Estilo de vida
16/02/2017 às 07:13•4 min de leitura
Entre os indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, temos o drama “Estrelas Além do Tempo”, longa sobre um trio de mulheres negras geniais que trabalharam no departamento de matemática da NASA na década de 60 e foram fundamentais em ajudar os norte-americanos a vencer a corrida espacial contra os russos. Pois, caso você ainda não saiba, apesar de soar como uma história de ficção, se trata de mulheres reais que enfrentaram desafios imensos.
Volte um pouco no tempo e imagine como era viver nos Estados Unidos dos anos 50 e 60, quando a segregação racial era uma questão pra lá de problemática, a Guerra Fria estava em seu ápice, as mulheres tinham poucas ou nenhuma oportunidade de entrar no “mundo dos homens”, e a União Soviética e os EUA lutavam para ver quem conseguiria chegar primeiro ao espaço.
Elas tiveram que enfrentar inúmeras adversidades
Foi nesse contexto que o trio formado por Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson — mulheres, matemáticas e negras — ajudaram a mudar o curso da história norte-americana, mesmo enfrentando um sem fim de preconceitos e dificuldades.
As três trabalharam juntas no Centro de Pesquisa Langley da NASA, na Virginia, e foi graças ao esforço delas e de muitas outras mulheres (a maioria delas anônimas) que a agência espacial conseguiu enviar o astronauta John Glenn ao espaço e trazê-lo de volta são e salvo à Terra. Mas, como é que essas pessoas incríveis conseguiram abrir caminho entre tantas adversidades e discriminação para chegar lá?
Mary Jackson
Voltando um pouquinho mais no tempo, durante a Segunda Guerra Mundial, o então Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, começou a quebrar paradigmas quando baniu a discriminação no emprego de trabalhadores com base em etnia, cor, credo e origem nacional em órgãos governamentais e no esforço de guerra — e foi isso que abriu as portas para a contratação de Katherine, Mary e Dorothy pela NASA. Aliás, a organização foi uma das pioneiras nos EUA em empregar pessoas negras e mulheres.
Katherine Johnson
Na verdade, “nerds” de todo o país interessados em trabalhar em pesquisa aeroespacial iam até Langley em busca de oportunidades; assim, a realidade é que a NASA acabou ficando conhecida por empregar toda classe de esquisitões. Entre eles, havia muitas mentes liberais e progressistas que pouco a pouco foram cedendo e abrindo espaço para que as minorias — mulheres e negros — pudessem mostrar sua capacidade.
Dorothy Vaughan
Contudo, ainda assim, não pense que a coisa toda aconteceu de forma simples! Até mesmo na NASA a segregação existia, e as mulheres negras, embora pudessem trabalhar para a organização, eram relegadas a uma unidade específica que ficava distante das demais, a Área Oeste.
Quando começaram a trabalhar para a NASA, Katherine, Mary e Dorothy tinham como função dar suporte aos engenheiros e cientistas — homens e brancos — da agência espacial realizando cálculos matemáticos complexos e garantindo que os números que as máquinas recém-instaladas da IBM cuspiam estavam corretos. Na época, a organização estava focada completamente no desenvolvimento do Projeto Mercúrio, o primeiro programa norte-americano com o objetivo de enviar seres humanos em órbita ao redor da Terra em segurança.
Computadores da Área Oeste
As matemáticas que trabalhavam em Langley ficaram conhecidas na época como “computadores de saia” — ou, ainda, como Computadores da Área Oeste, em referência à unidade que elas ocupavam na NASA. Os cálculos que elas realizavam (à mão!) contribuíram enormemente para o desenvolvimento de aeronaves mais rápidas e seguras, de aerodinâmicas mais eficientes e para a exploração espacial como um todo.
Diferente do que aconteceu com tantos engenheiros — homens e brancos — que trabalharam para a NASA, foram pouquíssimas as mulheres que receberam qualquer reconhecimento de sua contribuição em publicações científicas, trabalhos acadêmicos ou participação em incontáveis projetos.
A contribuição dessas mulheres geniais foi imensa
Sem falar que as carreiras desses computadores humanos geniais eram relativamente curtas, já que, quando se essas mulheres se casavam e tinham filhos, o esperado era que elas abrissem mão de seus trabalhos para se tornarem donas de casa. Assim, não é de se estranhar é que a história de Katherine, Mary e Dorothy não fosse muito conhecida, e a NASA fez questão de se envolver na produção do longa para garantir que a trama fosse o mais fiel possível à estelar trajetória delas.
Katherine Johnson, interpretada no filme por Taraji P. Henson, era uma matemática excepcional que começou a trabalhar para a NASA nos anos 50. Ela era considerada tão brilhante e suas equações tão precisas que foi a Katherine que o astronauta John Glenn confiou a missão de checar os cálculos da trajetória da nave em que ele embarcaria — a Friendship 7 — para se tornar o primeiro humano a orbitar a Terra.
John Glenn
Nascida em 1918, Katherine sempre foi obcecada por números e se destacou ao longo da vida acadêmica por sua mente afiada. Ela entrou para o ensino secundário aos 10 anos de idade, se graduou na West Virginia State College aos 18 e trabalhou como professora até ir para a NASA, em 1953. Além de participar do Projeto Mercúrio, Katherine contribuiu para os programas Redstone e Apollo.
Katherine Johnson, interpretada por Taraji Hens
Dorothy Vaughan, interpretada por Octavia Spencer no longa, nasceu no Missouri em 1910 e se graduou pela Universidade Wilberforce de Ohio em 1926. Ela abandonou sua carreira como professora durante a Segunda Guerra Mundial para trabalhar para a NASA e se tornou a primeira mulher negra a assumir um cargo de gerência na agência espacial — abrindo caminho para que outras minorias conquistassem seu espaço na instituição.
Dorothy Vaughan, interpretada por Octavia Spencer
Vaughan foi a gestora da Unidade de Computadores da Área Oeste de 1949 até 1958 e acabou se tornando uma especialista em programação. Dorothy continuou trabalhando para a NASA e fez grandes contribuições para o programa relacionado ao desenvolvimento dos veículos lançadores de foguetes Scout até se aposentar em 1971.
Mary Jackson, vivida no cinema por Janelle Monáe, foi para Langley depois de trabalhar como professora. Nascida na Virginia em 1921, Mary — que tinha formação em Física e Matemática — atuou no processamento de dados obtidos em testes com túneis de vento e voos experimentais e entrou para a NASA em um programa de treinamento que eventualmente permitiu que ela fosse promovida de matemática a engenheira.
Mary Jackson, interpretada por Janelle Monáe
Para isso, Mary cursou engenharia na Universidade da Virginia — ao mesmo tempo que mantinha seu trabalho em Langley — e, em 1958, se tornou a primeira engenheira negra da NASA. Mary permaneceu na agência espacial até se aposentar, em 1985, e passou esses anos todos lutando para melhorar as condições de trabalho das mulheres na organização.