Estilo de vida
03/09/2022 às 05:00•3 min de leitura
Entre as décadas de 1930 e 1960, era pensando nas vantagens que a notória Penitenciária Federal de Alcatraz, ilhada nas frias águas da costa de São Francisco (Califórnia, EUA), que muitos presos imploravam para fossem enviados para cumprir sua pena lá.
Essas “regalias”, como banquetes nas refeições e chuveiros com água quente, não passavam de truques do sistema de segurança, elaborados por James Johnston, primeiro diretor da instituição, para evitar o índice de fugas – o que, aparentemente, deu muito certo.
(Fonte: Metrópoles/Reprodução)
Em 11 de julho de 2013, a Netflix lançou em seu catálogo a produção original da série Orange is the New Black, desenvolvida por Jenji Kohan, Sara Hess e Tara Hermann; baseada na memória criada por Piper Kerman sobre suas experiências na FCI Danbury, uma prisão federal de segurança mínima em Connecticut.
O impacto da obra causou uma revolução nas ideias sobre como o entretenimento e as histórias poderiam ser contadas e consumidas, mas também aumentou exponencialmente a obsessão das celebridades e milionários em serem transferidos para Danbury, considerada a "Disney World das prisões", segundo a opinião dos especialistas.
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(Fonte: Hartford Courant/Reprodução)
Kerman foi parar na FCI Danbury após ter sido condenada por lavagem de dinheiro, em meados de 1998. No entanto, desde aquela época, a instituição já era o lar de estrelas da música, sonegadores, herdeiras bilionárias de hotéis e outros tipos de celebridades associadas a crimes que geralmente envolviam muito dinheiro e pouco impostos pagos.
A divulgação massiva das condições de vida através do livro de Kerman, lançado em 2010, só serviu para inflamar os advogados de defesa dessas pessoas, que faziam o possível para que sua pena fosse mais tranquila em um lugar que oferece aulas de artesanato e música; terapia em grupo para lidar com Estresse Pós-Traumático; aulas de aeróbica e treinamento em circuito.
(Fonte: Mirror/Reprodução)
Assim, a penitenciária trilhou seu caminho – sempre ao longo dos ricos – para o posto de uma das mais hospitaleiras e populares prisões dos EUA, considerada um grande avanço em relação as demais. O diretor e fundador da Wall Street Prison Consultants, Larry Levine, descreveu a Danbury em entrevista ao The Washington Post como “um ambiente de faculdade” ou “um chato Dia da Marmota”.
Em 2013, a cantora Lauryn Hill, seis vezes vencedora do Grammy, passou 3 meses na FCI Danbury por não pagar cerca de US$ 1 milhão em impostos. No dia seguinte a sua libertação, ela lançou uma musicada chamada Consumerism ("consumismo" em inglês), que fala sobre os momentos em que passou encarcerada, cercada de privilégios.
Teresa Giudice. (Fonte: Patch/Reprodução)
Por outro lado, pessoas como Teresa Giudice, declarada culpada em 2015 por falência e fraude postal em um esquema com seu marido, condenada a 11 meses na FCI Danbury, comentou em entrevista ao Good Morning America após sua libertação, que seus meses lá dentro foram "como viver no inferno".
A estrela do reality show "The Real Housewives of New Jersey", disse que havia mofo nos banheiros, falta de água corrente constantemente e que os chuveiros eram extremamente gelados.
Apesar disso, a reputação de longos anos da penitenciária entre estrelas e figuras de poder do ramo empresarial norte-americano não abalou os desejos de presos considerados párias da sociedade, como a traficante de sexo infantil Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos na prisão federal Metropolitan Detention Center, no Brooklyn, por ajudar o abusador Jeffrey Epstein.
Ghislaine Maxwell. (Fonte: BBC/Reprodução)
Ela fez mais de 100 reclamações sobre seu tratamento na prisão durante o tempo em que passou lá desde sua condenação, em 29 de dezembro de 2021, alegando que teve que compartilhar sua cela com ratos, submetida a buscas regulares em suas cavidades e abusada por guardas. Maxwell também reclamou que não estava se alimentando apropriadamente porque sua comida vinha sempre infestada com larvas.
Seus advogados argumentaram que as condições eram repreensíveis, e que a instituição rivalizava com cenas do encarceramento de Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes. Eles esperavam que sua cliente terminasse na FCI Danbury, porém, foi decidido em julho desse ano que Maxwell fosse movida para a FCI Tallahasse, Flórida.
O local só foi aceito porque não é muito diferente de Danbury. Lá os presos podem fazer ioga, esportes coletivos e participam até de um show de talentos, ainda que, segundo a Associated Press, ainda ocorram abusos.