Artes/cultura
01/06/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 10:58
Governos totalitários são, antes de qualquer coisa, ultranacionalistas. E isso não seria diferente com a Itália fascista. Numa tentativa de escantear esportes que estavam ganhando espaço no país, como o futebol e o rugby, o governo de Mussolini resolveu criar um esporte próprio, a volata.
O jogo, na verdade, não tinha nada de muito original: era uma mistura de diversos esportes com ações que podiam ser feitas tanto com os pés quanto com as mãos. E a partida ocorria, adivinhem... em um campo de futebol.
Em um governo que apelava mais para a ignorância do que para a criatividade, não é de se surpreender que esse "Frankenstein esportivo" acabou sendo mais uma das jogadas fracassadas dos fascistas italianos.
A volata, que em italiano significa algo como "corrida" ou "fluxo", foi idealizada por Augusto Turati, secretário nacional do Partido Fascista. O esporte teve seu lançamento oficial em 1928, com a primeira partida ocorrendo somente um ano depois, em janeiro de 1929, no Estádio do Partido Fascista em Roma.
A ideia de Turati era criar um jogo que combinasse elementos de futebol e rugby, mesclando também influências de handebol e até basquete. Em resumo, volata era um híbrido, com regras que permitiam o uso das mãos e dos pés para jogar a bola, contanto que isso fosse feito dentro de um limite de três segundos.
O campo onde a volata era jogada tinha 90x60 metros, e cada equipe era composta por oito jogadores. A duração do jogo era de uma hora, dividida em três períodos de 20 minutos. O objetivo era simples: colocar a bola no gol adversário. Apesar da simplicidade das regras, a combinação dos elementos de diferentes esportes criava um jogo dinâmico e, teoricamente, emocionante.
No entanto, essa mistura também significava que a volata não se diferenciava o suficiente do futebol (e de outros esportes) para conquistar um espaço próprio nos corações dos italianos.
A promoção da volata foi intensa. O governo fascista e suas organizações culturais e esportivas investiram pesado em propaganda — "o esporte mais italiano", afirmava um dos slogans —, vendendo a ideia de que a modalidade era um descendente direto de esportes antigos da Itália, como o harpastum romano (jogado com a mão) e o calcio fiorentino medieval (um tipo de futebol arcaico).
No auge de sua popularidade, mais de 100 equipes foram formadas, chegando ao ponto de criarem um campeonato nacional. A equipe milanesa Dopolavoro Richard Ginori sagrou-se campeã desse torneio nacional realizado em 1930, que foi o único.
No entanto, o sucesso da volata foi efêmero. Sem o apoio contínuo do estado e com regras que não cativaram o público, o interesse pelo jogo rapidamente diminuiu. Em 1931, não foi possível organizar outro campeonato, e a liga nacional foi oficialmente dissolvida em 1933.
Por outro lado, a popularidade do futebol continuava a crescer, mesmo com a desaprovação inicial do regime. Observando essa tendência, o próprio Mussolini mudou de estratégia, afinal, todo totalitarista é chegado num populismo.
Reconhecendo que o futebol era imensamente popular entre as massas, ele direcionou esforços para que a Itália sediasse a Copa do Mundo de 1934 e que a seleção nacional fosse vitoriosa, o que de fato ocorreu (no mínimo estranho, não?).
A tentativa de substituir o futebol e o rugby com a volata pode ser vista como um reflexo do desejo dos fascistas de criar uma identidade cultural distinta, livre de influências estrangeiras. No entanto, a resistência popular e a força das tradições esportivas já enraizadas mostraram-se mais fortes que a propaganda estatal.