Artes/cultura
26/05/2014 às 11:54•3 min de leitura
Pode até parecer, mas o título dessa matéria não está equivocado. E conforme você for acompanhando este artigo, verá que existem detalhes ainda mais bizarros na história de Lydia Fairchild – a mulher que descobriu ser sua própria gêmea.
Em 2002, Lydia e seu marido Jamie Townsend decidiram se separar. Com dois filhos desse relacionamento e o terceiro a caminho, a americana – então com 26 anos – resolveu pedir alguns benefícios ao governo. Entre os diversos documentos solicitados, era preciso apresentar um exame de DNA para comprovar que as crianças eram realmente de Lydia e Jamie. E foi então que tudo começou a ficar estranho!
O exame de DNA comprovou que Jamie Townsend era o pai das crianças. Porém, para a surpresa de todos, o teste não indicava Lydia Fairchild como a mãe de seus filhos. Mesmo apresentando fotos das gestações, fotos da sala de parto e um testemunho do obstetra, o governo considerou que todos aqueles dados poderiam ser fraudados, acreditando então no exame de DNA e afastando a mãe de seus filhos.
Para se certificar de que a mulher não estava tentando fraudar o sistema, as autoridades enviaram um oficial para acompanhar o parto do terceiro filho de Lydia e garantir que não haveria qualquer intervenção na coleta das amostras de sangue. O problema é que, mais uma vez, o resultado dos exames apontava que Lydia não era a mãe biológica da criança que ela havia acabado de dar à luz.
O que os exames apontavam é que Lydia tinha mais chances de ser a tia do que a mãe de seus filhos. O problema é que a mulher não tinha nenhuma irmã. Foi então que o advogado da mulher desvendou o mistério ao consultar fontes especializadas e encontrar um caso semelhante em 1998, que envolvia uma mulher de 52 anos chamada Karen Keegan.
A condição genética de Keegan foi descoberta quando ela precisou de um transplante de rim e seus filhos fizeram exames para checar se eram doadores compatíveis com a mãe. Porém, os testes revelaram que o material genético dos filhos não correspondia ao de Karen.
O documentário britânico “The Twin Inside Me” (A Gêmea Dentro de Mim, em tradução livre), explica que “uma série de testes comprovaram que Karen era uma ‘quimera’ – um termo derivado de uma criatura mitológica grega que era uma mutação de mais de um animal. Logo após a concepção, o óvulo que viria a ser Karen se fundiu com outro óvulo. O resultado é um óvulo fundido que contém dois DNAs completamente separados que se combinaram em Karen. Isso significa que, biologicamente, Karen é mais de uma pessoa”.
O caso de Karen Keegan foi a chave para o mistério de Lydia Fairchild. Novos exames de DNA, desta vez com amostras coletadas em um teste de Papanicolau, comprovaram que as três crianças realmente eram compatíveis com Lydia, que foi inocentada das acusações que haviam sido feitas contra ela.
Juntas, Karen e Lydia fazem parte de um grupo de poucas dezenas de casos de quimerismo registrados em humanos no mundo inteiro. Trata-se de pessoas que carregam duas sequências genéticas diferentes, o que pode causar transtornos como esses, já que o DNA é considerado a assinatura biológica única de cada indivíduo. Mas quando se trata de uma quimera, um fio de cabelo pode apontar para uma pessoa, enquanto uma análise das células cervicais, por exemplo, fará parecer que se trata de outro individuo.
Apesar de histórias como a de Lydia Fairchild e Karen Keegan serem bastante raras, o mecanismo básico que constitui o quimerismo – que consiste em um indivíduo que tem células de uma ou mais pessoas em seu organismo – é mais comum do que se imagina.
Não existem números concretos, mas uma boa parte – se não todos – os humanos são quimera em alguma medida, já que as mães e os fetos costumam trocar células durante a gestação. O fenômeno de um gêmeo que absorve completamente o outro no útero, que é o que aconteceu com Fairchild e Keegan, é incomum. Entretanto, como as fertilizações in vitro aumentam a chance de gêmeos, elas aumentam também os casos de quimerismo.
“A quimera de um casal de gêmeos pode se transformar em um hermafrodita; se os gêmeos forem do mesmo sexo, a criança pode ter manchas na pele e olhos de cores diferentes, mas fora isso ela provavelmente terá uma aparência normal. Na falta de um exame de DNA completo, a pessoa provavelmente nunca vai saber”, explica Sam Kean no Psychology Today.