.

A região, rica em cachoeiras e grutas calcárias, abriga vestígios de um passado muito remoto, que também foi marcado por uma relação íntima com as águas. O fóssil que foi encontrado nesse local contém diminutos fragmentos de animais marinhos do gênero Cloudina — seres de formato tubular, que são compostos por uma sucessão de cones calcários encaixados uns sobre os outros.

E quando o mar existiu?

Bem, a época que existiu mar em Minas Gerais foi a tanto tempo que não havia ainda nenhum indício de seres humanos na região, nem de plantas, muito menos de mineirinhos ou pão de queijo. De acordo com os dados da pesquisa, os fósseis encontrados viveram no planeta Terra por volta de 550 milhões de anos atrás — do período Ediacarano da era Neoproterozóica.

A equipe encontrou os restos fossilizados desses animais marinhos incrustados em um paredão e em outras rochas da Formação Sete Lagoas, que faz parte do Grupo Bambuí.

Essa unidade sedimentar da bacia sanfranciscana se espalha por aproximadamente 300 mil quilômetros quadrados e compreende vastas porções de Minas Gerais e da Bahia, além de se estender para os estados de Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Mas, você deve estar se perguntando como o mar foi parar ali, não é?

Bem, nesse período, o mundo era formado por continentes totalmente diferentes do que temos hoje e o supercontinente de Gondwana era um deles. Ele era composto pela América do Sul, África e Antártida, todos juntos. E os pesquisadores acreditam que o braço de mar que existiu em Minas tenha derivado de um oceano batizado de Clymene, que separava o Gondwana da atual Amazônia.

Por isso, esses fósseis formam uma prova praticamente irrefutável de que um braço de mar raso, com no máximo 10 metros de profundidade, cobria essa parte do Brasil.

“Essa deve ter sido a última praia que Minas Gerais teve”, comentou o geólogo Lucas Warren, hoje professor do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) de Rio Claro, da Unesp, mas que fazia pós-doutorado na USP, com bolsa da FAPESP, quando a descoberta foi feita, no ano passado.

Segundo informações da Fapesp, o pesquisador é o autor principal de um artigo na edição de maio da revista científica Geology sobre a descoberta dos fósseis em Januária. Para identificá-los, o pesquisador contou ainda com a colaboração de Fernanda Quaglio, especialista em paleobiogeografia.

Outros fragmentos importantes

Mas, não foi somente os fósseis do gênero Cloudina que foram encontrados na região mineira. Os pesquisadores também encontraram três fragmentos atribuídos ao gênero Corumbella e ainda rastros em rochas deixados provavelmente por um animal de corpo mole.

De acordo com o estudo, as corumbellas também eram dotadas de um possível esqueleto e dividam o mesmo ambiente marinho com as cloudinas. A pesquisa em Januária ainda contou com a colaboração do geólogo Nicolás Strikis, doutorando da USP, também autor do artigo, e um biólogo da cidade mineira de Hamilton dos Reis Salles.

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