Artes/cultura
11/11/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 11/11/2024 às 09:00
A meditação é uma prática oriental que tem sido muito popularizada no Ocidente nos últimos anos. E dá bem para entender o porquê. Afinal, do lado de cá do mundo, com a nossa vida estressante e cheia de problemas, esta técnica parece ser muito desejável: além de prometer melhorar a nossa saúde mental, ela também é gratuita.
Mas acontece que, com o aumento do interesse das pessoas, aumentam também as pesquisas científicas sobre o tema. E algumas delas têm mostrado que até a meditação tem o seu lado sombrio.
A meditação é uma prática que envolve o uso de técnicas que ajudam a focar a mente e o corpo, no intuito de alcançar um estado de calma e bem-estar. A ideia é que a pessoa volte-se para dentro de si mesma, desligando-se por um tempo do mundo externo.
Os primeiros registros sobre a meditação foram encontrados na Índia, e têm mais de 1.500 anos. A primeira escritura encontrada veio de uma comunidade budista e descreve várias práticas. Mas, além disso, há também relatos de sintomas de depressão e ansiedade que podem ocorrer após a meditação, e mesmo algumas anomalias cognitivas associadas a episódios de psicose, dissociação e despersonalização.
Agora, o que os estudos mais recentes estão mostrando é que esses efeitos são mais comuns do que se pode imaginar.
Um estudo feito nos Estados Unidos em 2022, com uma amostra de 953 pessoas que meditavam regularmente, mostrou que mais de 10% dos participantes experimentaram efeitos adversos ou tiveram, depois de meditar, um impacto negativo significativo em sua vida cotidiana que durou pelo menos um mês.
Já outra revisão bibliográfica publicada em 2020 constatou que os efeitos adversos mais comuns são ansiedade e depressão. Essas questões podem ser associadas a sintomas psicóticos ou delirantes, dissociação ou despersonalização e medo ou terror.
A pesquisa também observou que os efeitos adversos podem ocorrer mesmo em pessoas sem problemas anteriores de saúde mental, mas que tiveram apenas uma exposição moderada à meditação. E pior: podem levar a sintomas duradouros.
Só que uma questão importante aqui é que nada disso é novidade. Em 1976, um pesquisador chamado Arnold Lazarus, que era uma figura-chave no movimento da ciência cognitivo-comportamental, disse que a meditação, se fosse usada indiscriminadamente, poderia induzir "sérios problemas psiquiátricos, como depressão, agitação e até descompensação esquizofrênica".
E há também a crítica crescente de que muitos dos profissionais que promovem o mindfulness (uma técnica específica de meditação baseada na atenção plena), como os coaches, transformaram a prática em uma espécie de "espiritualidade capitalista". Já há até números: nos Estados Unidos, o mercado da meditação soma US$ 2,2 bilhões.
A discussão que se prenuncia cada vez mais é que, sim, as práticas de meditação e mindfulness podem agregar muita qualidade de vida em um mundo tão corrido. Mas é preciso ter sempre um acompanhamento especializado para que isso não acarrete mais em problemas do que em solução.