Morrendo em Marte: saiba todos os detalhes antes dessa viagem sem volta

01/06/2015 às 07:575 min de leitura

Diversas notícias têm sido publicadas recentemente sobre a viagem a Marte que será realizada entre 2022 e 2024 – inclusive, uma das principais candidatas à jornada é uma brasileira (como noticiamos aqui). O projeto Mars One pretende enviar pessoas de diferentes nacionalidades ao Planeta Vermelho para iniciar um possível processo de colonização, além de trazer o conceito de reality show.

Apesar de muitas pessoas permanecerem céticas em relação à existência real de tal projeto, o fato é que milhares de pessoas se candidataram às vagas de possíveis astronautas (mesmo que o ticket de retorno do Planeta Vermelho não seja garantido). Contudo, estudos de muitos cientistas já dizem que os voluntários podem morrer antes mesmo de chegar ao destino, como inclusive já falamos aqui também.

Só que existem muitos outros desafios para as pessoas que pretendem viajar ao inóspito local. O ambiente marciano é extremamente diferente do que encontramos na Terra, e estabelecer um habitat em que os seres humanos sejam capazes de sobreviver exigirá enormes quantidades de dinheiro e de recursos tecnológicos. Vamos ver quais são os principais obstáculos que devem ser superados para o sucesso da missão:

A tecnologia para manter os astronautas vivos em Marte não existe hoje

Apesar de estarmos próximos de desenvolver veículos capazes de levar pessoas a Marte, hoje, pelo menos por enquanto, não há tecnologia para mantê-las vivas por lá. E do que adiantaria enviar astronautas ao distante planeta se eles morreriam logo? O problema é que as tecnologias que possibilitam a vida humana em ambientes tão extremos estão longe de serem desenvolvidas por completo, são somente simulações de prováveis cenários.

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Aterrissagem nada simples

Depois de passar meses viajando, finalmente os astronautas chegam à órbita de Marte. O primeiro grande desafio é aterrissar no planeta estranho. O ar em Marte é muito mais fino do que na Terra (aproximadamente 100 vezes menos denso), e, com a atmosfera tão pequena, é muito mais difícil pousar um objeto extremamente pesado sem danos.

Além disso, as naves pesadas adquirem muito mais velocidade durante a aterrissagem – agravando esse empecilho. De acordo com Bret Drake, gerente de missões de exploração da NASA, as técnicas de pouso atuais só permitem que uma tonelada chegue à Marte (número insuficiente para todos os suprimentos que devem ser levados para sustentar a colônia). Testes para naves que consigam levar mais peso já estão sendo realizados.

Enfrentando o frio extremo

Assumindo que tudo foi bem na viagem e a nave aterrissou com sucesso, existe outro problema que deve ser resolvido: o frio. As temperaturas de Marte perto do equador giram em torno de -27 °C. Ao se afastar em direção aos polos esse número cai para -140 °C. Portanto, os astronautas precisarão estar equipados com roupas térmicas extremamente resistentes para enfrentar esse tempo.

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É fato que a NASA já aprendeu bastante sobre regulagem de temperaturas variáveis e intensas com a Estação Espacial Internacional. Quando exposta ao sol, a ISS é capaz de suportar temperaturas que passam dos 100 °C. Contudo, esse tipo de tecnologia só se aplica bem ao vácuo, ambiente em que a ISS está.

Para que esses mesmos controles funcionem em Marte, outros métodos devem ser desenvolvidos. O traje espacial também deve ser totalmente reformulado, capaz de aguentar as mudanças térmicas drásticas que ocorrem na atmosfera do planeta. Resumindo: lidar com as variações térmicas de lá é muito mais complicado do que o puro vácuo do espaço.

Passando fome?

A vida em Marte será um tanto similar à dos cientistas que vivem nas estações de estudo da Antártida. Todo o alimento desses pesquisadore é enviado por outros países, já que não é possível cultivar nenhum tipo de alimento. Como Marte está muito mais distante do que o continente congelado, as cargas com recarregamento de alimentos não chegariam com tanta facilidade.

Se colônias querem sobreviver em Marte, é preciso fazer algo básico: criar um tipo de sustentabilidade no que tange à alimentação. O projeto Mars One pretende cultivar alimentos utilizando estufas e luz artificial com plantações hidropônicas (a suspeita é de que há água no planeta, podendo ser utilizada para regar as plantas), além do dióxido de carbono produzido pela tripulação.

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Mas, de acordo com o MIT, o dióxido de carbono produzido só será suficiente para alimentar metade da tripulação. Quando você está cultivando alimentos necessários para alimentar quatro pessoas por tempo indeterminado, o dióxido de carbono produzido pela tripulação simplesmente não é o suficiente para manter as plantas vivas – garante Sydney Do, um engenheiro espacial.

Ao adicionar mais pessoas à viagem, também não encontraríamos a solução, já que precisaríamos de maiores quantidades de alimento. Menos plantas poderiam ser cultivadas, porém os tripulantes sofreriam com a carência de importantes recursos naturais. A possível solução é o desenvolvimento de tecnologias que introduzam quantidades extras de gás carbônico, provindos da própria atmosfera de Marte. Mas infelizmente esse tipo de inovação está nos primeiros passos de desenvolvimento e deve demorar muito a se concretizar.

Você pode sufocar ou até explodir

As plantas criadas em Marte não serviriam somente para alimentar os astronautas, mas também para renovar o oxigênio da colônia – uma alternativa muito mais inteligente do que mandar tanques de oxigênio daqui da Terra. Supostamente, plantas podem crescer em terreno marciano, mas não sabemos como elas se comportarão com a gravidade do planeta. Testes mais precisos precisam ser feitos para descobrir se a vegetação sobrevirá de fato.

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O excesso de oxigênio não é algo positivo, já que em ambientes fechados ele pode gerar problemas sérios, como explosões involuntárias e até mesmo intoxicação por parte da tripulação. Por isso, determinadas quantidades de O² precisarão ser expelidas do habitat artificial. Para fazer isso, os astronautas precisarão dispor de máquinas que sejam capazes de separar o oxigênio dos outros gases. Isso já existe, porém jamais testamos o comportamento de tais mecânicas em um ambiente marciano.

Recentemente, a NASA propôs a Ecopoiesis em Marte. Esse termo traduz o processo de criação artificial de um ecossistema capaz de sustentar vida. Por exemplo, determinadas cianobactérias poderiam ser levadas da Terra a Marte, podendo se alimentar do terreno rochoso marciano para produzir oxigênio. Contudo, existem muitos pontos que precisam ser analisados em tal projeto, já que não sabemos as quantidades de dióxido de carbono que esses organismos precisariam para se reproduzir e sobreviver.  

A gente pode nem chegar até lá

Todos esses cenários listados só se tornam possíveis se nós realmente chegarmos ao distante Planeta Vermelho. A questão é que talvez os astronautas nem sobrevivam até chegar lá. Supondo que a nave funcione sem apresentar nenhum tipo de problema técnico que ponha os tripulantes em risco, há um quesito que simplesmente não pode ser evitado na imensidão do espaço: a radiação.

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Para além da órbita da Terra que nós conhecemos, o espaço está repleto de raios radioativos que percorrem distâncias impressionantes e que são altamente energizados. Essas radiações ultrapassam as paredes da nave sem dificuldade e podem acarretar sérios problemas de saúde aos tripulantes. Por exemplo, estudos feitos com ratos que foram expostos a radiações mostram mudanças significativas no cérebro, eliminado diversas sinapses importantes que acarretavam em menos curiosidade e mais confusão com os sentidos.

Além disso, é claro, há a maior possibilidade de se desenvolver câncer (e muito mais rapidamente). Por exemplo, todos os astronautas da ISS são monitorados pela NASA durante a carreira. Eles não devem passar de 3% do risco de desenvolver risco de câncer devido à radiação espacial. Mas, como esses astronautas estão próximos do vasto campo magnético da Terra, os efeitos da radiação não são tão drásticos. Contudo, no meio do espaço não há nada para bloquear ou minimizar as radiações que chegam até você. Resultado: provavelmente todos chegariam a Marte já com certo grau de câncer.

Realmente é possível?

Agora que você já sabe todas as dificuldades tecnológicas, físicas e sustentáveis que devem ser enfrentadas para uma viagem interplanetária ser um sucesso, é um tanto difícil acreditar que tal missão possa um dia dar certo. A NASA sabe disso também e está estudando meios de tornar esse sonho plausível. Por exemplo, recentemente um novo concurso foi aberto pela agência espacial para receber ideias de apoio do público em geral (o Journey to Mars Challenge).

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Nesse concurso, os participantes devem sugerir opções de abrigo inteligente, de alimentação sustentável, de comunicação, de exercícios em ambientes fechados, de interações sociais, entre outros quesitos que tragam conceitos inovadores e que possam ser utilizados pela NASA. O que sabemos é que existem dezenas de obstáculos que devem ser enfrentados e problemas resolvidos para que viagens desse porte sejam consideradas.

Se o Projeto Mars One realmente vai ocorrer, nós não sabemos dizer. Ele é ambicioso e extremamente arriscado. Contudo, é certo que, com os recursos tecnológicos de hoje, viajar a Marte com sucesso é algo quase impossível. Sem falar nos gastos, que envolvem bilhões e o apoio mútuo de diferentes países. Seja como for, há de chegar o dia em que os seres humanos pisem pela primeira vez em solo marciano e então comecem mais um processo de colonização. Só esperamos que esses afortunados cuidem melhor do Planeta Vermelho do que nós mesmos cuidamos da Terra.  

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