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07/12/2018 às 04:00•2 min de leitura
Falar em engenharia genética é complicado, até mesmo porque essa parte específica da Medicina ainda gera muita polêmica – é só começar uma discussão sobre reprodução in vitro e a ideia de escolher as características físicas de seus filhos (como cores dos olhos e dos cabelos) para se comprovar isso.
Da próxima vez que você discutir essa questão, haverá mais um ponto polêmico para incluir na conversa: a engenharia genética permite também, pelo menos na Grã Bretanha, que um filho seja gerado a partir das informações genéticas de três pessoas graças à chamada técnica de substituição mitocondrial.
Ainda que a ideia pareça bizarra demais, a intenção não é criar um bebê perfeito – pelo menos não por enquanto –, mas sim evitar que a mãe biológica repasse a seu filho alguma característica genética que acabe fazendo com que a criança herde determinadas doenças graves e/ou fatais.
Imagem: Shutterstock
Para que a técnica de substituição mitocondrial aconteça, os cientistas analisam o óvulo da mãe, cujo interior contém mais de 23 mil genes capazes de repassar as características da mãe ao bebê. Fora do núcleo há 37 genes na região da mitocôndria que influenciam o desenvolvimento da célula – se essa mitocôndria apresenta algum tipo de falha de formação, o bebê pode nascer portador de condições como a Síndrome de Leigh, que afeta o sistema nervoso central, e a Síndrome de Barth, que afeta a saúde cardíaca.
Disfunções na região da mitocôndria também estão ligadas a casos de surdez, cegueira, diabetes, epilepsia e doença de Parkinson. Só nos EUA, até 4 mil crianças nascem com doenças mitocondriais a cada ano. A ideia por trás da técnica de substituição mitocondrial é usar o núcleo do óvulo da mãe e implantá-lo no óvulo de uma doadora sem problemas mitocondriais.
Depois disso, o novo óvulo é fertilizado pelo espermatozoide do pai, pela técnica in vitro, e implantado no útero da mãe. Dessa maneira, a mãe biológica ainda repassa quase todas as suas características genéticas para o bebê, exceto o problema mitocondrial – os genes mitocondriais da doadora de óvulo representam menos de 1% dos genes que serão repassados à criança.
Imagem: Shutterstock
O fato é que a técnica pode, sim, impedir que um bebê nasça com determinadas doenças, mas ela também vai fazer com que essa criança tenha informações genéticas de duas mulheres e de um homem, o que é a grande novidade em termos científicos – já existem pessoas que foram concebidas dessa maneira, inclusive. Ainda assim, em termos científicos, não é possível ter certeza de como será o desenvolvimento de uma pessoa que é filha de outras três.
Não há como saber, por exemplo, como ocorrerá a interação genética entre os materiais dos dois óvulos. Da mesma maneira, é cedo para prever se esse tipo de intervenção pode ou não criar novas doenças e condições genéticas. Além do mais, que portas esse tipo de interferência pode abrir no sentido de engenharia genética?
Por levantar tantas questões e por estarmos falando de questões que afetam discussões éticas, o procedimento é recomendado apenas para a prevenção de doenças mitocondriais. A técnica não é indicada, portanto, para solucionar problemas de fertilização. Agora nos conte: qual é a sua opinião sobre esse tipo de método de reprodução?
*Publicado em 6/6/2016