Vin Mariani: o vinho batizado com cocaína que virou um favorito dos Papas

08/02/2017 às 13:373 min de leitura

Não é segredo que os Papas — assim como os clérigos de modo geral — curtem bebericar um bom e belo vinhozinho de vez em quando. No entanto, o que você talvez não saiba é que existiu uma variedade peculiar dessa bebida que fez um tremendo sucesso e se tornou uma favorita no Vaticano, mais notoriamente, dos pontífices Pio X e Leão XIII.

Estamos falando do Vin Tonique Mariani à la Coca de Peroum — ou simplesmente Vin Mariani —, um vinho “medicinal” lançado em 1863 pelo químico parisiense Angelo Mariani. E o que a tal bebida tinha de tão especial assim?

undefinedVinho da alegria

Bem, de acordo com Joshua Malin, do portal Vine Pair, o preparado continha cocaína em sua composição e, segundo seu criador Mariani se tratava de um poderoso revigorante capaz de combater a fraqueza e reestabelecer a energia física, além de prevenir uma porção de doenças, entre elas a malária e a gripe.

Elixir milagroso

A cocaína foi isolada da coca — a planta — pela primeira vez em meados do século 19 pelo químico alemão Albert Niemann e, em um primeiro momento, diversas propriedades terapêuticas foram atribuídas à substância. Entre os vários cientistas da época que se interessaram em estudar a droga estava o italiano Paolo Mantegazza, e foram as pesquisas desse cara que despertaram o fascínio de Angelo Mariani pelos “benefícios” da cocaína.

undefinedAlbert Niemann

Inspirado pelos trabalhos de Mantegazza, Mariani decidiu combinar folhas de coca trituradas com vinho de Bordeaux tinto — a uma proporção de seis miligramas da substância para cada 30 mililitros da bebida, aproximadamente —, e sua recomendação de consumo era de três taças diárias, antes ou depois das refeições. Aliás, o “elixir” era inclusive indicado para crianças, e a dose, nesse caso, devia ser a metade da sugerida para os adultos!

undefinedAngelo Mariani

É claro que o vinho de Mariani se tornou um tremendo sucesso e não demorou até que a bebida começasse a ser vendida por toda a Europa e chegasse à América do Norte. A grande demanda levou o inventor a abrir escritórios na Inglaterra, no Canadá e nos Estados Unidos, e o químico inclusive estabeleceu um laboratório em Nova York para garantir a distribuição do elixir aos norte-americanos.

Sucesso de vendas

Segundo Joshua, Mariani também tirou proveito da publicidade e investiu pesado em campanhas que diziam que sua bebida era endossada por milhares de médicos e celebridades. Os anúncios que ele publicou em jornais e revistas de vários países traziam os testemunhos de inúmeras figuras famosas que se diziam fãs do tônico, entre elas Émile Zola, Alexandre Dumas, Júlio Verne, Thomas Edison, o Presidente dos EUA William McKinley, e até a Rainha Vitória da Inglaterra.

undefinedAlgumas celebridades que "endossavam" o consumo do elixir

Aliás, o Papa Leão XIII, que também apareceu em um dos anúncios de Mariani, teria se tornado tão afeito das propriedades revigorantes da bebida que chegou a conceder ao inventor uma medalha de honra do Vaticano por sua extraordinária criação. Inclusive dizem que o pontífice sempre carregava um frasco do elixir para onde quer que fosse.

undefinedPapa Leão XIII

Então, em 1906, os EUA aprovaram uma lei que regulamentava as informações nos rótulos de produtos que continham cocaína e heroína, e isso acabou limitando bastante a “propaganda” que Mariani fazia de seu vinho fortificado. Além disso, nessa época, os movimentos a favor da proibição da comercialização de bebidas alcóolicas começaram a ganhar força em vários países — prejudicando as vendas do elixir.

Para piorar ainda mais as coisas para os lados de Mariani, não demorou até que o mundo começasse a se dar conta de que as propriedades da cocaína não eram tão benéficas assim, e que, na verdade, se tratava de uma substância extremamente perigosa. Por fim, a venda do elixir foi proibida em 1914, mas não antes de o químico francês acumular uma imensa fortuna com seu vinho batizado.

undefinedO vinho fortificado de Mariani inspirou a criação da Coca-Cola

Uma curiosidade interessante é que muita gente pegou carona no sucesso de Mariani, criando cópias alternativas de sua bebida. Um dos imitadores do francês foi John S. Pemberton, um farmacêutico de Atlanta que lançou um elixir em 1885 chamado “Pemberton's French Wine Coca”. Pois, com a proibição da venda de bebidas alcóolicas nos EUA, o norte-americano teve que reformular sua bebida — e batizou o produto de Coca-Cola.

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