Coisa de russo é viver em um dos vilarejos mais congelantes do planeta

23/12/2016 às 07:013 min de leitura

Os seres humanos são incrivelmente resilientes; prova disso são os cerca de 500 russos que vivem em condições extremas no pequeno vilarejo de Oymyakon, onde as temperaturas no inverno ficam em torno de 50 °C negativos. Achou friozinho? Isso não é nada comparado à temperatura mínima já registrada no local — que bateu os – 71,2 °C em 1924!

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O vilarejo fica situado a 750 metros acima do nível do mar, no nordeste da região de Sakha (Yakutia) na Rússia, e é vizinho de Yakutsk, que é a capital da província e também está entre os locais mais frios do mundo. E por se encontrar tão ao norte do hemisfério — suas coordenadas são 63.4608° N, 142.7858° E —, Oymyakon tem dias com apenas 3 horas de sol durante o inverno e até 21 horas de luz solar no verão.

Do frígido ao gélido

Nós aqui do Mega Curioso já falamos brevemente de Yakutsk em uma de nossas matérias, onde explicamos que, com cerca de 300 mil habitantes, ela detém o título de maior cidade do mundo construída sobre o permafrost — um tipo de solo típico da região do Ártico e que fica permanentemente congelado. A menor temperatura já registrada por lá foi de -64,5 °C, isso em 1891. Confira a seguir algumas imagens de lá:

Galeria 1

E por que estamos falando a respeito de Yakutsk novamente? Porque as fotografias que você verá de Oymyakon logo mais foram clicadas pelo fotógrafo neozelandês Amos Chappel, que passou cinco semanas na região documentando o cotidiano da população e tomou a cidade russa como ponto de partida para chegar ao vilarejo mais frio do mundo.

Segundo ele disse, os residentes de Yakutsk são incríveis, extremamente hospitaleiros e lidam com o frio com belas doses de Russki chai ou chá russo — que é a forma como a população chama a vodka. Aliás, só com muita vodka mesmo para encarar a viagem de dois dias pela pouco convidativa estrada que você pode ver abaixo:

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Aliás, durante o trajeto, o fotógrafo ficou hospedado no pequeno — e isolado — hotelzinho chamado “Café Cuba”, que você pode conferir a seguir. Por certo, enquanto esteve na hospedaria, Chappel sobreviveu à base de sopa de carne de rena e muito chá quente. Veja:

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Mas, se você achou a sopa de rena muito esquisita para o seu paladar, saiba que o fotógrafo comeu coisas ainda mais estranhas durante a viagem a Oymyakon — como sangue de cavalo congelado com macarrão!

Polo do frio

Voltando a Oymyakon, o fato de ser considerado um dos locais mais frios permanentemente habitados no planeta foi oficializado com um marco na província. Erguido durante o regime comunista, ele informa o recorde de 71,2 °C negativos registrados em janeiro de 1924 e que denomina Oymyakon como o “polo do frio”.

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Ironicamente, apesar desse frio todo, a palavra Oymyakon significa “água que não congela”, em referência às fontes subterrâneas de água quente que impedem o congelamento do rio da região e permitem a sobrevivência no local.

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Mesmo assim, a terra está sempre congelada e não é possível cultivar frutas e vegetais para alimentação. A população consome basicamente carnes de rena e de cavalo (principalmente o fígado), além de leite dos animais, rico em nutrientes, que é vendido — como você já deve ter deduzido — congelado.

Peculiaridades abaixo de zero

Com um frio tão extremo, as rotinas e as atividades dos habitantes são bastante diferentes das que nós conhecemos. As principais ocupações servem à providência de alimentos, seja na criação de animais ou na pesca em buracos de gelo — os peixes, aliás, congelam em questão de segundos depois de fisgados e retirados da água.

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A escola não funciona em dias muito frios, isto é, só quando o termômetro cai abaixo dos 52 °C negativos; caso contrário, tem aula sim! Mas os alunos não utilizam canetas esferográficas, já que a tinta congela na região. Em compensação, a escola é um dos poucos lugares que contam com banheiro interno junto à instalação. Em geral, os habitantes utilizam uma casinha externa às residências como banheiro, e é necessária muita disposição para usar o sanitário. Confira:

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Mais curiosidades de arrepiar

O frio impede ainda que as pessoas utilizem óculos na rua, pois a armação gruda em contato com o rosto. O mesmo se dá com metais, que não podem ser manuseados diretamente sem proteção. Baterias têm vida curta e perdem energia rapidamente. Por essa razão, é prática comum dos habitantes nunca desligarem seus carros, com medo de que não consigam ligá-los novamente depois.

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Uma das técnicas para ligar o automóvel consiste em aquecer o reservatório de gasolina, colocando um material em chamas embaixo do tanque — o que não é nem um pouco arriscado! Ainda mais peculiar é a maneira como os moradores cavam as covas para enterrar seus mortos.

Com o chão congelado, a solução é fazer uma fogueira e espalhar as brasas pelos lados para, aos poucos, ir derretendo a camada de gelo e abrindo o espaço necessário para depositar o caixão. Este processo pode consumir até três dias de trabalho, já que o calor das brasas é efêmero para a quantidade de gelo no solo.

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Todo o vilarejo é alimentado por uma estação que queima carvão e madeira para obter energia e manter a água quente nas casas dos moradores. E não há possibilidade de interromper este abastecimento!

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Se porventura a produção parar por falta de carvão ou de madeira, os tubos e encanamentos iriam se congelar e quebrar. Aí sim acabariam as mordomias de viver em Oymyakon.

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Assista ao vídeo abaixo para ver a coleção de imagens capturadas por Amos Chappel:

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